Rolando Tavares: o amante dos cachimbos

Texto: José Garrancho | Foto: D.R.


Rolando Rosa Tavares nasceu em Portimão, no dia 13 de setembro de 1942, e faleceu na mesma cidade, a 10 de setembro de 1985, três dias antes de completar o seu 43º aniversário. Deixou viúva Manuela Boneca Tavares e quatro filhos de tenra idade, João, Pedro, Paulo e Nuno.

Foi comerciante, professor, amador de teatro e um dos grandes benfiquistas da cidade, mas o que o tornou conhecido e famoso foi a sua enorme paixão pelos cachimbos, que se iniciou em Coimbra, por volta dos 19 anos.

Rolando Tavares não era um mero fumador de cachimbos, mas um apaixonado pela temática, por tudo o que tivesse a ver com o objeto, e um grande colecionador. No seu espólio, que a família conserva religiosamente no seu escritório, há mais de 250 exemplares, alguns deles únicos. E, curiosamente, fumou com todos eles, embora uns fossem mais usados e outros apenas tivessem sido queimados.

Mas também colecionava pacotes e caixas de tabaco, das mais diversas origens, fotos de fumadores famosos, selos e postais ilustrados em que aparecesse um cachimbo, estatuetas com o dito objeto, livros estrangeiros sobre o tema, que lia, traduzia e tirava notas. Era um regalo, para muitos, vê-lo, de lupa na mão, tentando descobrir um cachimbo num selo, ou num postal ilustrado.

“Ele acabava de jantar, sentava-se à secretária, punha música clássica e começava a escrever, pois andava a traduzir um livro francês sobre cachimbos”, confidencia ao Portimão Jornal a viúva de Rolando Tavares. “Quando íamos a Lisboa, visitávamos uma casa de colecionadores de filatelia, na zona do Chiado, onde levava horas a pesquisar os selos”.

Cachimbo Clube de Portugal nasceu em Portimão

Rolando Tavares cumpriu um sonho, a 31 de janeiro de 1984: criou um clube de cachimbos, a exemplo do que existia noutros países europeus.

Tarefa difícil, por duas razões: a escassez de fumadores de cachimbo em Portugal e a pouca disposição dos portugueses para o associativismo. No entanto, a sua tenacidade conseguiu juntar 12 fumadores, em Portimão e Lisboa, entre os quais o mais famoso em Portugal, o doutor Artur Varatojo, que foi o primeiro presidente da Assembleia Geral. Rolando Tavares, sócio nº1, foi o primeiro presidente da Direção.

Diga-se, em abono da verdade, que 12 era o número mínimo indispensável para fundar o clube: cinco para a Direção, quatro para a Assembleia Geral e três para o Conselho Fiscal. A sede era em Portimão, com uma Delegação na capital, o que deixava os lisboetas pouco satisfeitos. De tal modo que, após o seu falecimento, forçaram a transferência da sede para Lisboa.

O Cachimbo Clube de Portugal ainda existe, após 40 anos, possui cerca de 100 associados, com um núcleo duro de 50, e sede em Massamá, Lisboa.

Há cerca de 25 anos que os sócios se reúnem para jantar, na primeira quinta-feira de cada mês, sempre no mesmo restaurante. O CCP edita uma revista trimestral, apoia os artesãos que fornecem o Clube com novos cachimbos e reparam os usados, organiza ‘fumadas lentas’ nacionais, todos os anos, e participa em competições internacionais.

No dia 26 de outubro, uma equipa de quatro fumadores representará Portugal no Campeonato Mundial em Poznan, na Polónia.
O esforço e a teimosia de Rolando Tavares, quando poucos acreditavam no projeto, acabou por frutificar, com o esforço e a boa vontade de muitos outros que lhe deram continuidade.

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