Rui Ferreira cultiva ‘Happy Oysters’ na Ria de Alvor
Texto e fotos: José Garrancho
O Vale da Lama, na Ria de Alvor, é um dos poucos locais, em Portugal, com condições excelentes para a cultura das ostras, formando uma pequena lagoa livre de poluição. E a sua pequena área limita o número de produtores, que são apenas quatro, tornando mais apetecível para o público o sabor específico dos seus moluscos.
Rui Ferreira é viveirista há 27 anos. Iniciou a sua atividade com as amêijoas, mas, há 23, decidiu mudar para as ostras e, a partir daí, tem vindo a desenvolver a atividade com sucesso, colocando uma média anual de 200 toneladas no mercado, principalmente em França, grande país consumidor.
A cultura é feita em sobre-elevação, com ‘sementes’ de cerca de seis milímetros, provenientes de maternidades e fornecidas em sacos metálicos em rede com mil unidades, que ocupam meio metro quadrado de área, a serem fixadas, na baixa-mar, a placas de arame. É também nesta maré que os sacos são virados e sacudidos, de três em três semanas, para que os bivalves não se colem. O resto do tempo, ficam submersas, alimentando-se com o plâncton existente na água do mar que as cobrem.
As perdas rondam os 60 por cento, sendo o verão a época mais crítica, devido às elevadas temperaturas.
“Em cerca de três meses, já chegam aos 18 milímetros, tendo passado pela fase mais difícil do desenvolvimento, quando se registam as maiores perdas. A partir daí, tornam-se mais resistentes e criam habituação às condições da zona e, se não houver uma situação anormal, a mortalidade será pequena”, explica Rui Ferreira ao Portimão Jornal.
Com um tempo médio de dois anos e meio para atingir o tamanho adulto, as ostras são recolhidas de quatro em quatro meses, passam pela calibração e vão de volta para os sacos, reduzindo sempre o seu número em cada um deles, para que o crescimento se processe de forma adequada.
Quando atingem o tamanho definido para a comercialização, a partir dos 65 gramas, passam pela máquina calibradora, que as divide pelo método de pesagem, regressando ao viveiro as que ainda não atingiram o peso ideal.
“No verão, estamos mais parados. Não usamos estas máquinas, porque o marisco está ovado, há muito calor e as ostras estão mais sensíveis. As máquinas são um pouco agressivas e temos de estar atentos, ver se elas estão muito ou pouco ovadas. Estas desovaram há cerca de um mês, já houve tempo para recuperarem e, por isso, estamos a dar-lhes uma ‘coça’”, acrescenta o empresário.
Há, por isso, a preocupação em manter o produto o menos tempo possível fora de água. “Felizmente, a evolução está a correr bem”, refere.
As ostras, como todos os moluscos bivalves, são animais filtradores, que se alimentam das algas em suspensão e, por isso, purificam a água. Por essa razão, são submetidos a depuração, uma operação que visa eliminar possíveis minerais pesados ou outros poluentes que tenham ficado retidos no seu corpo.
No entanto, como este viveiro se encontra numa zona tipo A, sem poluição, não é necessário proceder à depuração das ostras, o que as torna tão apetitosas e com sabor a mar. São lavadas à pressão com água da Ria, para retirar a lama, e estão prontas para embalar.
A ‘Oyster Select’ é a empresa-mãe, proprietária dos viveiros, que tem na atualidade uma área de 45 mil metros quadrados e que exporta a maior fatia da sua produção para França, “onde ficam todas as mais-valias”, diz o produtor. “Por isso, decidi valorizar o produto e promovê-lo mais eficazmente no mercado local. Assim nasceu a ‘Oyster Experience’, da empresa ‘Ferreira e Muxexo’, uma parceria com o meu filho, que tem por objetivo comercializar o produto de forma direta com a restauração e a realização de eventos, levando-o até ao consumidor final. Está a correr bastante bem e, para o ano, vamos aumentar um bocadinho, comprar mais um carro e alargar a volta, com mais uns quantos clientes. As ostras estão na moda e temos de aproveitar a onda”, foi confidenciando Rui Ferreira ao Portimão Jornal.
No futuro, espera criar condições para comercializar das suas ‘happy oysters’ num espaço de venda ao público, na zona do viveiro.