Abel Santos: “Esta é uma recordação para o resto da minha vida
O Partido Socialista comemorou, a 19 de abril, o seu 48º aniversário e decidiu homenagear todos os presidentes de Câmara eleitos em 1976 pelo PS, numa cerimónia realizada no Cineteatro Capitólio, Teatro Raul Solnado, em Lisboa. Entre eles, esteve Abel Santos, o primeiro presidente de Câmara de Lagoa eleito depois da revolução e que se manteve em funções entre 1976 e 1985. Em conversa com o Lagoa Informa, o ex-autarca recordou alguns momentos desse período e agradeceu a homenagem.
Que significado teve esta homenagem para si?
Acho que foi muito justa e um gesto importante para com todos os autarcas que em 1976 iniciaram a sua atividade. O partido teve uma atitude gentil e simpática, que agradeço. Sempre defendi que as homenagens devem ser feitas em vida e isso foi importante. Foi expressiva e esta é uma recordação para o resto da vida. Foi também uma ocasião para recordamos o trabalho que fizemos durante anos em prol da comunidade e, no meu caso, em prol dos lagoenses.
O que recorda do seu tempo de autarca pós 25 de Abril?
Trabalhei nas finanças desde 1971 e, nessa altura, o edifício da Câmara Municipal era dividido com o serviço das finanças. Já acompanhava de perto as reclamações das pessoas e as dificuldades que existiam. Quando cheguei, em 1976, não havia saneamento básico, não havia viaturas, não havia técnicos. Encontrei uma Câmara miserabilista. Mas sabia ao que ia. Na altura, com 29 anos, consegui dar conta do recado. Era o autarca mais novo do Algarve e foi o maior desafio da minha vida. Este desafio impediu-me de ir estudar para a universidade, mas acho que tirei 9 ou 10 cursos na Câmara Municipal, nas mais diversas áreas, da cultura, ao saneamento, à arquitetura… Não me arrependo.
Qual foi o momento mais marcante do seu tempo de autarca?
Depois de eleito, foi termos planificado a FATACIL e trazido à inauguração o Presidente da República, Ramalho Eanes, e o primeiro-ministro Mário Soares a encerrar a feira. Mais marcante ainda foi fazer um acordo com a secretaria de Estado do Ambiente para tentar fazer face aos interesses e pressões imobiliárias, de modo a impedir o que se passava em Armação de Pêra e na Praia da Rocha. Nessa altura, não havia legislação e só esse acordo permitiu que o concelho fosse defendido e não fossem construídos mais empreendimentos sem enquadramento arquitetónico e prédios de grandes dimensões.
Esse foi um dos marcos da sua governação?
Penso que foi um dos mais importantes e que ainda hoje muita gente o reconhece, pois graças a isso temos um concelho excecional do ponto vista urbanístico e sem os problemas que existem noutros. Mas na altura, demos também um novo impulso à cultura…
Qual foi o período mais difícil?
Foi querer montar o palco da festa da Nossa Senhora da Luz e não ter dinheiro para os pregos e para os materiais do palco. Foi em 1977.
Como resolveu o problema?
Não nos deram fiado na única drogaria que havia em Lagoa na altura, pelo que fui pedir a uma de Portimão que nos desse os materiais e fomos pagar só mais tarde. Este era um período muito difícil, só tínhamos três viaturas na Câmara, havia muita pobreza. Não havia água em muitas partes do concelho. Ao nível de edifícios, tínhamos o Convento de S. José muito degradado, o edifício da Câmara também o estava. Nem um armazém tínhamos para as viaturas.
Que análise faz ao atual panorama autárquico lagoense?
Tenho sido um observador atento da política local e regional, apesar de estar afastado. Vejo que ao longo dos anos algo foi feito, mas com milhões. No meu tempo, eu fiz coisas com tostões! Acho que o concelho podia estar mais evoluído em certas áreas e as populações ainda sofrem com a falta de algumas infraestruturas e de habitação. Nestes últimos 30 anos, só o bairro de Poço Partido e o de Porches é que foram construídos. Antes destes, foram todos iniciados no meu tempo de autarca. O PSD e o PS podiam ter feito mais neste período. Agora espero que o PS continue a governar o concelho e penso que algo de positivo vai acontecer sem grandes sobressaltos, independentemente dos cenários que se possam antever.
Quais são as suas expetativas para as autárquicas?
Uma vitória do PS e o partido terá todo o meu apoio. Luís Encarnação merece o meu apoio, é um homem idóneo, competente e com condições de levar o concelho para diante, naquilo que ainda falta concretizar.