Susana Miguel é a única algarvia juíza internacional de rítmica

Texto: Hélio Nascimento | Foto principal: Portimão Jornal


Susana Miguel começou a fazer ginástica aos cinco anos, chegou a competir em provas mundiais, passou depois a treinadora e tirou recentemente o curso de juíza internacional de rítmica. Trata-se de uma conquista de relevo, não só pelo significado do diploma em si como, também, por ser a única algarvia com este estatuto. “Foi um grande feito e uma oportunidade muito boa que consegui aproveitar. Era um objetivo que perseguia e nem esperava que fosse já, inclusive quando me inscrevi, mas entrei nas listas e correu tudo bem. Fiquei bastante orgulhosa”.

A jovem portimonense, de 29 anos, natural da Mexilhoeira Grande, era juíza nacional, categoria 2, e, embora se pudesse inscrever, o curso não se afigurava nada fácil. Através da Federação Portuguesa de Ginástica e com o ‘sim’ da Federação Internacional (FIG), rumou à Eslovénia e teve uma semana intensa, com aulas teóricas e práticas. “Tivemos um dia de teoria, outro com simulação de exame, mais um dia inteiro de exame, tanto na parte individual como na de conjunto”.

Entre 150 candidatas, incluindo mais oito portuguesas, passou com distinção. “É a primeira vez que uma algarvia participa e obtém o curso internacional”, vinca a também treinadora da ginástica rítmica do Clube de Instrução e Recreio Mexilhoeirense (CIRM), irradiando natural felicidade. Para além de poder agora pontuar provas internacionais, permite que o seu clube de sempre fique isento de pagar a obrigatória taxa quando não apresenta uma juíza em torneios.

Susana Miguel está, portanto, apta a marcar presença nos grandes eventos de ginástica rítmica na qualidade de juíza, sejam Europeus, Mundiais ou Jogos Olímpicos. “Possuo agora a categoria 3 internacional – tive excelente em quase todos os itens do curso – e quero continuar a subir, até porque, mesmo nas provas nacionais, vou pontuar exercícios de maior dificuldade, o que é bom e mais do que aquilo que fazia”.
 
A segunda atleta a inscrever-se
Susana pratica ginástica “quase desde sempre”. Quando o CIRM iniciou as aulas de rítmica tinha cinco anos e foi a segunda atleta a inscrever-se, iniciando assim uma paixão que foi crescendo cada vez mais.

Na altura da universidade seguiu artes, curso para o qual “estava também inclinada”, mas o desporto permaneceu como a outra prioridade no seu dia a dia, e não tardou, aliás, a tirar o curso de treinadora de rítmica. Licenciou-se e fez mestrado em artes, conciliando as duas áreas, porque, como sublinha, “adorava igualmente a ginástica”.

“Sou designer, tirei artes plásticas e multimédia e trabalho numa empresa, como freelancer, em ilustração, vídeo e fotografia, assumindo parte da comunicação”. Neste contexto, colabora com a Câmara Municipal de Portimão, nomeadamente nas Taças do Mundo, e também com o município de Vila do Bispo e agora com a Proteção Civil.

Como atleta teve participações na Taça do Mundo, em grupo, naquilo que considera um momento muito alto na sua carreira, sobretudo porque representou o CIRM e ajudou a dar mais visibilidade à coletividade. Na altura, já tinha um enorme prazer em ver miúdas a competir. “Gosto disto e quero ensinar, disse para mim própria, daí ter tirado o curso de treinadora”, corria então o ano de 2015. Quatro anos volvidos e novo exame, desta feita para se tornar juíza.

Sendo treinadora e juíza nos dias que correm, qual será a preferência de Susana? “É uma pergunta difícil. Gosto muito de ser treinadora, mas também gosto de pontuar, de ser justa e isenta, independente do clube”, garante ao Portimão Jornal, aproveitando a ocasião para sublinhar a sua dedicação ao emblema da Mexilhoeira Grande, que sempre representou e que considera “a minha segunda família”.

CIRM é a principal referência na região
Em Portugal devem ser cerca de vinte as juízas internacionais em atividade, numa modalidade em notório crescimento, nomeadamente no Algarve. “Para além do CIRM e da Associação de Ginástica Rítmica de Portimão (AGRP) temos agora mais clubes, como o Alvoreiros aqui no concelho, em Lagoa a Che Lagoense e na Guia um outro”. Os mais antigos, porém, são o CIRM e a AGRP, com destaque para a dedicação e empenho da professora Ana Jorge, na Mexilhoeira. “Tem feito um excelente trabalho e ensinou-me imenso”, reconhece Susana.

Diretora técnica da rítmica do Algarve e elemento da Associação de Ginástica da região, a treinadora tem a seu cargo a classe de competição do CIRM e uma outra muito especial, a ‘baby gym’, que é um novo projeto para crianças com dois e três anos. A idade dos atletas vai até aos 17/18 anos, existindo ainda uma classe para meninos com deficiência, da CRACEP. “Houve uma paragem, por causa da pandemia, mas retomámos a atividade, também com pessoas mais velhas, o que é muito bom e engraçado para todos. Trabalhamos o individual e os conjuntos, mesmo para competir”.

O CIRM conta de momento com 120 atletas e há lista de espera. São dez as professoras, incluindo a de ballet, nutricionista, fisioterapeuta e psicóloga. A competição está a cargo de Susana, Hanna e Ana Jorge, com aulas às terças e quintas feiras no pavilhão dos Bombeiros Voluntários de Portimão, uma medida que ‘aliviou’ o fluxo de treinos que decorrem diariamente na Mexilhoeira, onde metade das ginastas praticava na sede e tinha depois de transitar para a Escola José Sobral.

“Desde o ano passado que conseguimos evoluir nas instalações dos Bombeiros. Montamos o tapete e temos espaço, apesar de a altura do teto não ser a ideal”. Com competição e representação nem sempre há capacidade para albergar toda a gente nem refinar o exigente trabalho de treinos, até porque algumas ginastas já estão num patamar elevado. “As mais velhas vão brevemente ao Nacional da 2.ª Divisão e temos duas em ação na I Divisão, para além de imensas pequeninas com qualidade que estamos a puxar por elas”, assinala esta responsável, orgulhosa do CIRM ser nesta especialidade a “principal referência no Algarve”.
 
Um pavilhão próprio e os Jogos Olímpicos
Os sonhos de Susana não têm limites, derrubando dificuldades e vicissitudes próprias do meio em que vivemos. “O grande desejo do clube é ter um espaço nosso e dispor de um pavilhão com altura suficiente para que os aparelhos não fiquem presos”. Na rítmica, note-se, certos exercícios implicam o lançamento de objetos a alturas elevadas, pelo que é necessário um teto com dimensão adequada. “A qualidade das ginastas também ficará a ganhar”, adianta a treinadora, referindo que por cá só o Portimão Arena tem essa altura.

“Não é fácil, mas é um sonho”, atira, com um sorriso de confiança, a mesma com que encara os seus sonhos de caráter mais pessoal. “Em termos individuais quero crescer, quero tirar mais cursos, pontuar provas internacionais, e, quem sabe, ir a uns Jogos Olímpicos, mesmo que daqui a muitos anos. E quero continuar na ginástica, sempre”.

As últimas palavras de Susana vão para a comunidade da Mexilhoeira Grande, que tem sido incansável na relação com o clube. “As pessoas reagem muito bem e tem sido gratificante constatar o apoio que nos é dado. Temos crescido bastante, há muitas alunas de Portimão, e, por tabela, as outras modalidades também são beneficiadas, inclusive as atividades culturais. A população quer ingressar e colaborar no projeto, até porque, não tenho dúvidas, o CIRM tem ajudado a freguesia a crescer”.

Fundado a 30 de janeiro de 1950, o Clube de Instrução e Recreio Mexilhoeirense completou já este ano os seus 75 anos de vida, um marco importante que Susana Miguel fez questão de salientar, juntando a esta data uma outra igualmente deveras significativa. “Faz agora 25 anos que começou a ginástica rítmica no CIRM. A Ana Jorge está cá desde o início e é incrível. Este é mesmo um ano rico para o clube, porque são 75 anos de existência e 25 de ginástica”. Para comemorar devidamente a ocasião, está prevista uma grandiosa Gala no TEMPO, o Teatro Municipal de Portimão, no dia 6 de dezembro. Já em tempo de despedida, e revendo algumas bonitas imagens de Taças do Mundo realizadas na cidade, saltou à vista um registo mais recente e que deixou – e ainda deixa – Susana nas nuvens: o encontro com a russa Evgenika Kanaeva, bicampeã olímpica de ginástica rítmica em Pequim’2008 e Londres’2012. “Era uma das minhas ginastas preferidas e estivemos juntas no Curso Internacional de Juízes na Eslovénia”.

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