Clube União Portimonense tem de sair de sede centenária
Em contraciclo à crise do associativismo local, o Clube União Portimonense é exemplo de vitalidade, embora o futuro não se afigure nada fácil.
Fernando Vieira
Longe vão os tempos em que as coletividades de cultura e recreio centralizavam a vida social das comunidades. No entanto, em pleno casco histórico de Portimão, um grupo de amigos decidiu meter mãos à obra e mantém viva a chama de um clube que acaba de soprar cem velas.
No entanto, há meia dúzia de anos o destino do Clube União Portimonense (CUP) parecia irremediavelmente traçado, como reconhece o vice-presidente da direção, Armando Santana: “Após a realização, em junho de 2010, de um jantar de confraternização que juntou antigos alunos do ex-Liceu Nacional de Portimão, foram reatadas amizades de juventude. A partir daí organizámos umas jantaradas mensais e a certa altura surgiu a oportunidade de se reavivar uma coletividade que estava moribunda.”
Da ideia à ação foi um pequeno passo, conforme sublinha: “Decidimos avançar em 2011 com o projeto e meter – literalmente – mãos à obra, até porque as instalações estavam bastante degradadas. A ideia era relançar eventos que caíram em desuso, desde a festa do folar às caracoladas, passando pelo assalto carnavalesco ou pelas passagens de ano partilhadas.”
Na sequência dessa aposta, os elementos dos órgãos sociais “passaram aqui horas a fio em mil e uma tarefas, além do material de obra não contabilizado, oferecido por bons amigos”, enaltece Armando Santana, antes de dizer: “Temos cá ‘enterrados’ cerca de 9.700 euros de investimento direto em obras e melhoramentos.”
ESPÍRITO SOLIDÁRIO
Nestes seis anos, o CUP tem promovido inúmeros eventos culturais, entre lançamento de livros, exposições e espetáculos de música, preferencialmente com a prata-da-casa, assim como várias tertúlias temáticas. “Na vertente solidária, realizámos jantares para angariação de fundos destinados a diversas instituições. As IPSS sabem que podem contar connosco”, realça Armando Santana.
A propósito, o tesoureiro Carlos Carrelo sublinha “uma das iniciativas com menor impacto, mas talvez a mais importante de todas, da qual ninguém fala”. E explica: “O CUP pertencia à elite de Portimão e não entrava cá ninguém que não tivesse determinado estatuto. Em 1919, os pescadores e operários conserveiros criaram o Glória ou Morte, que passou a ser o clube dos pobres. A rivalidade foi-se consolidando durante décadas, mas há muito deixou de fazer qualquer sentido. Em 2012, e num momento em que o Glória ou Morte perdera a sua sede social, estabelecemos um protocolo e tornámo-nos sócios uns dos outros.”
“Por outro lado, o CUP foi até há poucas semanas fiel depositário do espólio do Clube Fraternidade, surgido em 1922 mas a atravessar longo período de letargia, prevendo-se para breve o seu ressurgimento, pois há um grupo de pessoas interessadas nisso”, revela Carlos Carrelo.
UNIÃO QUE FAZ A FORÇA
Perante o atual cenário, Armando Santana tem uma opinião sobre o futuro do associativismo local. “Num mundo cada vez mais individualista, temos que repensar qual o papel que poderemos desempenhar e é esse o nosso grande desafio.” José Amado, secretário da assembleia geral, reforça: “Começámos a pagar uma renda de 36 euros e agora – em meia dúzia de anos – a mesma subiu para 450 euros. Por isso, temos que ‘inventar’ dinheiro através de variadas iniciativas.”
Carlos Carrelo traça o cenário financeiro do CUP, ao afirmar: “As despesas fixas mensais andam na ordem dos 700 euros, Estão registados 605 sócios, dos quais apenas 200 é que pagam as quotas. Depois, existe um protocolo com a Junta de Freguesia, que nos atribui entre 500 e mil euros por ano, conforme o nosso plano de atividades e recentemente a Câmara de Portimão destinou 9 mil euros para o clube, na sequência de recente contrato-programa.”
“CONTRA VENTOS E MARÉS”
Segundo José Amado, “o que está em causa não é a continuidade do União, mas o uso deste edifício, porque o nosso contrato de arrendamento expira daqui a um ano e a proprietária já manifestou ter outros planos. Provavelmente, teremos que recomeçar num espaço alternativo, com muita pena nossa porque gostaríamos que a coletividade se mantivesse no local de origem. Demos muito de nós para meter isto de pé e, desse modo, acabámos por valorizar imenso o imóvel. Mas a vida é assim…!”
Seja como for, Armando Santana não tem dúvidas: “Se esta receita está a funcionar, é claro que iremos continuar, seja aqui ou noutro lugar qualquer. Contra ventos e marés, que venha mais um século!”
HOMENAGEM AOS CAROLAS
No passado dia 24 de abril o Hotel Algarve Casino, na Praia da Rocha, foi palco do jantar de gala que assinalou o centésimo aniversário do CUP. Estiveram presentes algumas centenas de pessoas, que desse modo reconheceram o trabalho desenvolvido nestes últimos por um punhado de carolas, composto por Adriano Pereira, Amélia Gracias, Armando Santana, Carlos Carrelo, Célia Franco, Fernando Fernandes, Filomena Conceição, Jaime Dias, João Segurado, João Trabucho, José Amaro, José Casimiro, Lurdes Segurado e Noel Santos, entre outros.
Poucos dias depois da realização desta festa, o presidente da direção, João Segurado, recebeu uma carta registada, enviada pela proprietária do imóvel onde funciona a sede do CUP, dando conta de decisão de não renovar o contrato, que vence daqui a cerca de um ano.
Em declarações à Algarve Vivo, o responsável garante que “tudo será feito para que, quando chegar o dia de entregarmos as chaves, o União tenha um espaço condigno, no qual dará início a um novo ciclo da sua já longa e respeitável história.”