Congelação de peixe vai render centenas de milhões de euros
Texto e foto: Jorge Eusébio
Ao fim de pouco mais de seis meses de atividade, a fábrica Congelagos, situada em Odiáxere, encontra-se a laborar a cerca de “50% da sua capacidade máxima”, diz o principal acionista desta empresa de congelação de peixe, Nuno Battaglia. Se as coisas correrem como previsto, o empresário espera que ainda este ano seja possível “atingir a capacidade máxima de pico”.
Para pôr de pé a Congelagos foi necessário um investimento de 16 milhões de euros. Isso permitiu a aquisição e instalação da “mais moderna tecnologia”, dotando a fábrica de uma capacidade de “300 toneladas por dia de processamento e 5.400 toneladas de conservação” e proceder à criação de “75 postos de trabalho diretos”, a que se juntam entre “300 a 500 indiretos”.
Nuno Battaglia tem grandes ambições para a Congelagos. Quer transformá-la “numa empresa de referência no setor das pescas, a nível nacional” e colocá-la a facturar “cerca de 100 milhões de euros anuais, dentro de dois ou três anos”.
A decisão de avançar com este projeto deveu-se ao facto de considerar que há espécies de peixe – especialmente, cavalas e carapaus – que são abundantes na nossa costa e que não estão devidamente aproveitadas e valorizadas.
Isto porque rendem muito pouco a pescadores e armadores que, por essa razão, preferem apanhar outro tipo de peixe. Através de acordos com as associações respetivas e a Docapesca, a sua empresa garante a compra a valores que rentabilizem a sua captura.
No futuro, Nuno Battaglia conta desenvolver o seu projeto em várias fases, de forma a acrescentar o máximo valor possível ao seu produto. Isso passará até pela criação de uma marca própria e pela venda do peixe não só em grandes quantidades como também em doses mais pequenas para chegar ao grande público.
As possibilidades de criação de uma fábrica de conservas e de aquisição de barcos estão também a ser ponderadas por si e pelos seus sócios. Mas os investimentos não ficam por aqui.Outra aposta forte que já começou a desenvolver é ao nível da aquacultura que “tem condições de excelência no nosso país”, as quais estão muito longe de ser devidamente aproveitadas.
Também nesta área pretende tornar-se num grande ‘player’ nacional, com capacidade para produzir anualmente “entre 5 a 10 mil toneladas de peixe”.
Agricultura e turismo na mira
Nuno Battaglia não pretende limitar os seus investimentos à Congelagos e à aquacultura. O empresário diz que está interessado em “entrar em negócios onde consigamos criar valor, que tenham recursos que estejam subaproveitados, que consigamos entender e que sejam positivos para o ambiente e para as comunidades em que estão envolvidos”.
Duas das áreas para as quais olha com interesse são a agricultura e o turismo. No caso da agricultura porque, ao longo de muitos anos, não teve a atenção que merecia e por isso é um setor em que há muito por fazer.
Quanto ao turismo há, igualmente, interesse, mas em projetos únicos, diferenciadores que não sejam mais do mesmo do que já existe no Algarve e no país. A este nível conta com um terreno na Ponta da Piedade, para o qual diz ter um projeto que vai de encontro às preocupações de preservação e valorização que a autarquia de Lagos tem para aquela zona nobre do concelho. Fora da região, um dos seus investimentos é no Comboio Presidencial que circula na linha do Douro.
Empreendedor desde cedo
A paixão pelo mar e pelos negócios ‘atacou’ Nuno Battaglia muito cedo, ainda andava na escola. Sempre que podia escapava-se com o seu amigo e atual sócio Jorge Grave para a praia e o mar. Inclusivamente, por volta dos seus 16 anos, os dois compraram a meias um barco para ir à pesca e um carro, “embora obviamente não tivéssemos carta de condução”.
Carregavam o peixe na viatura e iam vendê-lo aos donos dos restaurantes da zona, uma experiência que garante lhe foi muito útil e que recorda com saudade. A tal ponto que quando quis arrancar com a Congelagos, fez questão de ir a Angola, onde o seu amigo Jorge Grave trabalhava, para convencê-lo a embarcar na aventura. Agora, continuam, com outros meios e numa dimensão de outro nível, a fazer, basicamente, aquilo que faziam em jovens: vender peixe.
Pelo meio, acabou por ir parar aos Estados Unidos, onde viveu durante várias décadas. Após se ter licenciado foi contratado por uma empresa da área de investimentos, que lhe permitiu fazer negócios em muitos países. Mais tarde foi um dos fundadores de uma empresa que diz estar a “revolucionar o setor da saúde nos EUA”.
Em 2014 deu um ‘salto’ a Portugal, onde contava ficar apenas alguns meses, um plano que acabou por ser radicalmente alterado quando resolveu construir a Congelagos.