‘Bricia du Mar’ é investimento de dez milhões em Ferragudo 

Fica a escassos metros das praias e da vila de Ferragudo, representa um investimento total de dez milhões de euros, sendo uma aposta de uma família local, e dá-se a conhecer pelo nome de ‘Bricia du Mar’.

É um turismo rural com 12 mil metros quadrados de área total, pensado e gerido por Boto Oliveira e pelos seus filhos, Miguel e Bruno Boto. Com mais de quatro décadas de ligação à construção civil, o empresário decidiu agora apostar num novo setor de negócio, aproveitando a experiência acumulada de anos, com este novo empreendimento de quatro estrelas, situado junto à via que liga Ferragudo à Praia do Molhe.

O espaço abriu a 21 de março, em regime de ‘soft opening’, e contempla 56 quartos, dos quais 44 são ‘kitchenette’ e 12 são duplos, distribuídos por quase dois mil metros quadrados. O hotel conta ainda com restaurante, SPA, banho turco, sauna, ginásio, uma zona de bar ao ar livre e outra de barbecue.

Valências abertas à comunidade
O que diferencia este projeto é o facto de abrir portas à comunidade. Isto porque, além do alojamento e das áreas reservadas ao hóspede, o empreendimento tem espaços que podem ser utilizados por qualquer pessoa. “Temos o ginásio, com cerca de 350 metros quadrados, o SPA, com três salas de massagem, e uma zona de húmidos com uma sauna e um banho turco. Temos ainda um ‘rooftop’, onde queremos promover alguns eventos, como festas temáticas, com som ambiente, um DJ ou ‘chill out’, todos espaços abertos ao público, hóspedes ou não. Na zona de barbecue, a ideia é que as pessoas, enquanto tomam a refeição, oiçam música ao vivo, como fado, acordeão… Estamos também disponíveis para casamentos, batizados, porque há áreas independentes que podem ser utilizadas”, explica Miguel Boto.

O SPA ficará a cargo de duas sócias, uma delas com 30 anos de trabalho nesta área, em Portimão, e a outra com 12 no Dubai. “Elas é que exploram, dinamizam, promovem. São pessoas que estão na área, são formadoras” e têm muita experiência, acrescenta. Tal como nestes espaços, o empresário refere ainda que qualquer pessoa poderá almoçar ou jantar no restaurante do hotel.

Aliás, todo o projeto foi desenhado de forma a que os serviços sejam independentes. Existe uma entrada única para a receção, com uma passagem limitada aos hóspedes que estão alojados no ‘Bricia du Mar’, onde se inclui a utilização exclusiva da piscina e bar. Os restantes serviços podem ser utilizados por um cliente do exterior em qualquer época do ano”, garante.

Uma abertura positiva
Com cerca de três meses de abertura, o balanço tem sido positivo para os empresários locais, o que deixa boas expetativas para a época alta que se aproxima. “No 25 de Abril, por exemplo, tivemos uma ocupação de 90 por cento, o que é excelente. Tivemos eventos como a Moto GP, que são muito importantes para a região e que atraem muitas pessoas”, defende Miguel Boto.

A maioria dos clientes são reservas de última hora, que o empresário acredita se deverem aos momentos de incerteza que a sociedade vive. No entanto, o ‘booking’ tem sido o principal motor da procura. Há ainda alguns turistas que passam e decidem conhecer melhor o empreendimento, pois, “dentro da oferta que existe em Ferragudo, que é pouca, têm curiosidade de ver este espaço, porque é novo. E modéstia à parte, tem uma excelente qualidade. Construímos este hotel como se fosse a nossa casa, com preocupação em relação à qualidade, comodidade a diversos níveis”, garante, acrescentando que já tiveram no espaço clientes que chegaram por procura direta e que lá estiveram mais de três semanas, em três apartamentos.
Em função dos primeiros meses, a perspetiva é boa para estes empresários locais, pois as pessoas procuram a segurança e o clima do Algarve, ainda mais numa altura em que decorre uma guerra na Ucrânia, depois de dois anos de covid-19. “Temos bons indicadores de reserva”, diz.

Outras das intenções é que o hotel receba equipas de futebol, atletismo ou outras modalidades, quando estas optem por estágios no concelho, e que possam utilizar as instalações desportivas do município. “É uma forma de promover o concelho, a região, Ferragudo, sendo uma alternativa para a época baixa”, refere Miguel Boto.

Escassez de mão de obra
Com um ideal de 25 funcionários, uma das grandes dificuldades com que estes empresários se depararam foi encontrar mão de obra qualificada para trabalhar em hotelaria. Boto Oliveira lança bastantes críticas a esta situação, pois arranjou-se “o conceito de que só há trabalho no Verão. O próprio Estado diz: ‘Meus amigos, agora mandem o pessoal para o ‘fundo de desemprego’ que nós pagamos’. E é isto que está mal. Sempre houve trabalho, não tanto, mas há. Isto dá azo a que os empresários acabem a época balnear e mandem as pessoas embora”, argumenta.

O empresário garante, aliás, que chegou a divulgar anúncios de contratação e a não aparecer ninguém para trabalhar e considera que esta realidade é um problema grave, que não será resolvido se o Estado não tomar medidas nesse sentido.

“Uma pessoa vai trabalhar, porque é que a meio do contrato se vai embora? Tenho pessoas que vieram trabalhar há dois ou três meses e, quando a altura mais forte se começou a aproximar, foram embora. Há que agilizar uma lei que regule esta questão. Se o patrão paga, se está tudo bem, se quer ir embora deve ser penalizado”, defende.

A dificuldade da mão de obra qualificada é transversal à construção civil. “Não há profissionais como antigamente. Hoje, não sendo muito mau, não é o que gostaria que fosse, pois sou super exigente e não me vejo a andar para a frente muitos mais anos com esta nova mão de obra que existe agora”, admite.

Outra das críticas é à burocracia e às demoras na aprovação de projetos. “As licenças devem ser agilizadas no sentido de serem dadas rapidamente, pois em 308 concelhos, o Estado perde muito dinheiro a nível de impostos, quando uma licença se atrasa. Há que olhar para os empresários que investem e que estão no concelho a pagar os seus impostos”, avisa.

A aposta na hotelaria
Com raízes em Ferragudo, Boto Oliveira tem uma empresa de construção e experiência na área de quase 50 anos. A crise que afetou o país entre 2010 e 2015 colocou o setor em ‘stand by’, assim como esta ambição de abrir uma unidade hoteleira.

Miguel Boto era coordenador do Grupo Desportivo de Lagoa e o pai começou a solicitá-lo para a área das vendas, em 2016. Foi também nessa altura que o setor imobiliário, área em que o irmão Bruno Boto trabalha, retomou. “Tivemos a sorte de começar a vender alguns imóveis que tínhamos desde esse período, entre 2009 e 2015, no qual não tivemos encaixe de capital, mas estava tudo minimamente controlado. Eram entre 60 a 70 imóveis. Foi nessa altura também que concluímos o Edifício Belchior”, recorda.

Foi, no pós-crise, que os empresários conseguiram encaixe de capital e foi também quando surgiu a oportunidade de planear a construção do hotel. É o primeiro grande investimento nesta área para a família, ainda que antes também gerissem arrendamentos, mas numa escala mais pequena.
“Em Ferragudo há procura, mas há pouca oferta a este nível e, entretanto, surgiu a ideia de eu e o meu pai, avançarmos com este empreendimento”, conta o jovem administrador. Foi desenhado por ambos, com ajustes mais tarde realizados por um arquiteto, mas com a experiência de quem vive e respira construção civil há mais de 40 anos.

Um futuro com grandes decisões
A família não quer, porém, ficar por aqui no que toca a unidades hoteleiras e tem nos seus planos construir mais empreendimentos na zona. “Vamos ver como vai correr, mas não somos pessoas negativas. A seu tempo, talvez no início do ano, se nada falhar, vamos começar a construir nesta zona outra unidade”, revela Boto Oliveira ao Lagoa Informa.

O proprietário adquiriu dois terrenos, por isso, pensa construir mais hotéis na zona, o que, incluindo o ‘Bricia du Mar’, chegará a cerca de duas centenas de quartos. O investimento terá de ser realizado de forma sustentada, por isso, avançará por fases.

“Temos que ter em conta que tudo custará mais cerca de 30 a 40 por cento devido ao aumento do custo dos materiais e é preciso saber até quando esta guerra vai durar. Teremos de analisar se, em função do investimento, conseguimos tirar rentabilidade. Não nos vamos ‘empenhar’”, clarifica o construtor.


Números

= 10 milhões de euros de investimento

= 56 quartos

= 12 mil metros quadrados de área

= 2 mil metros quadrados de área coberta


Ambiente é prioridade

Uma das ideias que está presente neste projeto, por todo o empreendimento, é a preocupação com a sustentabilidade ambiental. Numa visita guiada, Boto Oliveira mostrou que nos telhados foram criadas caleiras, cuja água é direcionada por canos, até um enorme reservatório de água, situado por baixo da zona de barbecue. Esse recurso é armazenado e utilizado para a rega dos espaços verdes. Por todo o hotel, foram ainda colocados painéis solares nos telhados, que geram a energia necessária para o funcionamento do espaço.


Breves

Mais projetos no futuro
Este novo hotel de quatro estrelas poderá ser apenas o primeiro, pois a família Boto tem nos seus planos construir até mais três unidades, com 97, 39 e 20 quartos, em dois terrenos adquiridos na envolvente.

‘Bricia du Mar’ também é uma homenagem
O nome do empreendimento foi escolhido através de um passatempo promovido por Janine Medeira, criadora do ‘Poupadinhos e Com Vales’, natural também de Ferragudo. Os empresários deram algumas referências e pediram apenas criatividade e originalidade. De mais de 250 sugestões, “o que sobressaiu foi o ‘Bricia du Mar’”, explica Miguel Boto, que assinala que ‘Bricia’ é o nome da sua avó paterna, o ‘du’ remete para a pronúncia algarvia, e o ‘mar’ situa-se na envolvente.

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