ACD Ferragudo: Campeãs distritais de basquetebol só com vitórias vão à procura de mais conquistas
Texto: Hélio Nascimento, in Lagoa Informa nº193
Treze vitórias em outros tantos jogos! Este percurso imaculado das miúdas sub-18 da Associação Cultural e Desportiva de Ferragudo valeu o título distrital do escalão e o passaporte para a fase nacional, que arranca no fim de semana de 4 e 5 de fevereiro. “Trabalhámos bem e conseguimos colocar em prática o que fizemos e treinámos. É um bom processo, repito, que não seria prejudicado se, porventura, tivéssemos perdido algum jogo”, argumenta Nuno Viegas, o treinador, em conversa com o Lagoa Informa.
“Ganhámos sempre e a satisfação é ainda maior”, prossegue o técnico, de 33 anos, que chegou na época passada, do Porto, para integrar o projeto de José Calabote, o coordenador técnico de todo o basquetebol.
“Uma coisa muito engraçada é que elas querem sempre trabalhar, mais e mais, e puxam por nós, o que ajuda quem está longe de casa”, adianta, antes de mais uma sessão na Nave de Ferragudo, o palco por excelência onde evoluem as muitas equipas do clube. Neste treino não participa a capitã Mafalda Reis, a recuperar de uma lesão, mas o seu regresso está para breve.
Cerca de noventa por cento das jogadoras já se conhecia, mesmo atuando em escalões abaixo, numa espécie de núcleo duro, ao qual se juntaram mais quatro atletas, duas delas açorianas (Matilde Escobar e Maria Inês Caetano), que “vieram para a Academia e juntaram-se à equipa, e, tal como todas as outras, têm enorme potencial e muito para crescer”, sublinha Nuno Viegas, referindo que o futuro “depende sempre de um conjunto de fatores, em que temos de juntar a escola e o basquetebol”, mas, como são muito novas, “podem almejar os melhores resultados”.
O objetivo de chegar à derradeira decisão
A primeira fase nacional, na zona sul, vai agora juntar a ACD às equipas de Lisboa e Setúbal, num grupo de quatro, em que as duas primeiras disputarão, depois (com mais duas do outro grupo do sul em que devem figurar representantes do Alentejo), a final four nacional, então com os representantes apurados na zona norte. “Se chegámos até aqui, podemos sonhar com a fase final nacional, sabendo que é difícil, inclusive porque há clubes com uma maior base de atletas”, vinca o professor.
Para além do valor intrínseco das jogadoras, Nuno Viegas insiste na ideia de que “elas querem continuar a trabalhar” e são conhecedoras das dificuldades, algo que “nós também vamos criar aos adversários”, com o claro objetivo de jogo a jogo chegar à derradeira decisão.
“Claramente, vamos deparar com outra realidade. As equipas de Lisboa têm sempre muitas jogadoras e apresentam um ritmo diferente, o que até pode ser bom para nós, para sair do nosso registo habitual”, admite o treinador, acreditando que o rendimento pode melhorar com o desenrolar das partidas. “Vamos lutar por mais coisas”, atira, com um sorriso, feliz por dirigir um grupo “sempre interessado e que quer evoluir, o que dá ainda mais prazer”.
O percurso da equipa na fase final do Algarve foi também perfeito, como já se disse, com três vitórias em outros tantos jogos: 55-22 ao Ginásio Olhanense, 64-42 ao Portimonense e 56-36 ao Imortal de Albufeira. A direção da coletividade agradeceu a “todos os pais e apoiantes que fizeram destes dias algo de inesquecível”, deixando uma “palavra especial” para a Freguesia de Ferragudo e Município de Lagoa, “que mais uma vez foram inexcedíveis no apoio à realização do evento”.
“Formar a ganhar” é o lema
A proeza da equipa feminina de sub-18 foi também comentada por José Calabote, o responsável pela modalidade e treinador das seniores, que dirige ainda a Academia, onde 15 atletas fazem do basquetebol a sua ‘profissão’, com os estudos à mistura. “Sem dúvida que é um motivo de grande orgulho, até porque trabalhámos imenso ao nível deste projeto, fundamentalmente para formar jogadores. Mas a ganhar é ainda melhor”, releva o coordenador.
“É também uma motivação maior para as atletas, para que sintam que este trabalho é coerente, e para nós, que assim fazemos a devida e positiva avaliação”, prossegue José Calabote, aludindo à “cereja em cima do bolo” nesta caminhada irrepreensível. “Foi deveras agradável e elas queriam muito ganhar”, insistindo no lema “formar a ganhar”, que norteia toda a atividade do emblema de Ferragudo.
“Em termos gerais, está tudo a correr bem e estamos nas fases finais de todos os escalões de formação”, apontando as equipas de sub-18 masculinos, sub-14 femininos e suib-16 femininos. A única exceção, que confirma a regra, é a equipa de sub-14 masculinos, que apenas agora começou a competir a um nível mais elevado.
As seniores no bom caminho
Calabote treina as seniores, cujo trajeto justifica igualmente os maiores elogios: 1º lugar na I Divisão, com 10 vitórias e apenas uma derrota em 11 jogos. “O grupo é curto e temos de recuperar jogadoras, que se ressentem, o que pode levar a algumas oscilações. O objetivo é tentar a subida na segunda fase”. Para já está tudo bem encaminhado e chegar ao patamar mais elevado do basquetebol nacional feminino é a grande aposta.
As últimas declarações são sobre a Academia, que vai no segundo ano de atividade e continua a marcar pontos. “Estamos a melhorar, com mais jovens, alguns das ilhas e de fora de Portugal. É gratificante ver este crescimento e estamos sempre a aprender, inclusive com alguns erros”, explica José Calabote, que trabalha com 15 atletas, o número para já desejado, uma vez que “não dispomos ainda de condições e até de espaço para acolher mais gente”.
Em todo este processo do basquetebol da ACD Ferragudo, que é transversal aos conjuntos dos diversos escalões etários, acrescente-se que muitas jogadoras atuam em mais do que uma equipa. Por exemplo, nas sub-18, algumas atletas jogam nas seniores. E, nestas sub-18, sete delas têm 16 anos e quatro são ainda mais novas, ou seja, o potencial é imenso, atendendo à idade precoce com que muitas evoluem já em escalões acima.
Leónia Contenda, a sub-capitã que elogia os adeptos
“Ter sido campeã em casa, com o pavilhão cheio e o apoio incondicional dos nossos adeptos, foi espetacular. Que grande acolhimento! No jogo da final, então, o que veio das bancadas deu-nos mais força e maior motivação”, admite Leónia Contenda, sub-capitã, que falou à nossa reportagem na ausência da capitã Mafalda Reis, lesionada. A atleta tem 16 anos, joga basquetebol há oito, sempre na ACD, e estuda artes. “É sempre importante conquistar um título distrital e marcar presença nos Nacionais”, reconhece a jogadora, com uma opinião bem vincada sobre o que é envergar a braçadeira de capitã.
“Dá mais responsabilidade, mas é algo que sempre gostei, porque também me motiva. Gosto de impor respeito, entre aspas, e ter sido nomeada pelo treinador é uma honra”, sublinha, sem se esquecer de referir que outras colegas têm a mesma responsabilidade quando ‘comandam’ a equipa dentro de campo. Por estes dias, o foco, como é de calcular, está já virado para os Nacionais, onde o “impacto é maior”. Leónia adianta que as equipas adversárias desta próxima fase “são mais rápidas e têm um ritmo bastante forte, mas nós podemos chegar longe”.
Leonor Peixinho, a MVP da fase final
Leonor Peixinho foi considerada a melhor jogadora da fase final do Distrital, com atuações sóbrias e valiosas que lhe valeram, precisamente, essa distinção de MVP. Tem 16 anos, joga basquetebol há seis (começou no Portimonense) e estuda economia em Lisboa, no 11.º ano, o que a obriga a viajar todos os fins de semana da capital até ao Algarve e à Nave de Ferragudo, para treinar e jogar. “É um bocado cansativo, claro, mas acaba por ser uma rotina a que já estou habituada desde a época passada”, confessa a jogadora que costuma atuar, também, pelas seniores.
“Ter sido considerada a MVP foi uma sensação muito boa, e termos ganho o título de sub-18 foi ainda melhor. Trabalhámos no duro e conseguimos alcançar o nosso objetivo. Para mim, em termos individuais, foi o primeiro troféu da carreira”, diz Leonor, que já tinha outras conquistas coletivas. O facto de a ACD ostentar um registo cem por cento vitorioso é outro motivo de enorme regozijo, mas, agora, vem aí a próxima fase. “Vamos ver que adversárias apanhamos pela frente. Seja como for, a ideia é atingir a fase nacional e discutir o título. Vai ser mais difícil, sabemos isso, porque o nível competitivo é diferente, mas estamos prontas para trabalhar mais”, promete Leonor, do alto dos seus 1,84 metros, uma jovem que joga como ‘poste’ e que tem marcado presença nos trabalhos da seleção nacional de sub-16.
O PLANTEL
Beatriz Alberto
Cristiana Fernandes
Diana Conceição
Joana Bárbara
Júlia Branca
Laura Reis
Leónia Contenda
Leonor Peixinho
Mafalda Reis
Maria Inês Caetano
Mariana Amaro
Matilde Escobar
Matilde Frazão
Matilde Ventura
Raquel Torrão
TREINADOR PRINCIPAL
Nuno Viegas
TREINADORES ADJUNTOS
Carlos Reis e Mónica Ferreira
COORDENADOR TÉCNICO
José Calabote
PRESIDENTE
Nuno Pedro