Defendida criação de fundo de apoio para municípios afetados pelas algas invasoras

A Associação Limpeza Urbana – Parceria para Cidades + Inteligentes e Sustentáveis (ALU) refere que a conferência “Algas Invasoras: Desafio para Praias mais Limpas”, realizada em Lagos, no dia 27 de novembro, permitiu concluir que é necessário existir mais cooperação entre autarquias, maior envolvimento da comunidade científica, valorização económica das algas recolhidas e a criação de um fundo de apoio governamental para os municípios afetados

A ALU, que promoveu a conferência com o apoio do município lacobrigense, explica que a espécie Rugulopterix okamurae tem origem na costa asiática, nomeadamente no Japão e na Coreia do Sul, e foi detetada pela primeira vez em Portugal continental em 2021, na praia Dona Ana, em Lagos. Cresce nas rochas e, geralmente, aparece quando a água atinge temperaturas altas e quando as marés estão agitadas, o que faz com que as algas se soltem e se acumulem nas praias. 

“Esta problemática tem piorado ano após ano, tendo consequências diretas na qualidade ambiental, no turismo, na economia local e no bem-estar da população das cidades costeiras, especialmente no barlavento algarvio”, salienta a ALU. Por isso, esta associação decidiu reunir autarquias, academia e especialistas do setor ambiental para promover o debate sobre as melhores abordagens e soluções para gerir o processo complexo de recolha, tratamento e gestão sustentável desta espécie invasora, assim como para a limpeza das praias afetadas.

Hugo Pereira, presidente da Câmara de Lagos, e Luís Almeida Capão, presidente da direção da ALU, deram início à conferência, que incluiu intervenções de uma perspetiva mais científica de Rui Santos, do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, e de Conceição Gago, da Agência Portuguesa do Ambiente. 

Rui Santos defendeu que “através de investimento, a comunidade científica pode cooperar com investigação, mapeamento e previsão, permitindo uma intervenção com a devida antecedência”. E adiantou que, além disso, “é imprescindível que exista uma maior valorização económica deste recurso, através de biorrefinarias que possibilitem a reutilização do mesmo, por exemplo para rações, fertilizantes e fibras para a indústria têxtil”.

Conceição Gago, por sua vez, garantiu que “a presença desta espécie exótica com grande capacidade de dispersão e colonização não afeta a qualidade da água balnear, sendo ainda necessária regulamentação (ICNF e DGRM) relativamente às soluções para resolver o problema”.

Através de videochamada, diretamente de Espanha, Francisco Cerdan, delegado de turismo e praias da Costa del Occidental, região também afetada, partilhou a sua experiência, destacando a importância da cooperação intermunicipal e da necessidade de ter em consideração que a alga é um resíduo muito distinto do doméstico.

Numa perspetiva mais prática, foram apresentadas iniciativas inovadoras de empresas associadas à ALU, como a Almovi e a Certoma, que permitem gerar o menor impacto possível na remoção das toneladas de algas dos areais. No seguimento, Easy Harvest, uma startup nacional que desenvolveu uma tecnologia inovadora para recolher as algas invasoras da água e transformá-las num recurso, anunciou que já se encontra a intervir em Lagos, através de aspiração em pleno mar, que permite antecipar a chegada da espécie e a sua acumulação nas praias. Com a colaboração de pescadores locais, estão a ser retiradas 20 a 30 toneladas em seis horas, relata a ALU, em nota de imprensa.

Luís Bandarra, vereador do Ambiente da Câmara de Lagos, revelou que, no espaço de quatro anos, a autarquia já investiu cerca de 348 mil euros na remoção das macroalgas das praias do concelho, nomeadamente na Batata, Dona Ana, Luz e Meia Praia. Segundo ele, trata-se de encargos financeiros inesperados que obrigam a constantes revisões orçamentais e a uma constante preocupação do impacto económico e turístico. Afirmou, por outro lado, que as seis mil toneladas recolhidas já foram entregues a agricultores das regiões do Vale da Lama e Sargaçal, contribuindo para um maior desenvolvimento da produção local.

“Nesta conferência, ficou muito evidente que as algas invasoras representam um fenómeno complexo, ainda sem soluções definitivas, que está a causar muitos transtornos aos municípios afetados. Estas cidades estão a suportar sozinhas os custos elevados de limpeza das praias e veem a sua economia e a qualidade ambiental ameaçadas. O caminho para encontrar uma resposta integrada e colaborativa a este desafio começou aqui, com este debate, e a Associação Limpeza Urbana está empenhada em dar continuidade a esta discussão até serem encontradas soluções ambientais económicas e preventivas que não impactem a qualidade de vida da comunidade costeira, nem ameacem o turismo, quer na atração de visitantes, quer na proteção do tecido empresarial nacional”, afirmou Luís Almeida Capão, presidente da direção da ALU.

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