Ténis e padel estão a cativar cada vez mais os portimonenses
Texto: Hélio Nascimento
Já não há como negar: o padel veio para ficar e tem contribuído, nos últimos anos, para o crescimento do agora denominado Clube de Ténis e Padel de Portimão, uma expansão traduzida no número de novos praticantes, a esmagadora maioria oriunda do ténis, que obrigaram a coletividade a reformular o complexo e a pensar em mais e melhores estruturas, algumas delas para concluir até ao final do ano. A história, porém, remonta a 1950, data do primeiro registo do então chamado Clube de Ténis da Praia da Rocha, cujos campos, de terra batida, situavam-se no local onde hoje funciona o Hotel Oriental.
“Um dos fundadores foi Américo Telo, que presidiu durante muitos anos, até o meu pai assumir a direção”, conta Plínio Jorge, o diretor-técnico que também é secretário-geral, atleta e professor de Educação Física. “Em 1985 foram inauguradas as atuais instalações, com a transferência também da sede e a criação de uma pequena escola de ténis, sob a direção de um professor contratado pela Câmara. Havia três campos e um bate-bolas”. Na altura, Plínio Jorge completava o curso do ISEF, em Lisboa, e, de volta a Portimão, foi convidado pela autarquia para trabalhar na área do desporto, como responsável pela piscina municipal e pelo ténis. “Já jogava ténis e estava ligado ao clube como atleta”, explica. Corria o ano de 1991 e a modalidade crescera bastante, evolução ainda mais notória quando, em 1999, a escola de ténis passa a ser responsabilidade do clube, na altura com o nome de Clube de Ténis de Portimão e Rocha.
O complexo ficou então a dispor de mais quatro campos, sete no total, e a gestão, que era partilhada com a Câmara, passou para o clube. “Temos uma autonomia quase total. Exploramos o espaço e somos os responsáveis, com o apoio camarário e o controlo de que a nossa missão é em prol do interesse público”, explica Plínio Jorge, acompanhado pelo pai, Plínio João, e pelo presidente da Assembleia Geral, João Carlos, os anfitriões da reportagem.
Crescimento sustentado… e eis que surge o padel
Os últimos 20 anos foram sempre a crescer, muito devido à escola de ténis. “Somos referência a nível nacional na formação de base e temos vários miúdos campeões nacionais. Lideramos a formação no Algarve”, sustenta o diretor-técnico, dando então conta do surgimento do padel, que, por sinal, até começou por brincadeira, há cerca de seis anos, quando foram construídos dois campos, com a preciosa ajuda de João Carlos, o líder da AG. “Não tínhamos meios e a Câmara atravessava uma crise, mas o João Carlos, enquanto sócio do clube, foi decisivo para dar asas a essa nossa ambição”. Hoje, a coletividade comporta cinco campos de ténis e seis de padel e as instalações dispõem de um edifício novo, com sede, balneários, sala de estar, receção e demais infraestruturas, suficientes para organizar provas internacionais. Contíguo ao clube, o ‘Restaurante O Ténis’ paga uma renda e explora o espaço, contribuindo para a valorização e crescimento da zona envolvente.
“Toda a gente adora o padel”, garante Plínio Jorge, justificando o forte incremento da modalidade e até a passagem do nome da coletividade para Clube de Ténis e Padel de Portimão. “O padel é fácil de aprender e requer menos exigência física e técnica do que o ténis. Temos mais de 350 sócios, triplicámos o número nestes últimos anos, e muitos deles aderiram para praticar padel. Oferecer este serviço para os adultos foi o nosso foco, enquanto os miúdos, que são cada vez mais – o espaço é que já é pouco – continuam a escolher o ténis”, prossegue o também professor. O clube tem uma escola para os petizes, dos cinco e seis anos aos 18, e depois uma escola para adultos. O sócio tem naturais vantagens e pode praticar as duas modalidades.
Em termos de competição, o destaque vai para os jovens do ténis, que ostentam títulos de campeões por equipas nos escalões de sub-12, sub-14 e sub-16, e com Jessica Para a treinar com a federação, de olho nos compromissos das nossas seleções. Os gémeos Ricardo e Miguel Marreiros tiveram igualmente um percurso brilhante, que os levou aos Estados Unidos com uma bolsa desportiva. E no padel? “Os melhores são os adultos, alguns deles veteranos, que estiveram ligados ao ténis e que foram cativados pela modalidade. Eu joguei sempre ténis, tive bons resultados em veteranos, mas há seis anos enveredei pelo padel, que se tornou um bom vício, e já representei Portugal no Mundial e no Europeu de veteranos”, explica Plínio Jorge, de 55 anos. Já o clube ganhou dois títulos nacionais, em M3 e M4 (categorias definidas consoante o ranking dos atletas), para além de outros pódios como vice-campeão.
Desporto de raquete e jogado a pares
Os leitores menos identificados com esta ainda recente modalidade estarão certamente a perguntar ‘o que é o padel’? Pois bem, trata-se de um desporto de raquete, jogado a pares e utilizando raquetes e bolas próprias, num campo retangular, totalmente fechado, com dez metros de largura por 20 de comprimento e uma rede no meio. Nos topos e em parte das laterais apresenta uma superfície em vidro ou em alvenaria e a superfície do campo pode ser em relva sintética, alcatifa ou betão poroso, sendo que as duas primeiras são as mais habituais. Em Portugal, segundo dados da federação, estima-se que existam para cima de 90 mil praticantes e sete mil jogadores federados.
E é para jogar padel, e também ténis, que os campos do clube, entre as 18 e as 23 horas, estão ocupados praticamente a 100 por cento. “O nosso trabalho é destinado à população. Quem nos procura são pessoas da cidade, fascinadas por um ambiente sem paralelo”, salienta Plínio Jorge, referindo-se ao polo desportivo que abrange esta zona e que comporta o Portimão Estádio e o Pavilhão. “É uma área incrível que poucas cidades têm e com uma panorâmica fantástica. E situa-se mesmo no coração de Portimão”, enfatiza.
As receitas da coletividade baseiam-se na gestão dos recursos, nomeadamente as quotas de sócios, as escolas, aulas individuais, alugueres de campos e eventos, alguns internacionais. Para este ano estavam programados um torneio de 15 mil dólares de prémios em fevereiro, outro em junho (para sub-14, reagendado para agosto) e outro em outubro, para sub-18. A pandemia restringiu alguns dos objetivos, inclusive porque o clube fechou em 10 de março (“zero euros desde então”), entrou em lay off em abril e reabriu em 4 de maio, mas só com atividades nos campos exteriores. Desde junho voltou à normalidade possível, cumprindo as regras de segurança que são do conhecimento geral.
Mais campos prontos até ao final do ano
Acompanhar a evolução e o crescimento do clube obriga a novos projetos, algo que os responsáveis não só têm em mente como pretendem levá-los a cabo até ao final do ano. “Apresentámos já à Câmara, em reunião, um projeto de ampliação do complexo. Queremos crescer em termos de espaço e queremos mais campos. E vamos avançar já”, garante Plínio Jorge, dando conta da cobertura para dois campos de ténis e de mais campos de padel. “Dentro do complexo podemos mexer à vontade, efetuando algumas reformulações. Temos um campo amovível, vamos fechar uma zona e fazer mais campos. Até final de 2020, teremos oito de padel, cinco deles cobertos, e cinco de ténis, sendo dois cobertos”, explica o diretor, piscando também o olho ao alargamento, aproveitando a contígua zona dos viveiros, o que requer o ‘sim’ da Câmara. “Já temos recorrido aos campos do Alvor e da Penina, quando precisamos de mais espaço para eventos. E este projeto não é de futuro, é para já!”, atira.
O futuro está, portanto, à mão de semear. “Elitistas? Não! Sempre lutei contra isso. As mensalidades de 50 euros por ano são acessíveis, o clube não tem fins lucrativos e este espaço, repito, é cedido pela Câmara, gratuitamente. O retorno é para a cidade. Os nossos preços, baixos, permitem que os atletas tanto sejam filhos de mulheres a dias como de doutores. Toda a gente pode jogar. No padel, uma hora custa 20 euros, a dividir por quatro pessoas, e um sócio paga três euros por hora. No Porto e em Lisboa, por exemplo, os preços são mais elevados”, conclui Plínio Jorge.
Presidente tem 82 anos e toca bateria
Plínio João, 82 anos, é o presidente, cargo que ocupa há quase 20 anos. O pai de Plínio Jorge foi campeão de veteranos e ainda tem o vício de bater umas bolas, mas “agora jogo pouco… o que mais faço é tocar bateria”, revela à nossa reportagem. Músico profissional, já reformado, tem na música o seu ADN. Nasceu no Porto (o filho em Cascais) e a partir de 1967 fez do Algarve a sua casa, integrando bandas residentes no Hotel Algarve, Hotel Alvor e no primeiro casino, que inaugurou, na zona da Penina. “Sou uma espécie de músico itinerante. Ainda hoje toco e vou a eventos, com uma banda, tipo familiar, que se chama Turma H”, refere Plínio João, sempre jovial. “Sou presidente com a ajuda destas pessoas. Jogava ténis e tinha cargos no clube, e depois, com a saída de Américo Telo, fui o escolhido para a presidência da Direção”, explica. Agora, reconhecendo que se dedica mais à música, deixa um desejo: “Vou ver se ainda jogo um bocadinho de padel antes de arrumar a raquete”.
Espírito desportivo em ambiente familiar
João Carlos, bancário, 54 anos, é o presidente da Assembleia Geral. Jogou futebol – uma paixão antiga – nos veteranos do Portimonense, mas, por ‘culpa’ das filhas e da amizade com os outros atuais responsáveis do clube, é mais um que não passa sem bater umas bolas. “As minhas filhas vinham aqui jogar e eu acompanhava-as”, iniciando então o percurso no ténis e depois no padel, modalidade que, no Algarve, já existia em Faro e Vilamoura. “Não podíamos perder o comboio, inclusive para captar mais sócios, sempre com espírito desportivo e de participação social e em ambiente familiar”, narra João Carlos, citando algumas iniciativas que reforçam os laços dessa “coesão entre os portimonenses”, mormente a maratona de ténis (24 horas sempre a jogar). O líder da AG é de Lisboa, mas “vim com 11 anos e passei aqui toda a minha juventude. Já sou algarvio”, admite, antes de se ir equipar para pegar na raquete e alimentar o prazer de jogar.
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