Traz a prancha e ‘entra na onda’ é o lema do Portimão Surf Clube
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Texto: Hélio Nascimento, Foto: D.R., in Portimão jornal nº49
A ‘onda’ continua de feição e o Portimão Surf Clube, embalado pela agradável brisa que também ilumina quem se esforça, vai subindo de nível e aumentando o registo de atletas e de sócios, capitalizando um entusiasmo que tende a ganhar maior expressão com a proximidade das férias e dos inúmeros turistas que dão tudo para experimentar as emoções ‘montados’ numa prancha de surf. E, se quiserem, também têm skate, bodyboard e paddle à mão de semear.
Fundado em 2014, com 56 sócios aderentes, a coletividade passou, num ápice, a barreira dos 500 associados, enquanto os alunos chegaram aos mil em meia dúzia de anos, contabilizando, naturalmente, aqueles que experimentam e depois acabam por seguir outras aventuras.
“Hoje em dia temos precisamente 677 sócios, o que coincide com a evolução desta modalidade. Portimão precisava mesmo de uma associação vocacionada para o surf, o que sucedeu no momento oportuno. O trabalho tem sido bom e as pessoas continuam a aderir”, conta Francisco Canelas, um dos fundadores e diretor-geral do clube.
Todos os anos, a escola de formação é frequentada por uma centena de atletas-residentes, aqueles que moram no concelho ou perto. Depois, nas Férias Desportivas, passam mais 100, mas por dia, num total de cerca de meio milhar durante todo o Verão. “Deste extenso lote acabam por ficar à volta de dez, beneficiando de uma mensalidade gratuita, que oferecemos com o intuito de cativar mais alguém. O surf é tudo ou nada: ou gostam e ficam ou não fazem mais”, atira Francisco Canelas, que também é técnico e tem um rico palmarés enquanto praticante de surf.
O torneio que serviu de embrião
Além da centena de atletas ainda em iniciação, o Portimão Surf Clube tem 40 federados, dedicando outra parte da sua atividade às iniciativas de caráter lúdico, sobretudo para turistas, que podem experimentar o skate, bodyboard, paddle e, claro, o surf. “Temos técnicos para todas as modalidades, que funcionam bem”, salienta Francisco, pronto a contar a sua história de desportista. “Tenho 39 anos e fui competidor entre os 14 e os 28, com uma carreira sólida. Podia ter sido mais ambicioso, mas conquistei três títulos de campeão nacional e estive no top-10 da Europa durante dois anos”.
Atualmente, é vice-campeão nacional de masters e guarda com enlevo as viagens que fez por esse mundo fora, de prancha às costas, da Indonésia ao Peru e do Havai ao Brasil e às Maldivas. Licenciado em design de equipamentos, trabalhou como diretor de marketing e quando voltou a Portimão meteu na cabeça a ideia de formar um clube. “A realidade do surf era muito diferente, não havia referências, nem união, tratava-se de uma modalidade quase elitista e as mensalidades eram caras”.
Francisco Canelas resolveu então organizar um torneio, através do Clube Naval – que representou nove anos –, na Praia da Rocha, que constituiu um assinalável êxito. “Foi o embrião para o que se seguiu. O espírito era bom, já havia alguns atletas de competição e juntei pessoas da minha confiança, que hoje ainda continuam nos órgãos sociais, para avançar com o clube. Tivemos uma reunião com a dra. Isilda Gomes e recebemos o apoio da Câmara”, recorda, explicando como nasceu o clube.
“Puxamos uns pelos outros”
O auxílio do município, naturalmente, é fundamental, bem como a parceria com o IPDJ e mais alguns patrocínios, que, como revela o diretor-geral, começaram por render cinco mil euros por ano e já superaram esta verba. “Foi isto que permitiu o arranque, bem como o aproveitar destas instalações”, acrescenta, referindo-se ao equipamento em plena praia, também ‘sede’ das Férias Desportivas que se aproximam, e que, por isso mesmo, obrigam a melhoramentos no local. O clube dispõe ainda de uma secretaria, que funciona na Estrada da Marina.
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Os treinos decorrem na Praia da Rocha e, sobretudo, na Costa Oeste, na praia de Vale Figueiras, onde evoluem os atletas da competição. “É a nossa casa. Vamos lá quatro vezes por semana e as sessões podem durar entre quatro a oito horas”, prossegue Francisco, historiando os “mais de dez campeões regionais, a dupla que está no programa olímpico e mais cinco nas seleções” e citando os nomes de Suri e Siena Rodrigues, Baltasar Pinto, André Siqueira e Samuel Hidalgo, isto no surf, porque o bodyboard também tem craques, como “Nuno Firmino e Rafael Nóbrega, que são fortíssimos”.
Os alunos de bodyboard e skate são em menor número do que os do surf, enquanto o paddle tem um caráter mais lúdico. A atividade prolonga-se todo o ano, até porque no Inverno “é que é bom”, com mais estágios e provas, a exemplo do que sucede com todas as coletividades. Por falar nisso, o facto de existirem já muitas escolas em Portimão não constitui problema algum. “Há espaço para todos e nem gosto de chamar a isto concorrência. É saudável e puxamos uns pelos outros, com o desejo constante de se fazer mais e melhor”.
O enorme potencial do skate
À conversa com o Portimão Jornal junta-se agora Josué Nunes, um brasileiro de 40 anos, que treinava as equipas de competição do Clube Naval da cidade e que desde o início do ano passou a “fazer dupla” com Francisco Canelas. “A amizade já existia e decidimos incrementar um novo projeto, mais estruturado e mais ambicioso, naturalmente virado para a competição e para o aproveitamento dos miúdos. Temos muitos sub-12 e queremos atrair muitos mais”, garante Josué, um ‘barra’ no skate, que começou a praticar aos sete anos, antes de se dedicar, igualmente, ao surf.
A aposta no skate, já deu para perceber, vai ser forte e ousada. Francisco lembra que a modalidade até está nos estatutos do clube, mas, não havendo rampas, escasseiam as referências. “Há poucos anos, na mini rampa da praia, cheguei a ter mais de 50 jovens a treinar, mas depois ficámos sem o aparelho. Os praticantes são muitos, só que temos de lhes dar condições”, que, por ora, não existem. Josué salienta que há treinos na marina, mas apenas de iniciação, e que, para os mais avançados, “temos de ir aos skates parques em redor da cidade”.
O recente evento realizado em Portimão, a Liga Pro Skate, constituiu um enorme sucesso, vincam os nossos anfitriões. “Fomos a oito escolas fazer algumas sessões e convidámos os miúdos a ver o torneio e iniciarem aulas. O potencial do skate é enorme e temos de passar esta mensagem bem positiva de uma modalidade que é olímpica”.
Estágio de competição no estrangeiro
O clube quer levar a sua equipa de competição de surf a realizar um estágio no estrangeiro, já este Verão, de preferência à Indonésia. “Temos de ver a questão monetária, claro, mas há uma alternativa mais low cost, que é a Irlanda. Muita gente desconhece, mas a Irlanda é considerada a Indonésia europeia”, revelam, explanando objetivos para procurar atingir a curto prazo. A propósito, os associados têm uma quotização de 20 euros por ano, ou 40 com acesso à área desportiva.
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“O futuro passa por transmitir uma imagem positiva, com boa reputação do nosso emblema e mais campeões. Queremos melhorar o que temos feito bem e realizar mais eventos. Acho que tudo isto é uma obrigação, porque são marcos importantes para a cidade, que a valorizam. E temos de ser nós a cuidar da nossa terra”, sublinha Francisco, entusiasmado com o que lhe vai no pensamento.
Josué corrobora o amigo e acrescenta que “o projeto passa por ter mais crianças e mais atletas na competição, formar campeões e conquistar resultados a nível nacional e internacional, tanto no surf como no skate”, prometendo trabalhar “de coração” para levar a bom porto este ideal. A paixão, garante, é a mesma de Francisco. “Os dois acreditamos que nos podemos completar, juntando forças e investindo a sério”.
A última referência vai para a desejada realização de mais eventos, desde o Arade Classic – junta praia e museu – aos festivais, com componente social, e, claro, ao ‘Summer Weeks’, com atividades diversas e um “pacote variado”, com programa específico de Verão e aberto a todos. Diz a tradição que os holandeses, alemães e ingleses são os que mais aderem.
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“Não havia ondas… skate, pois claro”
Josué Nunes nasceu no estado brasileiro de Santa Catarina há 40 anos e veio para Portugal em 2013. Formado em Educação Física, tem especialização em treino desportivo, biomecânica do movimento, tratamento e prevenção de lesões – há quase 20 anos que trabalha nesta área da saúde – e é também ‘personal trainer’. Ao serviço do Clube Naval de Portimão foi campeão regional algarvio e treinou as equipas de competição, mas, curiosamente, dedicou-se primeiro ao skate, por uma razão simples. “Morava a uma hora da praia, e, muitas vezes, quando lá chegava, nem uma onda para entusiasmar. O que é que vou fazer? Skate, pois claro”, explica Josué, lembrando que na altura não existia a mesma facilidade em saber atempadamente se havia ou não ondas em determinado local. A paixão pelo surf, no entanto, tem estado sempre presente na sua vida, e foi através da modalidade que travou conhecimento e tornou-se amigo de Francisco Canelas. A ideia de começarem a trabalhar juntos já andava na cabeça de ambos e concretizou-se no início deste ano.
Há mais rostos por detrás do projeto
Francisco Canelas não quis deixar de salientar outras pessoas envolvidas e importantes no dia a dia do Portimão Surf Clube, casos de Jorge Mimoso, um dos obreiros da fundação, de Maria Moreira, “assistente administrativa que é peça fundamental e imprescindível na organização”, de Rui Águas, “um instrutor com paixão, que trouxe muita alma e uma grande dose de boa energia”, e de António Miguel, que “veio da competição e continuou a carreira como treinador, sendo adorado pelos miúdos”. Ainda a falar de nomes, o dirigente-treinador prestou um tributo a antigos e atuais campeões, evocando João Maria Mendonça, Constância Simões, Concha Pinto Balsemão, Egor Volkov, Louis Escoudeiro, Bruno Gregório, Michael Conlan e Leon Schneider. Curiosamente, alguns destes campeões foram-no também no estrangeiro, como Volkov e Escoudeiro (Rússia e Bélgica, respetivamente).