Álvaro Bila: “Portimão constrói-se com as pessoas e para as pessoas”
Foi presidente da Junta de Freguesia de Portimão e chegou à vice-presidência da Câmara Municipal nas últimas eleições. Em julho assumiu a liderança deste órgão, após a saída de Isilda Gomes para o Parlamento Europeu. Em conversa com o Portimão Jornal, Álvaro Bila lança as bases para a construção de uma visão do concelho assente nas pessoas. A sua palavra chave é o trabalho, mas ressalva que são necessárias prioridades. Habitação e educação são as áreas mais urgentes, mas não fica esquecido o espaço público. Em ano de centenário, quer que os portimonenses sintam orgulho na sua terra.
Um grupo de cidadãos organizou um jantar de apoio à sua candidatura à Câmara Municipal a 11 de outubro. O que sentiu com este movimento?
São quase todos sem filiação, por isso senti que tenho uma responsabilidade acrescida ao saber que tantas pessoas acreditam no que quero fazer pela minha terra. Terei de me empenhar ainda mais para não defraudar ninguém.
É o candidato oficial do PS?
O PS tem um tempo próprio, ninguém vai interferir e, quando decidir, está decidido. Até lá, continuarei a fazer o meu trabalho. Ainda tenho mais um ano deste mandato. Quero o melhor para a minha terra e é com esse objetivo que trabalho.
Se for candidato pelo PS, já tem uma equipa escolhida?
Sou candidato e tenho a minha equipa na cabeça. Quem decidirá sou eu e falarei depois com o presidente do PS. Sempre fiz assim na Junta e em todos os locais por onde tenho passado.
As suas escolhas podem ser um problema?
De certeza que não! Vou escolher os e as que considero melhores para o projeto que quero encabeçar e para a minha terra.
É presidente da Câmara desde julho. Qual o balanço que faz destes cem dias?
É muito positivo. Por um lado, tenho uma equipa muito empenhada e as duas pessoas que assumiram funções também o são, o que me agrada muito. Não é fácil, a um ano de eleições, mudarmos a nossa ‘vidinha’ e assumirmos o trabalho em prol do município. Por outro lado, apesar de saber bem os cuidados que a minha terra precisa, nem tudo se muda em cem dias e temos um longo caminho a percorrer. No entanto, a limpeza da cidade foi algo que quis logo alterar.
Essa foi uma prioridade?
Foi. Estávamos no verão e não podia acontecer o mesmo que em 2023. Tínhamos de trabalhar com a Algar e com a EMARP de outra forma. Em relação a projetos, agora há que alinhar uma estratégia e temos de ser francos: é necessário criar prioridades nos investimentos a fazer. A Câmara deixou de estar em endividamento excessivo, vamos ser ‘senhores’ das nossas contas sem ter de apresentá-las à Comissão FAM, mas há que ser muito responsável, pois não queremos voltar a esta situação. Por isso, temos de ser muito realistas quando apresentamos e prometemos obras para o futuro.
O que mudou na Câmara sob a sua liderança?
A minha liderança prender-se-á sempre às pessoas e à proximidade. Quero ter mais tempo ainda, mas para isso preciso ter uma organização diferente na autarquia. Há vários anos que a Câmara não contratava pessoas, porque não podia. Temos um quadro de pessoal muito desfalcado, e apesar de termos cá bons técnicos, os serviços têm de ser reforçados. Isso dar-nos-á tempo para andar na rua, perto da população a receber contributos.
Foi o que fez no jantar? Pedir sugestões às pessoas?
Sim. Quero que me digam quais são os temas com que se identificam ou que são a sua especialidade para, depois, reunirmos e perceber o que pensam. O que quero fazer aqui é o mesmo que fiz na Junta de Freguesia: proximidade. Portimão constrói-se com as pessoas e para as pessoas e, portanto, temos de estar perto delas.
É também por isso que menciona sempre os funcionários?
Falo nos colaboradores deste município. Falo, porque, sem dúvida, têm uma palavra chave a dizer. São funcionários públicos a trabalhar para todos e a dar o melhor de si para benefício de toda a comunidade. Acho que isso é o sentido do dever de serviço público.
É visto como um homem do terreno. Na Câmara, uma organização mais complexa do que a Junta, consegue manter a proatividade?
É difícil. Continuo a entrar quase sempre às 8h00, 8h00 e pouco. E a primeira coisa que faço é dar uma volta pelo concelho. Gosto de ir ver de perto o que se está a passar. Ainda hoje estive na Praia da Rocha por causa das algas. Na Junta era diferente, porque, lá, conseguíamos resolver alguns problemas de forma mais rápida. E é isso que a população tem de compreender. Às vezes acham, por exemplo na ação social, que têm de falar com o presidente… Quando, muitas vezes, os colaboradores que estão neste departamento têm capacidade de resolver as situações. Há, claro, assuntos de maior envergadura que somos nós a decidir. Agora, garanto-lhe que quero que esta Câmara esteja mais presente e tenha uma maior capacidade de resolução do que a que tem tido até hoje.
Vai contratar pessoas?
Desde que estamos no FAM, recebemos mais competências, exceto a educação que veio com um quadro de pessoal, e temos muito menos gente a trabalhar no município. É uma conta fácil de fazer.
Como está a autarquia a nível financeiro?
Assinámos, no dia 28, a cessação do contrato de assistência financeira no âmbito do PAM, uma vez que saímos do endividamento excessivo. Assim, gostava de neste orçamento já aliviar os impostos aos portimonenses. Só tem sido possível baixar o IMI, mas queríamos aliviar também o IRS e a derrama.
O que falta pagar?
Cerca de 82 milhões. Vamos amortizar quatro milhões por ano.
PRIORIDADES PARA O FUTURO
Quais são os maiores desafios nos próximos cinco anos?
A habitação é um desafio muito grande e tem de estar na ordem do dia. Felizmente há uma política pública abrangente a nível nacional, na qual o município tomou a dianteira. Os contratos com o IHRU para construir habitação já foram assinados, mas mesmo assim não chega. Defendo que temos de ter habitação a custos controlados nas três freguesias. Não queremos que os portimonenses saiam, por isso temos que criar condições para os fixar cá.
Há quem opte pela Mexilhoeira Grande para viver, porque não consegue comprar casa em Portimão…
Sim, só que a Mexilhoeira também já não tem assim tantas casas. Apesar de estar aqui perto, só tem aquele núcleo populacional. Também é atrativa, porque conta com alguns equipamentos importantes como a piscina, a extensão do centro de saúde, campo de futebol, muitos clubes, um forte movimento associativo…
Lá, a extensão do centro de saúde foi melhorada?
Já está arranjada, felizmente, também já tem médico de família e passou para a alçada do município. Foi aprovado também na última reunião de Câmara a passagem do edifício sede do Centro de Saúde para a autarquia.
A par da habitação, o que é que não pode esperar mesmo?
A educação. A Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes não pode esperar. O projeto está quase terminado, mas depois temos de trabalhar com o Governo para que a obra seja uma realidade. É necessário também ampliar a rede de jardins de infância. Há muitos jovens a vir para Portimão pelas condições que temos dado na educação, com a alimentação que é gratuita para todos e os cadernos de fichas oferecidos até ao sexto ano, por exemplo. Precisamos de mais estabelecimentos escolares e isso é uma prioridade. Há, porém, algo que também me preocupa muito, mas onde é essencial a colaboração da Segurança Social, bem como das boas associações locais. São os lares de idosos. Temos uma população envelhecida e é imperioso criarmos mais vagas, para que, quem queira ir para um lar, possa ir. É importantíssimo dar condições a quem já deu tudo a esta terra. Muitos, dado o valor que descontaram na altura, têm hoje reformas baixas. E temos que lhes dar dignidade para continuarem a viver aqui.
Qual a sua visão de futuro para o concelho?
Temos estado a falar disso, mas acho que também temos que apostar na sustentabilidade. É preciso preparar esta terra para as gerações vindouras nesta perspetiva e este é um termo muito abrangente. Todos temos que trabalhar em prol de um melhor espaço urbano, mas também temos de ter mais espaços verdes, contribuindo para a qualidade do ar. Por exemplo, as ciclovias. Apesar de Portimão ter muitas zonas planas e ser uma terra de cinco, dez minutos, as pessoas gostam pouco de andar a pé ou de bicicleta. É verdade que também temos que criar mais zonas seguras para andar a pé. Gosto de ir a pé do centro da cidade até à Praia da Rocha, mas sei que há alguns caminhos que deveriam estar melhor preparados, até para andar de bicicleta.
Bicicleta, cadeira de rodas, carrinhos de bebé…
A nível da mobilidade urbana para ‘cadeirantes’, desde que tomei posse, tenho estado sempre a trabalhar com alguém que é utilizador. Felizmente já me diz que Portimão é uma cidade em que se pode andar de cadeira de rodas e que se consegue ir a quase todos os serviços públicos. Ainda assim, temos um longo caminho a percorrer, pois se queremos uma cidade para todos, temos de criar melhores acessibilidades. Dou o exemplo do Jardim junto à Fortaleza que será acessível. Lançámos o concurso e o relatório final deve estar quase concluído.
Já que se fala de acessibilidade, e o elevador para a praia?
O primeiro projeto, que já foi adjudicado, é no Paquito, a meio da Praia da Rocha. Aqui, já tínhamos autorização da APA. Agora é só lançar o concurso e gostava muito que no próximo ano fosse uma realidade. Entretanto, no projeto que estamos a fazer para a remodelação da Fortaleza, cujo levantamento estamos a efetuar, também vamos contemplar o elevador. E pedi que não fosse aquele interior que em tempos existiu, mas um panorâmico. Esse vai demorar mais tempo. A este propósito faço ponto de honra do seguinte: não vou publicitar aquilo que não vou fazer.
No discurso que fez no jantar comprometeu-se com algo?
A minha vida sempre foi de trabalho. Não me vejo a fazer outra coisa. Mesmo quando estive no associativismo, era para dar o meu melhor e contribuir para a sociedade. Aqui é a mesma coisa. Conhecendo a cidade como conheço, só me posso comprometer. Estou a lembrar-me agora, por exemplo, do Largo Gil Eanes, do Largo da Estação, do Jardim Sárrea Prado. São zonas a melhorar e para as quais temos de elaborar um projeto. Também não podemos deixar a Mexilhoeira sem uma quinta pedagógica. Em Alvor, olho para o Castelo e defendo a reabilitação daquela zona, com uma intervenção no interior, onde existe um parque infantil. Há um conjunto de áreas onde é essencial intervir, mas priorizando, porque não podemos fazer tudo ao mesmo tempo.
Como cidadão, o que gostaria que não houvesse mesmo no concelho?
Em tempos o PS fez um grande chavão que era a fome e, felizmente, a fome, com as associações e entidades, cujo trabalho é de louvar, e o apoio da autarquia, foi banida de Portimão. Julgo que posso dizer isto. Não gosto que existam pessoas sem abrigo. Acho que é daquelas prioridades…, mas não é fácil. Tem de ser uma estratégia nacional. Já fui criticado por dizer que vem para cá muita gente, porque noutras cidades não há resposta. Mas isto é verdade! A nossa cidade, pelo número de associações e de respostas que tem para esta população… Vêm para cá e depois ficam numa zona desfavorecida, porque a habitação não dá para todos, o abrigo temporário também não e devia de existir espaços destes da Segurança Social, que fossem de carácter regional. Não podem ser as autarquias a substituir-se a esta entidade e ao Estado. Uma sociedade não pode viver bem enquanto tivermos pessoas a viver na rua, mas sei que há quem tenha adotado esta situação como um modo de vida. Temos de mudar hábitos, ter equipas de rua, e efetuar esta intervenção a longo prazo.
As pessoas associam os sem abrigo à toxicodependência?
Mas não é só isso. Há pessoas que têm problemas na vida e, depois, não conseguem regressar a uma vida dita normal. Há muita pobreza envergonhada. Há também muitos problemas de saúde mental, aos quais o país tem de dar resposta. Não conseguimos tirar estas pessoas da rua, a não ser com o internamento compulsivo.
TRÂNSITO E HABITAÇÃO
Uma das grandes críticas à Câmara é o estado atual do trânsito, sobretudo nos acessos à cidade. Como pode melhorar?
Gostava que aqui, na baixa, sair da cidade tivesse a mesma facilidade do que a entrar. Também temos agora obras a decorrer, com algumas ruas fechadas e a intervenção na ponte nova, que é um dos principais acessos… Numa das contagens verificámos que num só dia entraram pela ponte velha seis mil viaturas. Por isso, temos uma candidatura com o município de Lagoa para criar um parque de estacionamento junto ao Centro de Congressos do Arade e uma linha de autocarro que ligue Lagoa a Portimão. Mas não vai ser suficiente, porque temos de criar mais parqueamento para as pessoas deixarem as suas viaturas. Entretanto, pedi um estudo para esta zona do Largo do Dique, para ver como podemos melhorar.
Chegou a falar da necessidade de uma terceira ponte rodoviária?
O nosso plano de mobilidade contempla mais uma ponte para Lagoa e faz sentido. É uma obra que demora e que não se faz de um dia para o outro. Também queremos descongestionar a V6, por isso vamos avançar com a V2, que será a continuação da Avenida Paul Harris até à Forportil. Já temos o projeto terminado e espero conseguir lançar a obra até final do ano.
Em relação ao viaduto que está a ser construído junto ao Arena, como é que o trânsito vai ficar?
Esta é uma obra das Infraestruturas de Portugal, que tem como primeiro objetivo fechar a passagem de nível da Estrada de Monchique. Está a decorrer a bom ritmo, aliás mais depressa do que todas as urbanizações privadas que estão projetadas para as traseiras da bomba de gasolina e onde está projetada também uma nova via para ligar à rotunda do Hospital. Mas como presidente do município não aceito que a autarquia deva pagar expropriações para infraestruturar urbanizações privadas. Se houver cedência do terreno, o município fará a estrada. Foram promovidos estudos que visam a zona a norte e a sul desse viaduto. A norte já foi lançado um concurso para melhorar a circulação automóvel e pedonal na Rua da Abicada, que infelizmente não teve concorrentes, assim como uma melhor entrada junto à bomba de gasolina. Do outro lado, a Rua de São José nunca poderá servir como saída, como está a acontecer com as obras na ponte nova. Uma das grandes hipóteses para melhorar os acessos, que ainda está a ser estudado, é um novo viaduto que desce diretamente da ponte velha para a zona das sardinhas. Em breve apresentaremos a solução integral para esta zona.
Qual o ponto de situação da estrada dos Montes de Alvor e da de Chão das Donas?
No cruzamento Chão das Donas, por cima da linha de caminho de ferro, vai nascer uma nova rotunda. É uma grande obra que só pode avançar depois da eletrificação da linha férrea. Já veio o parecer externo que autoriza, mas é uma intervenção muito cara e será para ser feita num mandato. Quanto à 531, que liga a Penina aos Montes de Alvor, a proposta é intervir a dois tempos. No imediato e numa fase posterior quando o difícil processo de negociações com os proprietários acabar. Para já, abrimos procedimento para a repavimentação, o arranjo daquela via não pode esperar. Por isso, entretanto, falámos com a empresa do Morgado da Penina para que aquele muro deixe de ser uma barreira. Para isto já abrimos concurso. Aquela estrada é um perigo, além de ser estreita, tem lombas, uma linha de água a passar ao lado, e nós queremos dar condições de segurança, enquanto se continua, em paralelo, o projeto de alargamento, que implica as expropriações e as negociações com os proprietários…
Por que razão a construção de habitação não está mais avançada?
No que diz respeito à habitação de custos controlados o processo atrasou, porque a empresa só quis arrancar com a construção depois da seleção dos candidatos. Hoje já estão no terreno e a informação que tenho é que os candidatos já foram à banca. Estes procedimentos levam algum tempo e, neste caso, incluiu o registo dos terrenos, o visto do Tribunal de Contas, as candidaturas, o sorteio, a banca… Em relação ao Primeiro Direito, que nos candidatamos no IHRU já temos os contratos assinados. Já levamos a reunião a construção de dois edifícios na Avenida 25 de Abril. São 28 apartamentos. E espero levar esta semana a construção na Coca Maravilhas, também ao abrigo deste programa. Temos ainda a compra de três prédios, já construídos.
E esses são para pessoas carenciadas que a Câmara tem identificadas?
Sim. Muitas já estão na nossa listagem. Mas há algo que é bom referir. Estas pessoas já estão referenciadas. Não vale a pena virem de fora, de outros municípios, porque já não vão chegar a tempo. É bom que isto fique claro. É para pessoas que são de Portimão e que já estão no concelho.
No caso dos custos controlados, porque é que houve aumento de valores?
O preço que estava definido, na altura, pelo IHRU, quando o processo começou, é diferente do de hoje. Decorre da lei e o município, nisto, não teve intervenção nenhuma. Nesse processo, o município só interveio na compra dos terrenos, que foram avaliados. Adquirimos e a autarquia terá a posse de 23 apartamentos, que é a permuta pelo valor do terreno. Para esses imóveis, a Câmara elaborará um regulamento, mas já foi anunciado que serão para as forças de segurança e profissionais de saúde.
Foram aumentos significativos. O IL menciona que um T1 custava 88 mil euros e passou para valores como 129 ou 153 mil.
A informação que me foi fornecida não é essa, mas mais uma vez reforço que estas atualizações de preços não são controladas pela autarquia. Os preços da habitação têm subido e o IHRU atualiza os valores também. Está tabelado. Foi a atualização que fizeram.
E quem ganhou o sorteio continuou a ter possibilidades de pagar a casa ou desistiu da candidatura?
Não, neste momento, o que me foi comunicado por parte da empresa foi que tiveram concorrentes para todas as casas.
POLÍTICA DE PROXIMIDADE
As pessoas abordam-no na rua para lhe falar de problemas?
Isso é a melhor coisa que posso ter, é as pessoas virem falar comigo para resolver problemas acima de tudo porque me conhecem, depois porque sabem que, à partida, vou tentar dar resposta e resolver.
Como está a ‘saúde’ da EMARP?
Está muito bem. Tem melhorado muito, porque temos aberto concurso e o quadro de pessoal tem aumentado. Não podíamos continuar como antes, por exemplo, na limpeza das ervas. Estávamos a dar a uma empresa que não cumpria e as coisas ficavam mal feitas. Hoje, o que já assumimos é que temos de ter pessoal do quadro para esses serviços e contratamos mais dez cantoneiros.
Na sua ideia de futuro estão previstas mais escolas e creches?
Sim, temos que também crescer a nível de escolas e há já projetos novos, de jardins de infância. Está definida a ampliação de algumas na Mexilhoeira e depois temos também a antiga Escola de Hotelaria e Turismo, onde temos três salas. Gostaríamos, inclusive, de comprar o edifício, em vez de arrendar e é isso que estamos a negociar. A ideia é quadruplicar o número de salas. Em Chão da Donas e na Júdice Fialho também vamos ampliar o número de salas.
Que projetos há para o centro?
Queremos intensificar a videovigilância e já há um projeto com a PSP para o centro, a zona ribeirinha, a gare, a estação, o Largo Gil Eanes e as ruas perpendiculares à Rua do Comércio. Há, porém, algo que faço questão de afirmar. Vamos intensificar a fiscalização e lojas que sejam lojas, não são sítios para dormir. Estamos a estreitar brigadas, com a PSP e a ASAE para lançar uma fiscalização forte nesse sentido. Será uma prioridade. É para comércio, não é para habitação.
A nível da saúde, o que tem feito a autarquia?
Queremos aumentar a capacidade do centro de saúde e por essa via o número de médicos de família. Como temos a gestão do edifício, queremos aumentar o número de salas. A ampliação não é um processo que fique concluído de um dia para o outro, por isso vamos encontrar mais espaços para converter em mais salas de atendimento no atual centro para ver se conseguimos ter o máximo de médicos de família para abranger toda a população de Portimão.
Isso não é uma utopia?
Não. Com a ULS acho que é possível. Há abertura para isso. No nosso plano reduzíamos e muito as pessoas sem médico.
E o hospital? Como é que se resolvem os problemas de uma vez por todas?
Resolve-se com mais médicos e não existem. Tenho mantido contactos frequentes com a ULS e sei que é difícil atrair médicos de algumas especialidades, mas isto não pode continuar assim. Este ano ainda estivemos pior do que no verão passado, na obstetrícia e pediatria, com muitos mais dias encerrado. Estaremos atentos, disponíveis para colaborar, se necessário com habitação, mas temos de ter mais médicos. Além da preocupação com as mulheres grávidas, bebés e crianças, quando recebo uma mensagem que vai mais uma ambulância para Faro, já sei que aquele meio vai estar ocupado três horas, pelo menos, e é menos um meio disponível na cidade. Isto não é bom para ninguém.
Cada vez que há um evento maior, as pessoas recordam os gastos do passado e a situação financeira difícil que a autarquia passou. São eventos necessários?
Portimão e os portimonenses merecem, as pessoas que nos visitam também e um destino turístico merece ter eventos de qualidade. Não vale a pena acharmos que a cidade vai viver por si, sem nada. Temos de ter eventos de qualidade e que marquem a diferença. E quando se fala disto, muitas vezes não são apenas os que a autarquia organiza. São também os que a Câmara dá aos clubes para organizarem. Realizamos eventos nas três freguesias, apoiamos e vamos continuar a fazê-lo. Hoje, por exemplo, temos 1700 pessoas a jogar frisbee na Praia da Rocha e não tenha dúvidas que está ligado ao investimento que fizemos de ‘Portimão, Capital Europeia do Desporto’. O concelho ficou uma referência internacional. E garanto-lhe que um evento como foi a ‘Noitada’, noutras cidades, custa muito mais.
Como gostaria de ser recordado?
Pelo trabalho que fiz, como mudei as coisas e pela maneira como os ‘meus’ depois me encaram. Noto sempre um grande carinho das pessoas que gostam de mim. A vida ensinou-me que não vale a pena ser tipo serpente e andar a ‘matar’ ninguém para subir. Aprendi que tenho de subir pelo trabalho que faço. Se chegar lá, cheguei, se não chegar estou à vontade. Tenho a consciência tranquila, dou o melhor de mim sempre, sou leal a quem está à minha frente. Um dia, quando sair daqui, quero poder dizer que sempre me pautei por grande lealdade e dignidade em tudo o que fiz.
Este ano comemora-se o centenário da cidade. Que mensagem quer passar aos portimonenses?
Acredito muito no destino e ele colocou-me à frente do município no centenário. Este é um ano em que é bom afirmar que gostamos de ser portimonenses e que vamos trabalhar com todas as forças para nos orgulharmos da nossa terra, para a termos bem tratada, limpa e com tudo o que há de melhor numa cidade.
Projetos para as freguesias
Temos trabalhado muito com as freguesias a nível dos parques infantis. Na Mexilhoeira estamos a planear um parque para a prática de skate no próximo ano, mas temos que melhorar também o Complexo Municipal e ampliar a zona do campo de futebol. Faz todo o sentido dado o número de atletas que já têm. Já em Alvor temos que fazer um grande Complexo Desportivo, que se junte à piscina e ao campo de futebol que já passou para a gestão do município. Temos de construir outro, sintético, ao lado, para poderem treinar nesse e jogar no de relvado. Em Portimão, também com os clubes vamos ter de melhorar as zonas desportivas, porque temos muitos atletas e temos de lhes dar condições.
A relação com a oposição
Gosto da oposição e sempre me habituei a trabalhar com ela. Aliás, gosto de receber contributos, sobretudo, de pessoas que já fizeram pela vida, com experiência, que já trabalharam e que são sérios. Sou uma pessoa de diálogo, mas quando vejo que não são honestos, tenho mau feitio e, às vezes, deixo de escutar. Acho que a cidade constrói-se com todos. Não somos donos da verdade e, portanto, todos os partidos políticos fazem falta.
Lado Pessoal
Uma recordação de infância
Tenho muitas. Marcam-me sempre as atividades na natureza. Ir acampar com os meus colegas escutas foi marcante. A nível de sobrevivência aprendíamos muito uns com os outros. Havia momentos difíceis, de mochila às costas e andar a pé do Porto de Lagos até ao Falacho, onde acampávamos muitas vezes. Sempre aprendi que são nos momentos de luta que temos de dar o corpo ao manifesto e aguentar-nos. Esta foi uma fase marcante no escutismo, que foi uma escola de vida para mim.
Uma referência
A minha madrinha, Judite da Glória.
Um acontecimento marcante
O nascimento dos meus filhos.
O local preferido no concelho
O centro da cidade, onde resido.
Momento mais importante na carreira política
Ter conseguido reconstruir alguns edifícios e implementado novas respostas, sobretudo sociais, na minha terra.
Momento mais difícil na política
A perda de alguns colegas.
Atividades nos tempos livres
Caminhadas. Adoro caminhar, mas quando o faço, vou a trabalhar ao mesmo tempo. Sou interpelado sempre pelas pessoas, que me alertam para pequenos problemas ou arranjos na cidade. E eu vou registando.
Uma qualidade dos portimonenses
A entrega.
Um defeito
Não saírem mais à rua. Temos de aprender a viver mais a cidade e sem medo.
O olhar sobre as freguesias:
⇨ Alvor
“O melhor que Alvor tem é a sua mística. Ainda é aquela vila piscatória tradicional. Só aquele senhor a arranjar o peixe ao lado da lota e as gaivotas ali a comer, é um cenário típico e fantástico. Temos de preservar os poucos pescadores que ali existem”.
⇨ Mexilhoeira Grande
“É para mim uma grande freguesia, mesmo. A vivência entre as pessoas, cada evento que lá acontece, vemos a população toda na rua, a participar e a sentir a sua vila. Tem eventos quase todas as semanas e as pessoas vivem a sua terra com intensidade”.
⇨ Portimão
“É um orgulho ser portimonense e trabalhar aqui. É a uma freguesia onde tenho uma grande proximidade com as pessoas e onde sinto o carinho delas”.