Artesanato em vime resiste pelas mãos de José Inácio Rosa
Cestos, arcas e baús, caixas, canastras, chapéus e garrafas empalhadas são alguns dos trabalhos que produz.
Texto: MARISA AVELINO / Fotos: KATIA VIOLA
José Inácio Rosa, 67 anos, alentejano de berço e monchiquense de eleição, é um homem dos sete ofícios. Já fez um pouco de tudo nesta vida, foi agricultor, camionista, jardineiro e pedreiro. Hoje, é reformado e dedica parte do seu tempo a trabalhar o vime e a verga. Das suas mãos ganham vida cestos, dos maiores aos mais pequenos, arcas e baús, caixas, canastras, chapéus, garrafas empalhadas e outros trabalhos muito apreciados na vila de Monchique.
Este é quase o único artesão que faz trabalhos em vime e verga em Monchique. É autodidata. Aprendeu o ofício praticamente sozinho, observando outros artesãos a trabalhar.
O artista monchiquense começou pelos cestos. A cestaria é a base de tudo. “O cesto permite-nos começar a ter prática de manobrar a verga, os utensílios. Uma vez que se domina a técnica pode-se fazer tudo, todo o tipo de trabalho. Não há limite”, explicou José Inácio Rosa em conversa com a Algarve Vivo. O gosto por empalhar garrafas – revesti-las com vime – chegou mais tarde quando, ao ver uma empalhada, sentiu curiosidade em tentar fazer também. Esta forma de trabalhar o vime aprendeu com o “tio” José António Marreiros, que vivia na estrada para o Alferce e que, segundo José Inácio Rosa, “é um verdadeiro mestre nesta arte”.
FABRICO ANTIGO
O vime é uma fibra vegetal resistente, flexível e de grande durabilidade, muito utilizado na cestaria desde há muito tempo. Pode ser usado inteiro para o fabrico de peças maiores (canastras, cestos, baús) ou rachado em varas mais finas (verga) para o artesanato de pequena dimensão que não necessite de grande resistência ou que não esteja sujeito a grande esforço. Antes de ser trabalhado, o vime deve permanecer mergulhado em água durante tempo suficiente para que se torne maleável sem se partir, seja para moldá-lo ou lascá-lo em verga. São precisas várias horas até que absorva bastante água.
O artesão de Monchique utiliza mais a verga porque se torna mais prática de trabalhar já que não carece ficar de molho tanto tempo. “A água é o segredo”, frisou José Inácio Rosa.
“NINGUÉM PODE VIVER DISTO”
O tempo de fabrico de uma peça depende se o material já está preparado ou não. Se estiver, em média, José Inácio Rosa leva cerca de uma hora para fazer um cesto de tamanho médio. Caso contrário, até ficar pronto leva mais tempo. A contar com a preparação do material, para empalhar uma garrafa José chega a levar um dia. Para produzir o seu artesanato, além de comprar, José Inácio Rosa tem vime de produção própria em pequenos terrenos de cultivo que herdou dos seus pais e sogros.
O artesão monchiquense teve “muita força de vontade” em aprender uma arte que, segundo ele, não tem grande futuro apesar de continuar a resistir ao longo dos tempos. Por se tratar de um ofício meticuloso, pouco rentável e exigir muito tempo são poucas as pessoas que têm interesse em se dedicar a este tipo de artesanato. “Ninguém pode viver disto. Não resistíamos. Não dá ordenado para uma pessoa passar a vida. É só um part-time, lá de vez em quando vou fazendo umas coisas. Eu quis aprender, tive vontade.
“É daquelas determinações que sentimos”, desabafou José Inácio Rosa enquanto empalhava minuciosamente uma garrafa que lhe foi encomendada. Há uns anos atrás, o artesão ainda foi procurado por um rapaz que lhe pediu para o ensinar a revestir garrafas em vime, mas a complexidade do ensino fez com que o jovem desistisse. “Para saber empalhar as garrafas ele tinha de aprender a fazer o cesto primeiro. Tem de se começar pela base e ele não entendeu isso e acabou por desistir pensando que era eu que não o queria ensinar”, partilhou.
JOVENS COM POUCO INTERESSE
O artesão tem um casal de filhos e quatro netos ainda pequenos. A filha ainda quis experimentar quando era mais nova, mas com o passar do tempo deixou o artesanato. Aprendeu a arte do pai, porém não continuou. O filho, emigrante na Inglaterra, nunca quis aprender, nem sequer tentou. “Tenho quatro netos, contudo não sei se algum deles quererá aprender com o avô”, disse o artista com alguma melancolia.
José Inácio Rosa não tem um espaço físico de venda. Trabalha por encomenda num pequeno atelier que adaptou de uma garagem, recebendo todo tipo de pedidos. Desde empalhar um quadro de uma bicicleta a pedal de adulto até fabricar um sombreiro enorme em vime, com casca e sem casca que lhe proporcionou duas cores, claro e escuro.
PRESENTE NA FATACIL
Os interessados neste tipo de artesanato ainda podem adquirir trabalhos de José Inácio Rosa nas feiras em que este participa. Durante muitos anos esteve presente na FATACIL, em Lagoa, onde igualmente ensinava quem quisesse aprender ou apenas conhecer o ofício. Em Aljezur também já tem ido. Atualmente, o artesão frequenta as feiras de Monchique, Alferce e Marmelete porque não tem muito tempo para mais. “Nas feiras até se vende bem. A procura por parte das pessoas tem-se mantido. Elas querem coisas diferentes, têm novas ideias que vou adaptando nos meus trabalhos”, concluiu.
Contacto:
José Inácio Rosa
Rua de S. José, 3
8500-046 Monchique
Tlf.: 282 911 459 / Tlm.: 964 784 839