Opinião: Gente que marca (ou pode marcar)

João Reis | Professor, in Lagoa Informa nº162


1 – Quando vi as imagens daqueles “badamecos” barrando a passagem do “Almirante das vacinas”, insultando-o, chamando-o de “assassino”, pensei: “Eh pá! Isto, só à chapada!”. Mas tiveram sorte, os fedelhos – o Vice-Almirante não perdeu a compostura, conteve-se com facilidade.

E não se cumpriu o meu “tele-desejo”… Ainda bem!! Imagine-se o contrário – aquele “marujo”, matulão de 1,93m, a “despachar bofetões” naquelas criaturas, que iriam a correr fazer queixinhas à mamã… Seria “uma cena bué da gira, meu”! Dias depois, num Centro de Vacinação em Cascais, seria aplaudido por jovens e adolescentes que lá estavam para, conscientemente, serem vacinados. Aliás, todo o País tem louvado, bem merecidamente, esta figura vinda da profundeza das águas onde os submarinos navegam. Tem marcado uma presença activa, eficiente e ganhadora no desempenho das suas funções de Coordenador da Vacinação contra a COVID 19, vestindo o seu tão significativo camuflado e expondo aquelas qualidades de carácter que todos apreciamos – a disciplina e o rigor, o sentido da responsabilidade e a honra, a coragem e a serenidade, a integridade e o patriotismo. Tendemos a relacioná-las com a condição militar; há razões para tal.

Mas a Sociedade Civil também poderia alcançar aquelas qualidades se, nas nossas escolas, a sua Formação estivesse incluída. Teríamos, assim, um povo mais bem formado e um verdadeiro País Novo. (à atenção do Sr. Ministro da Educação)
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2 – Aí temos o País virado prás eleições autárquicas. Semelhantemente a todo o território, também no nosso concelho as candidaturas vão anunciando os cidadãos nelas envolvidos e as ideias que trazem, tentando resumi-las em curtos “slogans” ou “palavras d’ordem”. Mas, tais “slogans”, à força de quererem ser originais, acabam, em alguns casos, por não significar “coisíssima” nenhuma; apenas vacuidade ou charada – um, promete não prometer (?); outro, quer abrir todos os cadeados para libertar a cidade (?)… Nenhuma das formações candidatas refere (e isto não é só de agora) a intenção de mobilizar e dar força à Sociedade Civil; pelo contrário, parecem querer dizer-nos: “ponham a cruzinha e, depois, fiquem aí sentadinhos e quietos, que nós tratamos de tudo”, o que é bem mais fácil do que estudar medidas ou criar mecanismos que permitam às populações tomar iniciativas para si, para os seus negócios, para os seus entretenimentos, para as suas actividades, para as suas vidas. Sem submissão!

Isso sim, deixaria marcas. Foi assim preconizado por Sá Carneiro, por Eanes, por Soares, por Balsemão (que o reafirma nas suas recém-publicadas MEMÓRIAS). “Às sociedades civis se deve o desenvolvimento e o progresso dos países” – aprende-se com eles; e com outros.
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Escrevia este texto quando, pela tv, soube da morte de JORGE SAMPAIO. Político culto e humanista, activista desde a juventude. Presidente da Câmara de Lisboa; Presidente da República. Respeitado por todos os quadrantes políticos. Também ele, pró-sociedade civil.


Marcar alguns dos seus pensamentos é a minha homenagem: – “Os agentes políticos estão muito desprestigiados perante os cidadãos em geral” (2019); – “Peçam-nos esforço, mas dêem-nos esperanças”; – “As sociedades não têm tempo. O sistema financeiro não dá tempo à economia”;- “As instituições não dão resposta às aspirações das pessoas. Há uma grande descrença nas instituições políticas”;- “Temos grandes capacidades, somos capazes de tudo, mas precisamos de combater desigualdades sérias”; – “Não há portugueses dispensáveis”.


Requiescat in Pace

* Artigo escrito sem a aplicação do novo acordo ortográfico.

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