Nosolo coloca o sabor de Itália numa taça há 40 anos
Corria o ano de 1982, quando Marco Lorenzi tomou a decisão de adquirir um espaço na Zona Ribeirinha de Portimão a que deu o nome de ‘Bella Itália’. Vendia gelados, mas em taças, num conceito diferente para o que se encontrava em Portugal na época.
A decisão revelou-se acertada e, mesmo com a mudança de nome para ‘Nosolo Itália’, este é ainda hoje um dos espaços mais concorridos, sobretudo, durante os meses de Verão.
A verdade é que a ‘Bella Itália’ continuará a ser ‘Bella Itália’ na ‘boca’ de muitos daqueles que conhecem o local desde o início e, o sucesso conseguido, ao longo dos anos, tem levado a uma constante evolução da marca e ao alargamento dos negócios.
Apesar do apelido italiano, as raízes são também algarvias. O pai de Marco Lorenzi é italiano e a mãe é portuguesa, sendo a família conhecida tanto em Portimão como em Monchique.
“Já conhecia Portugal, porque a minha mãe é portuguesa. Estavam cá os meus tios e avós e vinha passar as férias de Verão com os meus primos. Quando acabei a escola, não me apetecia fazer faculdade e decidi vir com um amigo para Portugal”, começa por contar o empresário ao Portimão Jornal.
“Encontrámos este local graças ao meu tio, que conhecia o dono. Ele queria vender. Nós ficámos com o espaço em 1981 e abrimos em 1982”, acrescenta o proprietário, cujo tio é também um nome conhecido na cidade, pois, na altura Rogério Castelo era um dos sócios da ‘famosa’ companhia de transporte rodoviário ‘Castelo e Caçorino’, que operava naquela época.
“Pertencia ao senhor Cruz, que tinha comprado a parte do Brito. Ambos tinham voltado de Moçambique e tinham aberto um restaurante com pastelaria que se chamava ‘O Barracuda’, descreve. Numa localização central, na Praça Manuel Teixeira Gomes, à beira da ‘Casa Inglesa’ e do Rio Arade, a alguns metros da antiga lota, onde havia os típicos ‘restaurantes da sardinha assada’, a ‘Bella Itália’ foi um dos grandes atrativos para residentes e turistas. E continuou a ser. Marco Lorenzi confidencia que grande parte dos seus clientes, vinham a cheirar à sardinha assada na grelha. É que, depois de uma refeição nos antigos restaurantes junto à ‘ponte velha’, o programa da tarde incluía um gelado à beira rio…
Certo é que “tivemos sucesso. As pessoas gostaram das taças, que tinham um tamanho diferente, pois eram grandes. Na altura, havia outra gelataria na cidade que se chamava ‘Pai Paulo’. No entanto, este novo conceito das taças vincou a nossa posição”, conta.
Num ápice, os produtos artesanais conquistaram um público fiel e abriram espaço para uma outra inovação. O empresário começou a perceber que muitos clientes que iam à ‘Bella Itália’ procuravam também comprar para revender. Foi então que surgiu a ideia de fabricar para fornecer os restaurantes, não se resumindo apenas ao consumo imediato. Afinal de contas, era uma questão de produzir em maior quantidade, na fábrica que já tinham instalado em 1982, no concelho vizinho, no Parchal, e que hoje funciona também como ponto de distribuição do grupo.
“Tudo o que vendemos a nível de gelado é de fabrico próprio, desde 1982. Isto porque, o companheiro com quem eu vim, era mestre a fazer gelado em Itália. Ele impulsionou estes sabores”, explica.
Sabores inconfundíveis
É na fábrica, na outra margem do Rio Arade, que nascem os mais variados sabores e que há uma constante evolução para melhorar aquele que continua a ser um dos produtos inconfundíveis de Verão. “O senhor Rogério, que é o diretor geral desta fábrica, todos os anos inventa três ou quatro sabores com gostos e misturas incríveis. Temos que lhe dar mérito, muito mais a ele, porque é quem os desenvolve”, elogia Marco Lorenzi.
Numa data redonda, assinalada este ano, não podia faltar, por isso, um novo sabor. Os 40 anos da marca sabem a algodão doce, de cor azul, com ‘petazetas’, que ‘explodem’ na boca. E é apelativo tanto para os mais novos como para os adultos, não deixando ninguém indiferente.
Também está a chamar a atenção dos clientes o sabor de ‘Dom Rodrigo’, doce típico algarvio, com tangerina e pistacho, além dos preferidos de muitos como o iogurte, maracujá, morango ou chocolate.
“Temos sempre muitos sabores à base de amêndoa, de figo, daqui do Algarve, mas hoje também é muito vendável todas aquelas receitas à base do chocolate, como ‘Kinder Bueno’, ‘Kit Kat’, ‘M&M’, ‘Nutella’ ou ‘Ferrero Rocher’. Por isso, temos que as vender. É muito bonito querer ter sabores completamente diferentes para ser falado, mas se depois não resultam…”, critica o empresário.
Um gelado sem açúcar para diabéticos é outro dos sinais dos novos tempos, a par da redução deste ingrediente na composição dos produtos que fabricam. Utilizar técnicas para evitar que o gelado derreta tão depressa é outra das preocupações, numa luta que não é fácil quando se trata de dias ventosos.
“O nosso gelado tem muito boa qualidade e servimos muito. As bolas não são pequenas e uma pessoa sabe que investe, mas fica satisfeita”, brinca Marco Lorenzi. E já não é só no Verão que este produto é consumido, pois, cada vez mais o português come gelado o ano inteiro. “Antigamente diziam vou ficar mal da garganta, vou ficar doente, mas hoje em dia já não”, assegura.
Uma marca que se estende a vários pontos
Se a antiga ‘Bella Itália’ abriu em 1982 e foi logo um sucesso, o restaurante ‘Cletonina’, com gelataria no rés de chão, inaugurado em 1986, não lhe ficou atrás. A partir daí foi uma espiral de crescimento de espaços e conceitos. Seguiu-se Albufeira, Vilamoura. Na atualidade, o grupo conta com o ‘Nosolo Itália’, em Portimão, na Praça do Comércio e em Belém, em Lisboa, nos Clérigos, no Porto, em Montechoro, no concelho de Albufeira, e nas Marinas da Praia da Rocha, Albufeira e Vilamoura.
Os artigos disponíveis são semelhantes, sempre com o gelado como estrela, mas aos quais se juntam as pizzas, massas, saladas, crepes e waffles.
“Nós começámos a vender gelados, e, passados três anos, começámos a vender crepes, o que foi também um sucesso. Há poucos anos começámos a comercializar os waffles. Entretanto, quando abrimos na Marina em Vilamoura optámos também pelas refeições, com as pizzas e massas. Antigamente só tínhamos saladas e hambúrguer”, descreve Marco Lorenzi.
Com esta variedade, o grupo consegue ter oferta para os vários momentos do dia. “Quando abrimos, de manhã, vendemos gelados, depois seguem-se as refeições ao almoço, à tarde voltam os gelados, crepes e waffles e à noite temos refeições e gelados”, caracteriza.
Não se julgue, porém, que apenas os gelados são artesanais, pois, segundo garante o empresário, todos os produtos são criados de raíz e há ingredientes a serem importados de propósito de Itália. “Não quer dizer que os produtos locais não são bons, mas a farinha, a mozarella, os tomates são comprados lá. A farinha, por exemplo, tem de ser específica para pizza”, justifica.
A qualidade e a inovação, para este empreendedor, têm de andar sempre de mãos dadas para enfrentar as dificuldades. Uma delas foi a pandemia, que obrigou ao fecho dos espaços durante longos períodos, quando estavam em vigor diversas restrições, ainda que na retoma tivesse havido muita procura. “O mercado é difícil e temos que inovar sempre. Não podemos pensar que descobrimos uma mina. Há que tentar melhorar sempre”, afirma, acrescentando que o que diferencia este grupo é a relação qualidade e preço, pois não é excessivamente caro e o produto é bom.
Espaços para todos os gostos
Os ‘Nosolo Água’ criaram também um novo conceito de diversão na praia, com festas ao por do sol ou à noite e trouxeram grande reconhecimento ao grupo, sobretudo, ao nível da animação. Ficam situados nas Praias da Rocha, dos Alemães e Rocha Baixinha, em Albufeira. Acresce o ‘Água Clube’, em Vilamoura. Por outro lado, há ainda três ‘Nosolo Gelato’, pequenas lojas em que só são comercializados gelados e que se localizam na Praia da Rocha e em Armação de Pêra.
Recursos humanos fazem a ‘casa’
“Hoje, o nosso sucesso é graças a termos pessoas que trabalham connosco, que nos ajudam muito. A vertente de recursos humanos é o mais difícil. Vender coisas boas é fácil, mas ter pessoas dedicadas… Este ano temos sofrido muito em relação à mão de obra, mas nós temos bons funcionários”, defende o empresário que nunca pensou chegar a este sucesso.
“Tinha 20 anos na altura, pensei ir trabalhar e fazer qualquer coisa com a ajuda do meu pai. Consegui montar a loja. Comecei a trabalhar aqui e, depois em 1996, chegou o meu irmão mais novo e, em 2001, chegou o meu outro irmão. Então juntámo-nos todos e conseguimos. Somos três empresários, mas também temos sócios de cada loja”, explicou.
Marco Lorenzi não tem dúvidas de que a empresa continuará a crescer e talvez os filhos de cada um dos sócios optem pela continuidade, mas ainda são novos.
“Acho que, cada vez, teremos mais clientes, porque as pessoas querem divertir-se. Aperceberam-se com a covid, que tudo é muito imprevisível”, opina. E mesmo com menos poder de compra, estão a gastar mais, acrescenta o responsável.
Investir só por investir não valerá a pena, mas se a ocasião for boa, será um passo em frente, por isso, o grupo poderá não ficar por aqui…
De ‘Bella Itália’ a ‘Nosolo’
Começou com um nome que ficou na memória de muitos portimonenses, mas também de muitos visitantes. No entanto, há alguns anos foram obrigados a optar por outro caminho. Marco Lorenzi conta que esta foi uma história engraçada que mudou toda a imagem do grupo.
“Nós tínhamos registado o nome ‘Bella Itália’ e passado alguns anos havia que pagar uma taxa. Naquela altura era 3000 escudos. Nós não sabíamos e, por isso, não pagámos. O que aconteceu é que outra pessoa, um concorrente, registou o nome em nosso lugar. Assim, ele ficou com o nome original e nós mudámos para ‘Nosolo Itália’. Aproveitámos que já detínhamos o ‘Nosolo Água’, em Vilamoura, e adaptamos. A nível de imagem preocupámo-nos muito com a decoração, para além da qualidade do produto”, conclui.