“Ballet para todos” e com ensino alargado em Lagos

Com provas dadas em mais de 10 anos de existência, a Associação de Dança de Lagos pretende ir mais longe, almejando condições de ensino equiparadas ao Conservatório Nacional.

Texto: MARISA AVELINO / Fotos: EDUARDO JACINTO

A Associação de Dança de Lagos (ADL) nasceu da vontade e de um desejo antigo da professora Ljiljana da Silva em desenvolver o projeto ‘Ballet para Todos’ com o intuito de proporcionar a todas as crianças, com maior ou menor disponibilidade financeira, a oportunidade de poderem concretizar o seu sonho de aprender a dançar ballet, uma modalidade que, por norma, só está ao alcance de famílias mais abastadas economicamente. Com este projeto, qualquer criança pode entrar sem pagar ou pagando um valor simbólico.

“Quando entram na escola eu digo aos pais, principalmente aos mais desfavorecidos: a criança não precisa pagar, precisa é de trabalhar, se esforçar, porque só com trabalho e dedicação conseguimos alcançar os nossos sonhos”, contou a professora russa, em declarações à Algarve Vivo. “E o meu sonho sempre foi dar uma excelente educação às crianças proporcionando a todas a concretização dos seus”, partilhou.

ESCOLA DE REFERÊNCIA

Ljiljana da Silva, antiga bailarina profissional com formação na Academia de Ballet A. J. Vaganova de São Petersburgo, Rússia, começou a ‘dar vida’ à sua ideia em 2004, numa altura em que a cidade de Lagos não tinha grande oferta de ensino de ballet. “O que existia não era suficiente para que estivessem reunidas as condições necessárias que garantissem o acesso às aulas para todas as crianças”, reforçou a fundadora da ADL. Para a professora, não só era importante que a prática da dança chegasse a todos, mas também “trabalhar na profissionalização progressiva dos grupos de jovens mais motivados.”

Assim, e com o apoio da Junta de Freguesia de Santa Maria, a professora Ljiljana iniciou a Escola de Dança de Lagos no Espaço Jovem. Ao longo do tempo, o projeto foi-se desenvolvendo e ganhando dimensão a olhos vistos, o que levou à necessidade incontestável de ampliar as instalações do espaço “com o objetivo de continuar a sonhar com outras conquistas”. Três anos mais tarde criou a associação, sem fins lucrativos, com o objetivo de divulgar e promover o ensino da dança, possibilitando o acesso desta prática a todas as crianças. “É um legado que quero deixar”, referiu emocionada.

No ano seguinte, a ADL voltou a mudar de instalações devido ao aumento significativo do número de alunos, fixando-se, até hoje, em algumas salas na antiga Escola Secundária Gil Eanes, espaço cedido pela Câmara Municipal de Lagos.

“NUNCA VI NEGÓCIO NA ESCOLA”

Hoje em dia, a ADL é uma referência no Algarve no que concerne no ensino de ballet que segue o método russo Vaganova. A escola conta com mais de uma centena de alunos, tendo formado vários que se tornaram bailarinos no Conservatório Nacional de Lisboa. Principalmente as camadas mais jovens são aquelas que deixam a escola mais cedo e optam por estudar naquele estabelecimento de ensino porque oferece um ensino articulado com a prática da dança. “Por exemplo, temos poucas crianças em idades mais novas a dançar connosco porque vão para o Conservatório onde podem estudar e dançar durante todo o dia, o que não acontece na ADL. Aqui só podem treinar depois do horário escolar, que fica tarde, porque não temos essa valência”, lamentou.

Por se tornar complicado conciliar a escola com a carga horária necessária para se poder tornar num bailarino profissional, Ljiljana luta para que tenha o apoio necessário para que o ensino articulado seja uma realidade no futuro da ADL.

QUALIDADE MEDALHADA

Com trabalho, esforço, dedicação, empenho, disciplina, ajuda e apoio do núcleo de trabalho da ADL (professores e ‘staff’), bem como dos pais, alunos, comunidade e autarquia local, a antiga bailarina russa tem levado o nome da cidade de Lagos, do Algarve e de Portugal além-fronteiras, de onde trazem distinções honrosas comprovadas pelos prémios conquistados nas competições em que participam.

Ljiljana da Silva pretende que a Associação de Dança de Lagos consiga proporcionar uma formação a tempo inteiro em parceria com outros estabelecimentos de ensino, servindo a região algarvia e evitando que quem queira seguir carreira no bailado tenha obrigatoriamente que ir para Lisboa estudar. “Permitir que as crianças sigam o seu sonho na dança foi o que sempre me inspirou. Gosto de ensinar. Nunca vi a escola como um negócio”, sublinhou.

O próximo espetáculo da ADL será nos dias 20 e 21 de abril, às 19h30, no Centro Cultural de Lagos para assinalar o Dia Mundial da Dança. Ljiljana da Silva convida todos a assistir, realçando que a “porta da escola está sempre aberta” para receber novos alunos.

JOVEM TALENTO

Afonso Gouveia tem apenas 12 anos e destaca-se na ADL pelas suas performances inspiradoras e sublimes que demonstram dedicação e afeição pela arte. É natural de Lagos, cidade onde vive, e é aluno da ADL desde os quatro anos. Apesar de ser ainda muito novo, já sonha com a dança como profissão no futuro. “Gostava de ser bailarino profissional, viver disto. Quem sabe, um dia. Sei que é difícil, exige muita dedicação e disciplina, mas a minha vontade é de continuar a dançar”, confidenciou.

O jovem lacobrigense, que este ano se estreou na Dança Contemporânea, tem somado inúmeras medalhas, principalmente como solista, no Ballet Clássico e na Dança Carater, além de dançar em dueto e em grupo, fazendo parte do conjunto que ganhou a medalha de ouro com a coreografia ‘Mountain Dance’ no Dance World Cup. “A competição foi muito difícil. Conquistar o 1.º lugar foi de uma grande emoção e muita felicidade”, partilhou.

PAIXÃO GERA ÊXITOS CONTÍNUOS

Marina Khametova, antiga bailarina profissional com formação na Rússia, é responsável por coreografar os alunos que vão às competições, nacionais e internacionais, sendo dela a autoria de cada número. O peso é enorme, mas Marina está habituada ao rigor e à disciplina que tamanha tarefa exige. O trabalho tem sido reconhecido, mas a responsabilidade aumenta.

“A competição está cada vez mais forte. A cada medalha custa mais a nível físico e mental. Tem sido muito trabalho e muita luta para continuarmos a manter os mesmos resultados, porque há mais escolas a competir e todas elas com qualidade elevada”, desabafou.

“É um orgulho o trabalho que temos feito. Termos alunas no Conservatório Nacional é prova da qualidade do nosso ensino, mas também nos exige a fazer sempre melhor. Eu, como professora, partilho com os meus alunos o gosto pela dança e a evolução, porque também estou a crescer e a aprender novas danças, novos exercícios. Gosto do que sinto quando danço e tento partilhar com eles. Adoro ensinar”, disse.

Habituada há muito aos desafios, Marina Khametova assume estar em constante processo de desenvolvimento de novas coreografias.

PALMARÉS

Sete participações consecutivas nas finais da Taça do Mundo da Dança (Dance World Cup) desde 2011, onde se destacaram classificações de 1.º, 2.º e 3.º lugares. Em 2012, na Áustria, a ADL destacou-se, obtendo a medalha de ouro e um prémio especial de ‘Melhor Grupo de Dança Nacional e Folclórica’ com a coreografia ‘Lesginka’.

No ano passado, na Alemanha, a associação levou oito coreografias à competição e voltou a brilhar conquistando duas medalhas com coreografias de grupo: ‘Mountain Dance’ (ouro) e ‘Kuban Cossacks’ (bronze).

É ainda de realçar que estas coreografias medalhadas são da autoria da professora. Marina Khametova. Nas competições a nível nacional, a ADL tem participado, entre outros, na Dançarte – Faro, Leiria Dance Competition e Festival de Artes Infantil e Juvenil de Albufeira.

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