Andebol: Carmen Figueiredo pisca o olho aos melhores campeonatos da Europa
Texto: Hélio Nascimento | Foto: Mário Moreira
Carmen Figueiredo é uma das mais promissoras jogadoras portuguesas de andebol. Tem 18 anos, nasceu em Tavira e na época 2020/21 passou a defender as cores do Clube Desportivo da Escola Secundária Gil Eanes, de Lagos, onde tem somado proezas e conquistado títulos. Atua a lateral ou ponta esquerda e, recentemente, na X Gala do Andebol, foi a única atleta a receber dois galardões, o de revelação do campeonato da I Divisão e o de melhor marcadora.
“Estava um pouco nervosa, mesmo sabendo que ia ganhar o prémio de melhor marcadora. Depois, ter conquistado o de jogadora revelação deixou-me, obviamente, ainda mais feliz”, conta Carmen, que recolheu 55,71% dos votos, contra 25,02% de Naide Gonçalves, do ABC de Braga, e 19,26% de Constança Sequeira, do Benfica.
A atleta do Gil Eanes aproveita as páginas da Algarve Vivo para renovar os parabéns a estas colegas, antes de entrar no capítulo dos golos, em que registou uns impressionantes 202 remates certeiros em 22 jogos.
No total da temporada de 2022/23, em todas as competições, o número sobe para 247 golos, arrisca Carmen, com uma média de 10/11 golos por jogo. “Esta época tenho marcado menos vezes, também fruto das marcações individuais de que sou alvo”, ou seja, as adversárias estão determinadas em impedir que a algarvia festeje tantas vezes.
Esta história de sucesso, com muito mais para revelar, estende-se também à Seleção Nacional, que Carmen tem representado desde os escalões de formação. Agora, por exemplo, atua pela seleção sub-20, que vai disputar o Mundial no próximo ano, e pela seleção principal, que participa na fase de qualificação para o Europeu.
“Os rapazes não me deixavam jogar”
Carmen começou por jogar no Vela de Tavira, no ano de 2014, mas foi já em Lagos que passou a levar o andebol mais a sério. “De início, praticava futebol, mas, como não havia uma equipa feminina, os rapazes não me deixavam jogar com eles. Queria escolher outra modalidade e fiquei dividida entre o andebol e o basquetebol, até que a minha mãe ajudou na decisão e optei então pelo andebol”.
Ainda no Vela de Tavira chegou a ir à seleção regional do Algarve e à seleção nacional sub-18, até que surgiu a hipótese – e o convite – de rumar ao Gil Eanes, onde iria encontrar a treinadora Sofia Osório, com quem já tinha trabalhado, o que também ajudou à mudança de clube.
Os primeiros tempos em Lagos não podiam ser mais prometedores, uma vez que contribuiu para o almejado regresso da equipa à I Divisão. “Era um objetivo do clube e passou a ser também o meu. Foram momentos de felicidade, inclusive porque formamos uma grande família e todos os escalões do Gil nos apoiaram”, recorda Carmen, que se adaptou bem a outro nível de exigência, naturalmente mais elevado.
A primeira época no escalão principal do andebol feminino português, não obstante a diferença competitiva, correspondeu às expetativas, uma vez que as lacobrigenses alcançaram a permanência. Depois de “concretizado esse objetivo”, a temporada em curso contempla novos desafios.
“Vamos melhorar, porque saíram algumas jogadoras e entraram outras e é preciso criar laços e rotinas de jogo”, reconhece, destacando a vantagem de Sofia Osório, identificada com toda a realidade do clube, continuar a ser a treinadora.
O percurso nas seleções
O trajeto de Carmen nas seleções nacionais é igualmente brilhante, desde os conjuntos da formação à equipa principal. “Fiz os primeiros treinos na época passada, e, sinceramente, não esperava que fosse tão rápido. A motivação cresceu ainda mais, até porque estava a atuar ao lado de colegas que eram minhas referências e cujos passos tencionava seguir”.
No passado mês, Carmen esteve na Roménia, precisamente ao serviço da Seleção Nacional, num torneio de caráter particular, já com o foco nos jogos seguintes da fase de qualificação para o Europeu, que se realiza no próximo ano. Também em 2024 terá lugar o Mundial de sub-20, no verão, na Macedónia, mas, para este torneio, Portugal já está qualificado. E com Carmen nas duas frentes.
“O trajeto em sub-20 foi muito bom e daí o apuramento, que garantimos graças à classificação no Campeonato da Europa”, diz a jovem, que tem atuado a lateral e a ponta esquerda. “Sinto-me melhor a lateral, que é a posição em que jogo mais no clube, mas também gosto de ser ponta e cada vez estou melhor adaptada”.
A jogadora do Gil Eanes confessa ainda que encontrou na seleção algumas das suas ‘inspirações’, casos de Joana Resende, Beatriz Sousa e Patrícia Lima, que, presentemente, representam clubes estrangeiros. “Antes só ouvia falar delas, agora estamos juntas no mesmo grupo”.
A sonhar com palcos de excelência
Carmen não teve nota para entrar na universidade e resolveu interromper os estudos. Quer seguir a área de Desporto, mas, para já, “aproveitei para me dedicar mais ao andebol, até porque seria difícil conciliar a alta competição com as aulas”. A família continua a apoiá-la sem restrições, tal como as companheiras de clube, nomeadamente aquelas com quem passa mais tempo todos os dias.
O caminho é de sucessos, mas a algarvia não quer ficar por aqui. “O meu futuro? Só me vejo a jogar andebol. Quero experimentar outros campeonatos fora de Portugal, primeiro talvez em França ou Espanha, onde o nível, embora muito exigente, é mais compatível com as minhas capacidades. Depois é dar o salto para os melhores campeonatos da Europa”, atira, já a sonhar com os palcos de excelência do andebol feminino.