Opinião| Suicídio: Matar-se ou matar a dor?

Sónia Francisca Silva
Psicóloga Clínica (Especialista em Neuropsicologia e Psicogerontologia)
Email: sfspsicologia@sapo.pt

in Lagoa Informa Jornal nº166


Segundo a OMS (2014), suicida-se em todo o mundo, uma pessoa a cada 40 segundos. Merece-nos um momento de silêncio, mas também de reflexão.
Durkheim, um sociólogo francês, foi dos primeiros a estudar o fenómeno suicídio (1897), sendo que a discussão científica na altura centrava-se em torno da predisposição psicológica e determinação social.

Atualmente, a OMS propõe a existência de três categorias de fatores de risco: individuais, socioculturais e situacionais.

Sabemos que a taxa de suicídio tende a aumentar com a idade, em pessoas que tenham feito uma tentativa de suicídio anterior, tenham história de suicídio na família, pessoas com perturbação mental como psicoses, perturbação da ansiedade ou personalidade e doenças físicas se estiver associada a dependência de terceiros, como é o caso das doenças neurológicas e oncológicas.

O desemprego, conduzindo à pobreza, o acesso a meios letais, como armas, pesticidas e medicamentos, acontecimentos de vida como o divórcio, viuvez e perdas relacionais significativas são fatores de risco situacionais.

Entre os fatores socioculturais temos o isolamento social, quer devido, por exemplo, a situações de ‘bullying’ nos jovens, ‘mobbing’ e à perceção do estigma associado à doença mental ou orientação sexual.

A avaliação do risco de suicídio vai de baixo, moderado a iminente, sendo que de acordo com o risco, pode estar presente ideação suicida, intenção suicida e tentativa de suicídio. Será importante também falar dos comportamentos manipulativos que podem ter um final fatal, em que há morte acidental sem haver verdadeira intenção suicida.

No risco iminente a pessoa tem um plano específico de suicídio e tem um método com acesso aos meios letais, devendo ser deslocado à urgência psiquiátrica e ficar em observação ou internamento.

A pessoa que tem pensamentos suicidas quer acabar com a dor, com a angústia e vê na morte a única saída, sem considerar outras soluções, daí a importância de pedir ajuda.

Se notar alterações no comportamento da pessoa, como o isolamento, desfazer-se de bens materiais, principalmente bens com valor emocional, tente abordar a pessoa, perguntar-lhe se a pode ajudar. A pessoa vai sentir que alguém percebeu o que ela estava a sentir e pode ser uma porta aberta para poderem falar sobre a sua angústia.

Será importante, igualmente, terminar com o mito de quem fala que se vai matar, é só para chamar à atenção e não o faz.

Esta morte será sempre para quem fica, os familiares e amigos, são estes que irão viver a dor da perda. E estes lutos são dos mais difíceis e mais complexos, principalmente para pais, despertando sentimentos muito ambivalentes.

Temos de dar particular atenção ao suicídio nos jovens e nas forças de segurança (PSP, GNR).

Caso esteja com pensamentos de suicídio, peça ajuda: Linha SOS voz amiga. Linha de apoio emocional e prevenção ao suicídio: 213 544 545 / 912 802 669 / 963 524 660 (diariamente das 15h30 às 00h30) ou a linha SNS24 (808 242424 – opção 4) ou 112.

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