Uma cobertura no polidesportivo é grande sonho no Chão das Dona

Texto: Hélio Nascimento | Foto: Portimão Jornal


O Clube Recreativo de Chão das Donas continua a resistir às vicissitudes da vida associativa, do ‘alto’ dos seus 72 anos, uma idade que lhe permite encarar com algum otimismo os desafios que tem pela frente. Foi esta ideia que o presidente José António Arez transmitiu ao Portimão Jornal, colocando num patamar elevado o maior dos sonhos: transformar o atual recinto polidesportivo num pavilhão ‘a sério’, que possibilite captar a juventude e praticar ‘novas’ modalidades.


José António Arez, 59 anos, chefe de equipa da EMARP no setor dos resíduos, ocupa cargos diretivos desde 1988 e tem ‘saltado’ alguns pelouros, nomeadamente como tesoureiro e líder da direção. “Ocupo o lugar que estiver em falta”, atira, já habituado ao trabalho de carolice que é preciso manter numa coletividade deste tipo. Sócio “desde sempre”, foi atleta de ténis de mesa, lutas amadoras e teve uma incursão no atletismo (lançamento do peso), por volta de 1980. “A minha mãe até diz que nasci aqui”, graceja, durante a conversa que decorreu na sede, em pleno bairro portimonense.


“O clube foi fundado em 25 de outubro de 1953 e teve conotação política, como se apregoava, embora nunca tenha testemunhado nada disso. Após o 25 de Abril de 1974 tivemos um período de enorme pujança, com teatro amador, atletismo e outras atividades, numa altura em que pouco existia na zona. Através do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e da Câmara passou a existir maior abertura, e, como não havia tanta televisão nem computadores, a adesão foi significativa”, recorda o dirigente.


Para trás, porém, as dificuldades deixaram marcas. “Não tínhamos água nem luz – só em 1975 chegaram aqui – e eu e outros rapazes íamos buscar água ao pé do restaurante Zé Luís, em cântaros, com carrinho”, diz José António Arez, aludindo também “a um gerador numa despensa e um candeeiro através de uma garrafa de gás”, algo que não impedia a realização dos famosos bailes, graças à adaptação a um gerador, que “arrancava a gasolina e trabalhava a petróleo”. E não havia casa de banho, adianta, tal “como sucedia em muitos clubes no interior”.

Equipa de ciclismo em destaque
A chama dos tempos áureos, no entanto, foi-se perdendo. Várias modalidades sofreram com as novas diretrizes municipais, escasseava a falta de apoio e a competitividade. As infraestruturas, de pequena dimensão, não aliciavam. “Somos um clube pequeno, quase de campo. A sede foi ampliada em 1989 e remodelada em 2005. As condições, agora, apesar de mínimas, são razoáveis. E temos o bonito e funcional polidesportivo, que foi inaugurado em 1998”.


A equipa de ciclismo, no escalão masters (a partir dos 30 anos), é de momento a ‘menina bonita’ do Recreativo de Chão das Donas, com participações até sul do Tejo de âmbito regional e algumas incursões a nível nacional. “É a única modalidade. Tivemos futebol de salão, mas a obrigatoriedade de jogar em recintos cobertos foi um duro golpe. Lá volta a questão da falta de infraestruturas, o que nos levava a ir treinar à Mexilhoeira Grande e jogar no Gimnodesportivo quando houvesse disponibilidade”.


O presidente salienta que nem dispunha de espaço para a prática do ténis de mesa a nível competitivo, razão pela qual “alguns clubes algarvios foram desistindo de certas modalidades, também por uma evidente falta de aposta” na região. Acresce que “os carolas, desanimados, iam abandonando o barco, ou seja, perdeu-se a chama”.


O Chão das Donas tem cerca de 350 sócios, metade dos quais paga quotas, no valor, simbólico, de um euro por mês. “Não vimos os moços a quererem fazer desporto, estão mais ligados ao digital e aos computadores. Eu até ciclismo e remo fiz em outros clubes”.

“Temos condições, com balneários e tudo”
José António Arez reconhece que escasseiam as condições para atrair associados e regozija-se com as festas de verão, que sempre dão uma pequena margem de lucro. “O espaço da sede é alugado, mas o do polidesportivo é nosso. Os bares estão entregues a exploração, o que ajuda a pagar as despesas, até porque os melhoramentos são todos feitos por nossa conta”.

Atualmente, com as festas populares, os ventos sopram mais de feição. O clube esteve no Festival da Sardinha e vai a outros eventos, tendo organizado uma prova de ciclismo junto ao Autódromo. Os patrocínios são bem-vindos e há ainda a ajuda do município. Os bailes enchem o polidesportivo durante todo o verão e na sede, onde o espaço é exíguo, realizam-se os do aniversário e, esporadicamente, de Carnaval.


“O que mais gostaríamos era poder cobrir o polidesportivo e dar ao concelho e a outros clubes vizinhos a oportunidade de praticarem vários desportos e usufruírem do espaço. O pavilhão é o nosso sonho. Temos condições, com balneários e tudo, precisamos é da cobertura, para podermos apostar em novas modalidades. Vamos lá ver se isso ainda acontece, mas necessitamos de ajuda, claro, senão é impossível”, vinca o responsável.


Várias iniciativas, umas de formação (aulas de informática, pintura) e outras de carácter solidário, estão igualmente na agenda de José António Arez, que se congratula com “o pessoal sénior que se reúne aqui para fazer bordados e rendas, uma atividade que obriga a sair de casa”. E depois, tipo cereja em cima do bolo, quer “incentivar a malta nova, até porque adorava ver mais miúdos a fazer desporto”.

O 15º Encontro das Motorizadas Clássicas

Um dos pontos altos da atividade do Clube Recreativo de Chão das Donas está marcado para este domingo, dia 24 de agosto, com a realização do 15º Encontro das Motorizadas Clássicas. É uma grande festa, juntando motos antigas de 50 centímetros cúbicos, num percurso ao nível das três freguesias de Portimão, num total de 50 quilómetros. “A meio do caminho temos algo para comer e beber e o almoço é no Centro Paroquial da Penina. Vem malta de Almodôvar, Ourique, do Sotavento algarvio e de outros locais. E nós, o Grupo dos Amigos das Duas Rodas, também vamos a Aljezur, Faro, Loulé, sempre em festa”.

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