Badminton: Pedro Martins coloca ponto final na carreira

Texto: Hélio Nascimento


Fui o primeiro atleta de Lagoa a participar nos Jogos Olímpicos. Isso ninguém me tira!”, diz Pedro Martins, o nosso campeão de badminton, na hora da despedida de uma modalidade que serviu como poucos. De facto, o jogador, que fez quase toda a carreira no Che Lagoense, teve a honra de representar Portugal na mais importante e significativa competição desportiva, aquela onde todos sonham ir e cujas memórias guardam, depois, no topo do álbum de recordações. Pedro Martins esteve presente em Londres’2012 e Rio de Janeiro’2016, sendo o único representante do concelho de Lagoa com este estatuto de atleta olímpico.

“É o ponto mais alto da carreira e o sonho de qualquer um, estar lado a lado com os melhores do mundo e vestir as cores do nosso país. É um orgulho enorme, que não é fácil de descrever ou quantificar”, comenta, demonstrando enorme satisfação e felicidade. Acresce que uma qualificação no badminton para os Jogos Olímpicos não é nada fácil, obrigando o atleta a “figurar entre os primeiros do ranking mundial durante meses e meses a fio”. Por outras palavras, é indispensável manter, sempre, um nível altíssimo. “Ajudei a modalidade a crescer em Portugal e acho que valeu a pena todo o sacrifício. A experiência de vida que fui ganhando e as pessoas espetaculares que conheci são das coisas mais importantes que transporto comigo”, sustenta o algarvio.
 
Alguma saturação
Agora, aos 30 anos, decidiu colocar ponto final numa carreira de…24 anos, uma vez que começou a jogar aos seis. Pedro Martins tomou a decisão no mês passado, pendurando de vez a raqueta, e é sem mágoa que assume o adeus, sobretudo porque foi tudo bem pensado e ponderado. “A decisão foi muito simples. Creio, até, ter concretizado todos os principais objetivos e sonhos, face ao ponto onde cheguei e ao que consegui atingir. Acho que dei um bom contributo ao badminton e agora chegou a minha hora”, prossegue o atleta, reconhecendo, com a humildade e personalidade de um verdadeiro campeão, que “o nível já não era o de outros tempos e as condições de treino também não eram as melhores”. Sem hesitar, diz mesmo que estava já um pouco “saturado”, inclusive porque “a alta competição exige muitos sacrifícios e manter um nível alto durante tantos anos acaba por ser bastante complicado”.

Pedro Martins nasceu no Parchal, onde viveu até há pouco tempo, residindo agora em Portimão. Foi a bandeira do Che Lagoense, e, porventura, o seu mais exímio e conceituado atleta, tanto pelas duas citadas presenças nos Jogos Olímpicos como, também, pelo incrível número de títulos conquistados ao serviço do emblema lagoense: nada mais nada menos do que 49 (!), nas categorias de singulares, equipas masculinas, equipas mistas e pares mistos.

Experiência enriquecedora
Licenciado em Educação Física e Desporto, Pedro Martins trabalha num ginásio, dá treinos e aulas de psicomotricidade a crianças de tenra idade, nomeadamente “estimulando bebés e iniciando-os em coisas básicas, que são importantes para os miúdos sem atividade”. De resto, concentra-se na família – tem um filho de três anos – e está desligado do badminton. “Não procuro contactos com a modalidade, cujo percurso é feito num meio pequeno, recheado de problemas. Tenho pena que não se desenvolva mais e que os clubes formadores não tenham outro tipo de apoio. Às vezes, prefere-se apostar em quem vem de fora”, critica o atleta.

Em termos de alta competição, Pedro Martins acabou a carreira no Argovia, da Suíça, o clube que representou durante quatro anos, depois de sair do Che Lagoense. Uma experiência que rotula de “enriquecedora” e que o ajudou a “evoluir pessoal e profissionalmente”, ao mesmo tempo que sentiu o verdadeiro significado de “jogar em equipa”. “Em Portugal, o nosso treino é muito solitário, enquanto na Suíça trabalhei mais em equipa, absorvendo esse espírito. Joguei com atletas de todo o mundo, num ambiente incrível”, recorda, dando-se por imensamente satisfeito com a opção tomada, apesar de ser obrigado, em cada época, a viajar para a Suíça uma ou duas vezes por mês, sobretudo para realizar os jogos e torneios ao serviço do Argovia. Financeiramente, também valeu a pena, mas o que mais contou foi a valorização como desportista e como ser humano.

Treinar em casa não é o mesmo
Durante a conversa com Pedro Martins abordámos também a situação de pandemia que se vive em Portugal, bem como todas as implicações, sobretudo, e neste caso particular, ao nível do desporto. A resposta foi pronta e objetiva: “A paragem impede os atletas de prosseguirem os seus treinos. Alguns treinam em casa, é verdade, mas não é a mesma coisa. Acho até que pode prejudicar o desenvolvimento”. Em relação ao badminton, Pedro Martins considera que “é deveras complicado, uma vez que se trata de uma modalidade que envolve mais do que uma pessoa”. Embora admitindo que “seja possível melhorar certos aspetos”, não há adversário para testar capacidades. “Se estivesse no ativo, daria prioridade ao treino físico, no geral, mesmo que fosse numa sala. É importante não perder a flexibilidade, por exemplo, que no badminton é um ponto fulcral. Depois, o treino mental também merece especial atenção”.

Ganhar pontos e não evoluir tanto
Pedro Martins correu o mundo, com a raqueta e o volante na bagagem, deslocando-se de país para país à procura de conquistar pontos para subir no ranking e consolidar a posição. Mas teve de fazer opções e gerir a parte financeira. “Andei por todo o mundo, sempre fazendo a gestão do dinheiro disponível. Por exemplo, em vez de ir aos Estados Unidos, onde encontraria torneios de maior nível e melhores adversários, ficava pela Europa, onde participava em duas ou três provas e ficava mais barato, correndo atrás dos pontos. Este tipo de calendário às vezes até me aborrecia, porque aquilo que eu queria era jogar com os melhores do planeta”. Reconhecendo que houve alguns torneios em que nunca chegou a participar precisamente pelos motivos indicados, Pedro Martins diz que “ganhava pontos, mas não evoluía tanto”. Seja como for, “valeu a pena e tomei, creio, as decisões mais acertadas”. De resto, assume, “conheci pessoas e ambientes espetaculares e isso é algo que fica para toda a vida”.

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