Rua do Comércio de Portimão ‘renasce’ para degustar sabores de topo

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Há muitos anos que a ‘Rua das Lojas’, em pleno centro de Portimão, não recebia tantas pessoas em noites de Verão. Apesar das iniciativas de outros anos, a festa da gastronomia ‘Arrebita’, entre 21 e 23 de agosto, colocou milhares de pessoas a circular pelas ruas do Comércio e Vasco da Gama.

Os ingredientes do sucesso foram os cheiros, as cores e os sabores das refeições ‘street food’ confecionadas ao vivo e em locais inusitados por chefs nacionais. Os mais curiosos deixaram-se levar pelo conceito diferente e foram encontrar tachos e panelas em ourivesarias, sapatarias e até barbeiros.

E se tão depressa numa banca se encontrava um hambúrguer requintado, noutra havia uma versão de xerém com bivalves da Ria Formosa, a lembrar a tradição. Até houve espaço para uma bifana renascer, não com a típica carne de porco, mas com uma sardinha albardada. Ou um mil folhas a surpreender com o sabor ‘salgado’ do caramelo. Houve de tudo para todos os palatos, num verdadeiro ‘remix’ de inovação. Após as longas filas na Praça da Alameda, com a máscara posta e as mãos desinfetadas foi permitida uma experiência que elevou os cinco sentidos.

Tudo em nome do verbo ‘arrebitar’ que, nos dias que correm toma proporções gigantes. É verdade que nem todos os empresários conseguiram aumentar as vendas e que o foco maior esteve no ambiente da ‘street food’, mas a sintonia entre lojistas e chefs, nos três dias, foi evidente.

Na verdade, o mais importante, a longo prazo, foi mostrar que há muito para descobrir na resistente e velhinha ‘Rua das Lojas’. E quem sabe? Talvez muitos dos que lá foram nestes dias, voltem para ver com mais atenção um comércio local que persiste à passagem dos anos…

Se faz favor?! Uma ‘bifaina’ e uma raspadinha
Partindo à descoberta de uma nova experiência, é preciso seguir um percurso pré-definido para garantir o distanciamento social imposto pela nova realidade que a covid-19 provocou. Na Rua do Comércio, a Casa Valverde, entre jornais, tabaco e jogos da sorte, propõe a criação de Emídio Freire, chef do restaurante ‘Faina’. É um dos cozinheiros locais que participa na festa.

Ao fundo, ao balcão, vendem-se os produtos com a normalidade habitual e sem atrapalhações. “Olhe que se calhar sai daqui com jantar e rica’, brinca Nuno Carneiro, depois de vender uma raspadinha à cliente.

Como ‘amigo não empata amigo’, à entrada Emídio Freire apresenta uma nova sugestão, a ‘Bifaina’, num trocadilho entre o nome do seu restaurante e a tradicional bifana. Na verdade, de tradicional não tem nada, pois o recheio do típico papo-seco é uma sardinha albardada, com uma maionese de coentros e lima, uma salada de pimentos no topo, numa combinação dos sabores locais, descreve. A sua participação é maior, pois o ‘Faina’ serviu de quartel-general para a preparação dos ingredientes a alguns chefs do evento.

No mesmo dia, na loja ‘Flor Tropical’, estreava-se nestas andanças João Marreiros, do restaurante ‘Loki’, situado também na cidade. É um espaço que abriu algum tempo antes da pandemia e que se distingue pela reinvenção.

Para o ‘Arrebita’ criou um prato de inhame crocante, javali fumado, pickle de pepino e funcho selvagem, a par de umas ‘papas de milho’ crocantes, salicórnia, funcho marinho e carapau fumado em esteva. Faz questão de elaborar o prato com o maior cuidado, enquanto descreve os ingredientes que usa. “Só trabalho com produtos de até 100 quilómetros desta zona e é tudo feito de raiz”, revela à Algarve Vivo. Alguns dos ingredientes até é ele que os colhe.

Do alto da Serra para Portimão
Mateus Freire atravessou mais de 500 quilómetros rumo a sul. É da Covilhã e calhou-lhe a sapataria ‘Bruna’, uma das lojas que resiste há vários anos nesta artéria. Ao fundo Suzete Ricardo, funcionária do estabelecimento, vai arrumando e compondo os pares de sapatos. Não vendeu nada naquele dia, mas considera que é um evento bom para dinamizar o centro. Já Mateus Freire mexe o conteúdo da panela. Daí a pouco tomará forma um xerém de ameijoas com cachaço de porco bísaro. Enquanto mexe e remexe, até chegar ao ponto ideal, explica que já tinha participado em eventos, como feiras, mas nada como este conceito. “A iniciativa é muito boa e estou a gostar muito. Há uma interação interessante entre lojista e chef”, conta. Não conhecia Portimão, só a Praia da Rocha, onde já esteve de passagem em férias, mas percebe que “esta é uma rua histórica na cidade”, defendendo que “é bom ter este movimento para não perder estas lojas para os grandes centros, para as grandes marcas”.

O prego de choco de Sá Pessoa
As bancas até estiveram cheias na sexta-feira e no sábado, mas no domingo, as atenções viraram-se para um participante de renome. Foi um prego de choco frito com maionese de coentros e lima que levou à formação de filas ao longo de toda a rua do Comércio. Bem, na verdade, não foi bem o prego, mas o autor da receita, pois todos quiseram experimentar um prato criado pelo chef Henrique Sá Pessoa, cabeça de cartaz do evento. Foram muitos os pedidos para tirar fotos e para dar autógrafos, tantos que o chef responsável pelo ‘Alma’ em Lisboa, teve de desdobrar-se a atender todas as solicitações.

À Algarve Vivo admitiu que o ambiente ainda é um pouco estranho “por causa das máscaras e dos cuidados”, mas é importante “dar um sinal de que a vida tem de continuar e que estas atividades são necessárias, não só para as economias locais, como para o calendário gastronómico do país”.

A covid-19 colocou o setor da restauração a lutar pela sobrevivência e necessita de um incentivo na retoma. “Eu apoiei o evento desde o início, porque acho que é essencial, ainda mais sendo o Algarve uma zona muito afetada pela pandemia”, revela.

“É importante termos noção de que a covid é uma pandemia, mas também é importante a retoma da economia, porque senão o país não aguenta. O que alavancou o país nos últimos anos, sobretudo o Algarve, foi o turismo, por isso é bom ter estas atividades que incentivem não só o turismo, mas também a economia local”, argumenta Henrique Sá Pessoa. Apesar deste não ser o tipo de comida que confeciona no dia a dia, considera fundamental manter proximidade com o público, neste caso na maioria portugueses, e dar um sinal de que está em Portimão para apoiar a economia e o país.

Um tiro na ‘mouche’
Ana Músico e Paulo Barata são os rostos da Amuse Bouche, que organizou em parceria com a Câmara Municipal, o ‘Arrebita Portimão’. A cidade algarvia foi o primeiro cenário escolhido para o festival que seguirá rumo a Idanha-a-Nova, no centro. “Foram razões sentimentais que nos levaram a escolher Portimão, porque a Ana é de Monchique e eu cresci cá. Então, porque não começar em casa?”, confidencia Paulo Barata.

A experiência da Câmara Municipal na organização de grandes eventos foi outro ponto a favor. “Foram inexcedíveis em todo o apoio que deram. Estamos a fazer isto em três semanas, em vez de em três meses”, sublinha, ao mesmo tempo que enaltece a confiança da presidente no projeto. Foi um tiro certeiro, pois o evento excedeu as expetativas de todos os envolvidos.

“Alguns chefs deixaram os seus restaurantes, num momento tão crítico como este, para estar aqui”, destaca por sua vez Ana Músico, após três dias intensos, que implicaram uma logística enorme.

Não descartam a ideia de o evento crescer. Basta a vontade e, sobretudo, a criatividade. É algo a que estão habituados. “Nós organizamos o Sangue na Guelra, um dos maiores eventos europeus de gastronomia, o ‘Lisboa Food Fest’ com a Câmara Municipal de Lisboa, o ‘Alentejo Food & Soul’, no Convento das Maltesas, em Estremoz, ou até o ‘Ritz Secret Room’, um jantar superexclusivo no Ritz, em Lisboa, preparado por chefs três estrelas Michelin”, enumeram. Em tempo de pandemia adaptaram-se e promoveram, por exemplo, um ‘streaming’ mundial de gastronomia com todos os grandes players como cozinheiros e jornalistas para debater a sobrevivência do setor.

O primeiro grande ‘teste’ pós-confinamento

O último grande evento em Portimão talvez tenha sido a passagem de ano. Após um longo confinamento, muitas medidas, restrições e cuidados redobrados, o ‘Arrebita Portimão’ marcou uma nova etapa. “Até tem um nome adequado, pois convida a arrebitar sem deixar de cumprir as normas da Direção-Geral da Saúde. Este é um momento histórico, porque proporcionou sensações novas, através de uma experiência gastronómica diferente. Foram mais de 30 chefs em três dias, com uma comida completamente diferente daquela a que estamos habituados, mas com muito nível e a um preço acessível”, enalteceu Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal, à Algarve Vivo.

Uma ‘liberdade’ que há muito a população não respirava e que deu a conhecer um centro comercial a ‘céu aberto’, num processo onde os lojistas foram essenciais, resume a autarca. “Nunca esperei ver tantas pessoas logo no primeiro dia e a verdade é que estão todos a respeitar as regras, com muita tranquilidade e calma. E este é um acontecimento a repetir e já falámos com a Amuse Bouche para, no próximo ano, organizar algo ainda com mais dinâmica, alargando a outras ruas e pontos da cidade”, admite Isilda Gomes.

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