Equipas femininas sub-16 e sub-21 dão novo alento ao andebol do LAC

Texto e foto: Hélio Nascimento, in Lagoa Informa, n.º196

O apuramento das equipas femininas de andebol de sub-16 e de sub-21 do Lagoa Académico Clube (LAC) para a segunda fase dos Campeonatos Nacionais vem provar que a coletividade está de novo em alta e a confirmar os pergaminhos de mais de três décadas de existência.

“É um momento novo, depois de dois anos de covid-19 e de algumas falhas na captação ao nível do andebol feminino, sobretudo nas sub-10, sub-12 e sub-14, em que houve diminuição no número de atletas”, revela ao Lagoa Informa Fernando Fernandes, responsável pelas sub-16 e um nome grado na história do clube e da modalidade. 

“Aquele fator, felizmente, reverteu-se. Agora temos 70 atletas no andebol feminino, 40 das quais nos escalões de base, o que nos dá um grande ânimo para que todo o processo volte ao registo dos anos anteriores”, prossegue, adiantando que, sobre os citados apuramentos, o das sub-21 “estava previsto e dentro das nossas expetativas”, enquanto o das sub-16 “podia não acontecer, por se tratar de uma equipa nova que engloba várias jogadoras do escalão inferior”. 

A verdade é que, mesmo alinhando com algumas sub-14, as sub-16 tiveram um excelente desempenho e carimbaram o passaporte para a fase seguinte. 

O atual número de atletas, na vertente feminina, vem de encontro ao que o LAC já teve, com o aliciante de mais de 50 por cento jogarem nas equipas de formação. No total, são 180 os andebolistas do clube, incluindo os masculinos, representando 13 equipas. Dos sub-16 para cima todas se apuraram, juntando ao lote os sub-16, sub-18 e sub-20 masculinos. 

Os seniores, por sua vez, atuam na II Divisão Nacional, com um balanço a corresponder às expetativas. O coordenador da modalidade é Pedro Pinheiro, que esteve ligado ao Benfica e vai na segunda época em Lagoa. 

Formar bem para ganhar mais vezes 

A captação tem por base o concelho, agora com uma maior divulgação junto das escolas do primeiro ciclo, uma aposta que é para manter e intensificar. “Não me lembro de uma equipa de sub-14 ser composta por 24 elementos, um número que supera o que habitualmente é norma. Isto dá-nos reais perspetivas de desenvolver um bom trabalho, na linha do que já foi feito. Muitas das atuais sub-21 foram campeãs nacionais de infantis”, destaca Fernando Fernandes, um dos fundadores do LAC, que já orientou diversas equipas, nomeadamente os seniores masculinos (que subiram então de divisão), e agora ‘pegou’ nas sub-16, um escalão que não existia na época transata. 

“Esta equipa é nova, repito, e, na circunstância, deparamos com algumas dificuldades. O apuramento foi alcançado, mas, nesta segunda fase, vamos apanhar adversários de peso e só passa um conjunto. Lutamos sempre pelo melhor, muito embora, de momento, seja importante proporcionar outro tipo de vivências às atletas, competindo com equipas de fora do Algarve. A margem de progressão é enorme e queremos, isso sim, potenciar as nossas jogadoras”, salienta o professor, garantindo que, ao contrário das sub-21 e dos masculinos, o sonho de as sub-16 seguirem em frente é mais difícil. 

A segunda fase do Nacional começa dia 13 de março e o LAC vai medir forças com Passos Manuel, Boa Água de Setúbal e Ginásio do Sul. “A nossa filosofia é a mesma: queremos ganhar, mas, antes disso, está a formação. Naturalmente que sim. A formação e depois a especialização. Quem forma bem tem sempre mais hipóteses de ganhar, e, por isso, seremos sempre um clube formador”, assinala Fernando Fernandes.   

A pensar no escalão de seniores 

Carlos Abraul cumpre a segunda temporada no LAC e é o responsável pela equipa de sub-21. Tem 40 anos, é natural de Leiria e há 23 que está no Algarve, com uma atividade dividida entre o emblema de Lagoa e o Vela de Tavira. “A campanha está a ser interessante e acredito que temos potencial para fazer algo de bastante positivo. Temos, também, de pensar no futuro, isto é, no escalão de seniores, o que depende sobretudo delas e da forma como encararem esse desafio”. 

As sub-21 já fizeram dois jogos na segunda fase nacional. Primeiro, ganharam ao Vitória de Setúbal, por 32-11, e, agora, na jornada de 4 de março, perderam com o 1º Maio da Marinha Grande, por 21-15. O outro adversário deste grupo é o Benfica, com quem, curiosamente, o LAC já jogou na fase inicial. 

“Perdemos em casa e ganhámos em Lisboa, ou seja, o equilíbrio é notório. Considero que as minhas atletas redescobriram o seu valor e ficaram mais otimistas à medida que os jogos iam decorrendo, e agora, admito, temos o objetivo de tentar chegar de novo à discussão do título”, não obstante a derrota com a turma da Marinha Grande, que disputa o Nacional da I Divisão e tem algumas jogadoras que também atuam nas sub-21 e têm assim enorme rodagem. 

Para a próxima e decisiva fase passa o primeiro classificado, enquanto o segundo terá de realizar um play-off com o representante da Madeira. Ciente de que muito está ainda para acontecer, Carlos Abraul assinala que a sua equipa tem apenas 13 jogadoras – nem todas conseguem comparecer na totalidade das sessões – e por isso recebe o “auxílio de algumas sub-16, que vêm treinar connosco, contribuindo para que haja maior intensidade na preparação”. As sub-21 treinam três vezes por semana, sendo que, em duas dessas ocasiões, são alvo de trabalho físico, a cargo de Gonçalo Bárbara, um ‘personal trainer’ que dá uma prestimosa ajuda à ‘causa’. 

Manter a máquina afinada 

Para Carlos Abraul é a primeira experiência na competição feminina ‘a sério’, já que antes dirigira escalões de formação. Na época passada treinou os sub-16 masculinos, que também chegaram à fase final. 

“As diferenças? Há algumas, sobretudo a nível das relações pessoais, mas, mantendo o foco e a disciplina, tudo fica mais fácil. Muitas das minhas pupilas jogam andebol há vários anos, sabem o que fazem, pelo que o importante é afinar a máquina”. Com um sorriso, quiçá um franco sinal do prazer que sente e transmite com este desiderato, o treinador prossegue o raciocínio: “O mais desafiante é manter a máquina afinada. Não perder a motivação é algo que requer muito a nossa atenção”. 

Num olhar mais abrangente sobre o andebol do Lagoa Académico Clube, surgem algumas revelações. É que Carlos fez parte da equipa que subiu da III Divisão à elite e foi treinado, então, pelo carismático Manuel Manita, naquilo que rotula de “bons tempos”. Hoje, o LAC “continua a trabalhar bem, especialmente na formação, como provam os sucessivos apuramentos para as fases finais, sinal de que se está no bom caminho”. 

Para além dos resultados, o treinador quer ver perfeição no trabalho desenvolvido com a sua equipa. “Gostaria que elas vissem o que eu vejo, mas acho que nem todas lá chegaram. É que muitas das atletas têm valor para dar o salto”, garante, explicando que “o futuro é incerto, face aos estudos, à família e ao amadorismo do andebol no Algarve, o que pode dificultar o salto para uma equipa profissional”. Mesmo assim, e apesar de o LAC não ter agora uma equipa de seniores femininos, a porta está entreaberta para uma mão cheia de talentosas jogadoras. 

A última nota vai para a atividade de Carlos Abraul enquanto… jogador. É verdade. O técnico continua a competir, pelos seniores do Lagoa, atuando a central. “Comecei com dez anos, tenho quarenta, o vício e o prazer são grandes e, felizmente, nunca tive lesões complicadas. Joguei no Atlético Sismaria de Leiria, depois aqui e no Vela de Tavira, até voltar a esta casa. Estamos a fazer um campeonato razoável e o objetivo é assegurar a permanência na II Divisão Nacional”.  

CONSTANÇA PEREIRA – PONTA E PIVÔ, SUB-16 

“A equipa está preparada para esta segunda fase” 

“Jogo andebol há cerca de três anos, sempre no LAC. Antes fazia natação, mas a partir do momento em que experimentei o andebol passei a identificar-me mais com esta modalidade, talvez devido a haver mais garra e mais contacto. Tenho 15 anos, frequento o 10º ano, de Ciências. Gosto muito de desporto, embora pense que o curso está em primeiro lugar, até porque continua a ser difícil conciliar treinos e jogos com aulas e muitos testes. A equipa está preparada para esta segunda fase, sabendo que vamos apanhar adversárias mais difíceis, mas, estando unidas, tudo é possível”. 

MARIANA FLORO – LATERAL E PONTA ESQUERDA, SUB-16 

“Estamos mais fortes” 

“Sempre pensámos que podíamos passar a fase inicial, mas foi preciso esforço e dedicação. Agora vai ser mais complicado, pois teremos pela frente equipas mais evoluídas. Mas nós também somos fortes. Já tive uma experiência em fases finais, quando integrei o plantel das sub-17. Jogo no LAC há oito anos. Não vejo que o andebol esteja sempre presente na minha vida, mas também não está no meu pensamento uma paragem nos tempos mais próximos. Tenho 16 anos, ando no 10º ano de Ciências e Tecnologias. A minha referência é a Soraia Lopes, mas também gosto do Kiko Costa e do Iturriza”.

BEATRIZ RAINHA – CENTRAL, SUB-21 

“O andebol é a minha grande paixão”

“Tenho 20 anos, jogo há dez, sempre no LAC, e o andebol é a minha grande paixão. Talvez seja uma coisa de família, que passa de geração em geração, já que a minha mãe também aqui jogou. É um caso de amor e dedicação. Estou no 12º ano de Desporto, na ESPAMOL, e quero seguir o curso no ISMAT de Portimão. O meu objetivo é vir a ser treinadora ou ter uma função relacionada com o desporto e o andebol em particular. Sobre o campeonato, o apuramento estava no nosso horizonte. Agora é mais complicado, mas já ganhámos ao Benfica e vamos tentar fazê-lo de novo. Fui campeã nacional de infantis, em 2013, e sempre quis mais títulos”. 

HELENA NETO – LATERAL, SUB-21

“Estamos bastante motivadas”    

“Jogo desde os 11 anos, tenho 20 e já fui campeã nacional de infantis. O LAC tem sido a minha casa, apesar de ter atuado uma época no Gil Eanes de Lagos. O andebol é uma paixão grande. Comecei a praticar devido à influência de algumas amigas. Atingida esta segunda fase nacional, vamos procurar seguir em frente, com o pensamento no primeiro lugar. É difícil, mas estamos bastante motivadas. Estudo Gestão, em Portimão, e, embora goste muito de fazer desporto, acho que o meu futuro passará pela gestão”.

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