Futebol da Mexilhoeira Grande  duplicou o número de atletas

Texto: Hélio Nascimento | Fotos: Eduardo Jacinto, in Portimão Jornal nº55


O Mexilhoeira Grande Futebol Clube foi fundado em 1963 e sempre se dedicou ao futebol, tendo conhecido, nos últimos tempos, um incremento notável, uma vez que já duplicou o número de atletas – só referentes à formação – e prepara-se para alcançar um registo ainda mais significativo, uma vez que a nova época está agora a arrancar. A última contagem apontava 160, mas as previsões indicam que em 2022/23 serão duas centenas de jovens a vestir as cores da coletividade. 

O Portimão Jornal esteve na freguesia portimonense e juntou o presidente Ricardo Sobral, os vices Samuel Correia e João Gregório e o coordenador técnico Pedro Guerreiro, todos eles com uma enorme paixão pelo futebol, pelo associativismo e com a vontade indomável de serem, através do clube, uma referência cada vez maior junto da comunidade da Mexilhoeira. Não se pense, contudo, que o percurso foi um mar de rosas, inclusive porque o futebol até esteve parado durante alguns anos. 

“Eu e o João fomos jogadores do clube, o Samuel diretor, e, em termos de historial, houve futebol sénior desde sempre. Só mais tarde é que se apostou na formação e tive a felicidade de apanhar um conjunto de pessoas que trabalhavam em prol do clube para que os atletas da terra praticassem futebol”, conta Ricardo Sobral. A equipa sénior jogava no Distrital, lutou por lugares cimeiros, mas, no início do século, surgiram alguns problemas, relacionados com a reformulação do campo. O problema arrastou-se e a direção de então “entendeu que não era viável continuar a competir”.  

Ainda houve uma incursão no futsal, mas o certo é que o futebol parou mesmo na temporada de 2002/03. “Os nossos jogadores eram prata da casa, algumas empresas até ajudavam e contribuíram para que se apostasse também na formação, só que surgiu a tal situação com o campo e os dirigentes quiseram sair”, resume o agora presidente. 

Atletas da casa numa forte ligação à comunidade 
Nos anos seguintes Ricardo Sobral continuou a jogar, no Alvorense, até que novas dificuldades o levaram a meter mãos à obra. “Vamos arranjar apoios para prosseguir, mas, se os conseguir, fá-lo-ei na minha terra”. A determinação foi grande e em 2013 o futebol voltou à Mexilhoeira, com os escalões da formação “a nascerem naturalmente, já que queríamos dar aos outros o que nos proporcionaram, ou seja, que as crianças da freguesia pudessem jogar à bola na Mexilhoeira”. 

Num ápice, Ricardo Sobral, João Gregório e Samuel Correia, todos eles filhos da terra, reativaram a modalidade “com a geração de 2006, a primeira que voltou a ter formação e à qual demos sempre sequência”, numa ascensão lógica e de enorme significado, já que os petizes de então foram evoluindo até aos juvenis, cenário que hoje se mantém.  

“Temos jogadores dos 3 aos 16 anos, em todos os escalões, à exceção dos juniores. A ambição passa por construir bases para termos mais equipas, mais escalões e chegar naturalmente ao futebol sénior, mas sempre com atletas nossos”, afirmam os responsáveis, em uníssono. “Queremos ter uma base sustentável, com atletas da casa, da nossa formação, aumentando assim a mística e a ligação à comunidade”. 

Aproveitando o balanço e antes de se retirar para dar início aos treinos da miudagem, Pedro Guerreiro assinala que nem a pandemia travou o crescimento da coletividade. “Dos bâmbis aos juvenis, temos seis equipas de competição e mais quatro de recreação. A época está a começar e o aumento vai ser substancial, de modo que, depois de termos duplicado para 160, nestes dois últimos anos, o número de atletas, a perspetiva é chegar aos 200”.   


 
“Um ano riquíssimo” em eventos e torneios 
O Mexilhoeira Grande Futebol Clube vai ganhando dimensão, mesmo fora do concelho. Aliás, quarenta por cento dos jogadores são das redondezas da freguesia, incluindo da zona de Lagos. “A captação faz-se boca a boca, em que os miúdos convidam amigos e a nossa dinâmica ganha notoriedade e é reconhecida, inclusive através de muitos torneios e eventos que organizamos, abertos à população. Este ano tem sido riquíssimo nesse aspeto”, salienta João Gregório. 

Entre as muitas e constantes iniciativas, destaque para a Liga Amizade, com dez jornadas e play off, para oito equipas do Barlavento algarvio, nos escalões de petizes (denominada Liga Leonel Francisco) e traquinas (Liga Ester Coelho), consagrando a amizade, com as crianças entusiasmadas por jogarem com colegas de outros clubes. “Demos aqueles nomes porque quisemos homenagear o Leonel Francisco, o dirigente com mais anos de cargos no clube e de uma dedicação ímpar, e Ester Coelho, que também nos dirigiu e deu um enorme apoio nesta fase de reativação, oferecendo as inspeções médicas”, sublinha Ricardo Sobral. 

Outro importante evento é a Liga dos Pequenos Campeões, com três escalões de formação em ação em três campos do concelho, movimentado 600 jogadores de todo o Algarve e que tem sido um sucesso na opinião dos participantes. Depois, há ainda a Festa de Encerramento da época, que distingue os miúdos e envolve a população, realizada no adro da igreja, com a presença do Padre Domingos, sem esquecer o Festival da Juventude, que decorreu nos primeiros dias do mês, “com casa cheia, durante o qual apresentámos todos os nossos jogadores, com um desfile ‘à Champions’, efetuado no Polidesportivo da Figueira”.    

A lista de torneios encerra com a Challenge Cup, promovido pela autarquia e com equipas internacionais, e com a Boni Cup, organizado por espanhóis e sempre com elevada dinâmica.   
 
“Dos únicos clubes onde nada se paga” 
“Queremos garantir que nenhum miúdo fica de fora e também por isso ninguém paga mensalidade”, revela Ricardo Sobral, adiantando que a coletividade tem apoios privados, com donativos pessoais e de empresas, para além da ajuda da Câmara de Portimão e da Junta de Freguesia da Mexilhoeira. “Não sei se somos o único, mas somos, de certeza, dos únicos clubes onde nada se paga para ‘jogar à bola’, tal como era no nosso tempo”. 

Os miúdos são leais ao emblema e, por isso, raros os que mudam de ares. Evoluem no relvado sintético do Complexo da Mexilhoeira, que, outrora, foi um pelado. As infraestruturas conheceram melhoramentos ao longo dos anos, apesar das divergências ocorridas na altura do interregno do futebol. Agora, “gerimos e usufruímos o espaço, tendo assinado um protocolo com a Câmara, para um período de 20 anos e renovável”. O campo, já se percebeu, está associado ao Complexo Desportivo, que tem piscina, pavilhão, posto médico e uma gestão própria.

 “Podemos utilizar estas infraestruturas mediante um pedido ao Município, mas queremos expandir a área junto ao relvado, tudo, naturalmente, com o respetivo aval”. A sede está instalada no centro da vila, “mas a base da nossa atividade é aqui, o que permite maior dinâmica, e, daí, pretendermos que outras valências sejam desenvolvidas neste local”, sublinha o presidente, referindo ainda que o clube tem cerca de 220 associados. 
 
Necessidade de uma carrinha e lucro no final do ano 
“O nosso apanágio e a nossa missão são simples: permitir aos miúdos que joguem à bola. Fomos buscar o Pedro Guerreiro para coordenar e a qualidade do seu trabalho tem contribuído para o aumento de atletas e para uma maior ambição”. Ganhar não é o principal objetivo, mas a vontade cresce de ano para ano e nos escalões mais baixos há cada vez mais interessados e um nível já bastante apreciável. 

“Todos lá fora elogiam o nosso trabalho e até somos reconhecidos pelos espanhóis e ingleses que participam nos torneios. Destacam o sentido de organização e as referências circulam, inclusive, nas redes sociais”, garante Samuel Correia, vice-presidente e diretor desportivo.  

A curto prazo, para além da substituição do sintético e da criação das tais infraestruturas, o Mexilhoeira deseja investir numa carrinha, para facilitar o transporte das equipas, que agora se deslocam em autocarros cedidos pela Junta e nas viaturas dos pais dos atletas. A comunidade anda de braço dado com o clube – a Festa de Natal é outro bom exemplo – e a mensagem continua a ser transmitida com êxito, relevando a importância de praticar desporto e ajudando à formação cívica dos agora jovens. 

“O orçamento da época que findou ultrapassou os 100 mil euros, mas, felizmente, vamos ter lucro no final do ano”, regozija-se Ricardo Sobral, com um sorriso extensivo aos colegas de direção. Os apoios privados e públicos e os eventos dão para equilibrar as contas, num quadro em que apenas os treinadores recebem um simbólico subsídio.

As memórias continuam bem vivas

Ricardo Sobral tem uma herança grande em ombros, que, porém, lhe transmite ainda mais força de vontade. Tudo isto porque o seu pai, José Francisco Sobral, falecido em 2016, é um exemplo e uma incontornável referência na freguesia, da qual foi presidente. Além disso, teve o cargo de vereador na Câmara Municipal de Portimão, integrou os órgãos sociais da Sociedade Recreativa Figueirense e foi presidente da Assembleia Geral do Mexilhoeira Grande Futebol Clube. A Escola Básica tem o seu nome.

“Há um conjunto de valores a preservar e importa que as memórias continuem vivas. A relação que existia e que mantinha com a freguesia dá sentido ao orgulho de poder ser agora eu a tentar prosseguir esse caminho”, acentua Ricardo.    

Quarteto da equipa técnica ganha títulos no futsal

O Mexilhoeira Grande tem Pedro Guerreiro como coordenador técnico e mais 18 treinadores, entre principais e adjuntos, incluindo três técnicas que se sagraram campeãs do Algarve de…futsal. Ana Rita Joia, Tatiana Bastos e Andrea Furtado representam o Parchalense, clube em que Pedro Guerreiro é o treinador, e a época foi de arromba! “Ganhámos o Campeonato Distrital, a Taça e subimos à II divisão nacional, o que acontece pela primeira vez, naquilo que é um registo único a nível do Algarve”, conta o coordenador técnico do Mexilhoeira. O trio de campeãs tem formação desportiva e académica, agora com este complemento do treino, além, claro, de serem praticantes de futsal.   

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