Turismo portimonense no fio da navalha
Texto: Jorge Eusébio | Foto: Eduardo Jacinto
Numa altura em que a atividade turística já devia estar em forte ‘andamento’, o cenário que se vive é ainda de expetativa e de muita apreensão em relação a esta época alta. Uma parte muito substancial das unidades hoteleiras já abriu as suas portas ou prepara-se para o fazer nos primeiros dias de julho, mas o problema é que faltam clientes.
É o que se passa com um dos principais ‘players’ do mercado, o grupo Pestana. O seu administrador regional, Pedro Lopes, diz que no fim de semana prolongado de junho, “as coisas animaram um bocadinho”, mas foi sol de pouca duração e, nesta altura, o nível de ocupação dos hotéis que já estão a funcionar “é muito baixo”.
E o problema é que não há razões fortes que levem a supor que a situação vai mudar radicalmente nos próximos tempos. Este responsável acredita que, daqui para a frente, “vamos ter um aumento dos turistas nacionais”, mas o que salvará ou não a época turística é a possibilidade de chegarem voos ao Aeroporto de Faro com muitos visitantes estrangeiros.
E, para já, as notícias que vão chegando não são propriamente positivas. Devido à evolução do surto, alguns países retiraram Portugal da lista de destinos seguros, o que faz com que o potencial de turistas diminua.
O olhar de Pedro Lopes e de todos os hoteleiros algarvios está virado, essencialmente, para o Reino Unido, o principal mercado emissor de turistas da região.
Se o governo de Boris Johnson tomar idêntica medida, obrigando os naturais daquele país que nos visitem a, no regresso, ficarem de quarentena, o setor turístico algarvio vai passar por uma tremenda crise.
Apesar da incerteza, o grupo Pestana preparou-se para receber da forma mais segura possível todos aqueles que escolham as suas unidades hoteleiras para fazer férias.
Entre muitas outras medidas já em vigor, constam a obrigatoriedade da medição de temperatura a todos os seus funcionários e o uso de máscara e luvas.
O grupo também oferece máscaras aos clientes e sempre que há uma saída, entra em ação uma máquina de desinfeção que “retira a possibilidade de haver vírus nos quartos”.
Festa de Odiáxere e declarações dificultam retoma
Entre o início e meados do mês de junho, Ricardo Sobral, o responsável máximo pela agência de viagens online Rickytravel, mostrava-se otimista. O interesse dos portugueses pela região estava em crescendo, o aumento das reservas indiciava isso mesmo e parecia que, pelo menos no que diz respeito ao mercado nacional, íamos acabar por ter uma época alta turística bastante razoável.
Só que, entretanto, começaram a surgir os resultados da ‘Festa de Odiáxere’ que mancharam “o excelente trabalho que os algarvios, as autarquias e as empresas estavam a fazer” e criou apreensão entre os potenciais visitantes.
Para piorar as coisas, “caíram que nem uma bomba as declarações do presidente da Ordem dos Médicos do Sul, a dizer que o Algarve podia fechar se surgissem 100 casos positivos de covid-19”.
As consequências foram imediatas, com “as pessoas a cancelarem muitas reservas e a não fazerem novas”. Daí para cá, à medida que se vão esbatendo os efeitos negativos das declarações, até porque a festa originou mais de uma centena de casos e não consta que a região tenha fechado nem por um segundo, “a situação começou a inverter-se, embora a um ritmo lento”. Ricardo Sobral lamenta, sobretudo, que o Algarve não demonstre capacidade para “fazer passar uma imagem mais positiva do muito de bom que a região tem e do que é feito aqui”.
Para, de alguma forma, ajudar a suprir essa lacuna, enquanto decorreu o confinamento obrigatório, a sua empresa promoveu três conferências online para as quais convidou autarcas e empresários.
Através dessa iniciativa – que teve cerca de 200 mil visualizações – foi possível constatar que “o Algarve está bem preparado para responder aos problemas que a pandemia nos coloca” e que os responsáveis pelas unidades de alojamento “estão muito empenhados em criar todas as condições de segurança para receber os que nos visitem”.
Setor de rent-a-car à espera de aviões
“As empresas de rent-a-car estão a funcionar a cerca de 8 a 10% da sua capacidade”. Quem o diz é o presidente da associação algarvia do setor, Armando Santana. E isto porque até já houve uma melhoria, embora pequena, em relação ao que aconteceu entre os meses de março e maio, em que “chegámos quase à estaca zero”.
No setor, as coisas só poderão dar um ‘salto’ substancial quando começarem a chegar muitos aviões cheios de turistas, algo que poderá não acontecer para já. Nos próximos meses, muita da atividade turística que se fizer no Algarve terá como base os turistas portugueses, que, na sua esmagadora maioria, não precisarão de alugar carro.
“Caíram que nem uma bomba
as declarações da Ordem
dos Médicos do Sul, a dizer
que o Algarve podia fechar se
surgissem 100 casos de covid-19”
Todo este panorama faz com que os gerentes das empresas do setor vivam no autêntico sufoco. Pelas contas do presidente da Associação de Empresas de Rent a Car do Algarve, “mais de 90% recorreram ao ‘lay off’”, mas quando esse balão de oxigénio se esgotar muitas poderão, eventualmente, ter de encerrar as suas portas, até porque “são muito elevados os custos de manter uma frota de carros”.
Praias do concelho podem acolher 20.700 banhistas
Ao longo deste Verão, as praias do concelho de Portimão podem receber um máximo de 20.700 pessoas em simultâneo. De acordo com a lista definida pelo Governo e que está disponível no site da Agência Portuguesa do Ambiente, as que podem acolher maior número de banhistas são a da Rocha (8.800) e a de Alvor (4.200), seguidas pela da Torralta (2.200).
Tendo em conta que esta vai ser uma época alta turística atípica, com, em princípio, muito menos visitantes do que é habitual, apesar destas quotas, não deverá faltar um espaço de areia para quem queira ir à praia.
Apesar disso, sobretudo nos últimos fins de semana, a subida de temperaturas tem levado muito gente à beira-mar, com o sistema que foi lançado para contabilizar os banhistas a assinalar uma ocupação elevada nas praias mais pequenas e em uma ou outra situação até a atingirem a ocupação máxima.