Algar: Biogás para abastecer dez mil famílias
Quem pensa no aterro, não associa de ‘caras’ muitas vantagens ao local, além da deposição dos resíduos indiferenciados, mas há uma que se torna muito importante, quer para o ambiente, quer para a produção de energia e aproveitamento dos detritos. No aterro é produzido biogás que permite a criação de energia.
Durante a visita da Algarve Vivo àquela infraestrutura, Valter Ferreira, técnico da Algar no Aterro Sanitário do Barlavento, explicou que de dentro de cada célula, através das bactérias anaérobias e matéria orgânica, são expelidos 50 gases. O que tem maior percentagem é o metano e este tem poder calorífico. Assim, há duas vantagens na sua captação. Uma delas é o facto de ser possível produzir energia e o outro é “evitar que seja enviado para a atmosfera e que contribua para o efeito de estufa”, defende.
O processo de aproveitamento passa por fazer perfurações verticais e horizontais à medida que a massa de resíduos é construída, “sendo colocados tubos de Polietileno de Alta Densidade (PEAD), que têm ranhuras e permitem que todo o gás que está à volta flua para o interior da tubagem e seja conduzido até às unidades de produção de energia elétrica”, esclarece.
Neste momento, o Aterro do Barlavento tem duas unidades com 1,6 megawatts de capacidade instalada sempre, porque estes equipamentos trabalham 24 horas por dia. Isto significa que “seria possível abastecer dez mil famílias, se, no limite, acabasse a energia elétrica da rede no Algarve”, assegura.
“Temos 32 perfurações na célula A, 124 na B, 82 na D. É um âmago de 250 a 300 poços efetuados para captar todo o biogás para a produção de energia elétrica. E temos que andar sempre à procura de mais, porque precisamos de produzir ainda mais. O que nos motiva a trabalhar mais, porque se tivéssemos excedente poderia ir para atmosfera e isso não existe. Estamos a retirar todo o biogás existente”, garante ainda.
Os estudos indicam que a célula poderá ter uma vida útil de 15 anos, mas uma das intermédias foi fechada em 2002, ou seja, há 18 anos e ainda tem biogás, que está a ser captado, apesar de estar quase a ficar inerte, acrescenta. “As células vão ficando ‘engelhadas’ e vão ‘acamando’. Em 2007, esta tinha mais cinco metros de altura”, exemplifica. A energia produzida é enviada para a rede nacional, vendida pela Algar.
Quatro células em 22 anos
O Aterro Sanitário do Barlavento está a funcionar desde 1998 e já conta com quatro células para a deposição dos resíduos urbanos indiferenciados. O processo passa por abrir um ‘buraco’ gigante no solo, que depois é impermeabilizado para garantir que o solo não fica contaminado e onde todos os dias os resíduos recolhidos são depositados. Quando está cheio é tapado. Segundo Valter Ferreira, técnico da Algar, a primeira célula, identificada por célula A foi aberta em 1998 e fechada em 2002, com 600 mil toneladas de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) indiferenciados. Foi então aberta a célula B, que ficou completa em 2011, data em que foi aberta a célula C, que esteve em funcionamento até 2019. Hoje, os RSU, recolhidos pelas Câmaras Municipais entre Vila do Bispo e Albufeira, são colocados na célula D. O objetivo da Algar é fazer o bom acondicionamento destes detritos, evitando qualquer problema de segurança, libertação de gases na atmosfera ou escorrências.
Algar também separa
O engano quando se trata da deposição dos resíduos recicláveis ainda existe e persiste na sociedade. Apesar das diversas campanhas de sensibilização, ainda há quem troque as cores ou não perceba que há materiais, que apesar de serem plástico, vidro ou cartão não se enquadram nos critérios da seleção. É o caso das lâmpadas, das caixas de pizza cheias de gordura ou dos pacotes de leite que são colocados no ecoponto azul, quando deveriam ser colocados no amarelo. Isso obriga a que haja uma importante tarefa de triagem depois da separação que é feita em casa e depositada em cada ecoponto. No Aterro do Barlavento, há assim, um grande armazém, com espaços diferenciados para cada material, onde chegam os resíduos já separados. “Cada motorista faz uma rota e recolhe, por exemplo, tudo o que está no ecoponto amarelo. Chegam ao espaço e depositam-no no local destinado a cada tipo de material, ou plástico ou cartão”, explica ainda durante a visita guiada Maria Barros, da comunicação da Algar.
Os estudos indicam que uma célula poderá ter uma vida útil de 15 anos. Uma das intermédias foi fechada em 2002 e ainda tem biogás.
Na Central de Triagem de Resíduos de Embalagens de Loulé, junto ao Estádio do Algarve, a Algar não tem triagem do vidro, mas na infraestrutura do Barlavento foram obrigados a instalar um sistema de triagem, porque as pessoas colocavam sacos do lixo nos ecopontos verdes, em vez de colocarem apenas embalagens de vidro.
Composto aproveita verdes
Um dos produtos que a Algar tem vindo a comercializar é o composto orgânico, conhecido por Nutriverde, e a mecânica para prepará-lo até é simples, mas exige tempo. Os resíduos verdes e troncos de árvores resultantes de atividades agrícolas ou da manutenção de espaços verdes, são triturados e empilhados na Unidade de Compostagem, também localizada em Portimão. Um ‘volteador’ remexe, de tempos a tempos, as pilhas dos resíduos verdes, sendo controlada a humidade e a temperatura. Se for necessária mais água, esta é adicionada. Três a quatro meses depois, no máximo seis, o composto está quase pronto. Só precisa de ir a uma nova máquina, o crivo, que separará a terra dos troncos maiores. Estes são colocados de novo nas pilhas para que se decomponham.