Campeãs nacionais da Bela Vista querem deixar marca no atletismo

Texto: Hélio Nascimento | Foto. Lagoa Informa

A Associação Académica da Bela Vista (AABV) é cada vez mais uma referência no desporto algarvio, e, neste caso em particular, no atletismo, modalidade em que continua a somar títulos e distinções, na sequência de um trajeto de 17 anos que enche de orgulho os seus responsáveis e que se propaga aos atletas. Entre os muitos nomes que têm saltado para a ribalta, merecem agora realce os de Lara Roque, Luana Valente e Sofia Ganoshenko, campeãs nacionais na última época.

Todas elas são jovens e há largos anos que se dedicam ao atletismo, fazendo da coletividade lagoense uma segunda casa, tal é a afinidade e o prazer que sentem quando treinam ou entram em competição com as cores da AABV. Acresce que são boas alunas e não se poupam a esforços para marcar presença no planeamento competitivo, incluindo, por exemplo, algumas deslocações diárias de se lhe tirar o chapéu.

Neste contexto, começamos precisamente por Luana Valente, a que percorre maior distância para passar, segundo o que ela própria garante, “as melhores horas” do seu dia a dia. “Sou de Tunes, é lá que vivo e estudo, e, todos os dias, desloco-me para o estádio. Já estou habituada”, exclama a mais nova das três, de 14 anos, que se sagrou campeã nacional dos 1500 metros obstáculos, a par de diversos outros títulos e pódios, quer em termos regionais quer nacionais.

Um ambiente de profunda amizade
“Foi uma época em grande, uma das melhores, senão mesmo a melhor”, diz, por sua vez, Lara Roque, campeã nacional nos 3000 metros planos, que registou, ainda, títulos no desporto escolar e lugares de vice-campeã e dois terceiros lugares em torneios de nomeada. “O que guardo mais e com maior satisfação é o ter sido campeã nacional, inclusive porque foi nos sub-20 e eu tenho 16 anos”.

Lara sustenta que esta é a sua “prova do futuro”, embora tenha também registos de topo nos 2000 metros obstáculos. Aliás, algo comum a estas campeãs é o facto de darem ‘cartas’ em mais do que uma especialidade, não obstante começarem a ter as suas preferidas. “Pratico atletismo há dez anos, sempre aqui, na Bela Vista. Vivo em Lagoa, estudo em Portimão e passei para o 12º ano”, acrescenta, dando ênfase à “enorme família que é a AABV”, mesmo longe dos grandes centros. Além da qualidade intrínseca demonstrada em plena pista, “o ambiente é incrível, somos todas amigas e estamos muito tempo juntas”.

Sofia Ganoshenko tem 17 anos e o seu forte são os lançamentos, tendo conquistado o título nacional no disco, no escalão de sub-18. “Esta época é a mais importante da minha carreira, sobretudo porque estive lesionada algum tempo na temporada passada. E fui internacional pela primeira vez, em França, competindo por Portugal no lançamento do peso em pista curta”, destaca, com um sorriso que diz tudo.

Entre o peso e o disco, Sofia gosta mais do disco. Faz atletismo desde os 12 anos, sempre na Bela Vista, e, naturalmente, apesar do apelido, nasceu em Portugal e é bem portuguesa. Os pais são ucranianos, mas vivem cá há longos anos. “Passei para o 12º ano e vivo e estudo em Portimão”, adianta.
 
A técnica dita leis e é o mais importante
Luana Valente iniciou-se no atletismo logo aos cinco anos, na Associação Desportiva e Cultural de Tunes, tendo transitado para a AABV na temporada passada. A distância é significativa, mas a jovem tem transporte assegurado pelo clube do Parchal, que a vai buscar e levar a casa. “Viver em Tunes e estar neste patamar… de início foi complicado, porque tinha de gerir treinos, aulas, testes e muitas vezes chego tarde, mas depois fui-me habituando e agora já sei que tenho de estudar num certo e determinado tempo e tudo se consegue”, sublinha, muito compenetrada com este raciocínio, prestes a entrar no 10º ano de escolaridade.

As campeãs voltaram agora aos treinos, depois de um curto período de férias, cerca de duas semanas, durante o qual, contudo, não deixaram totalmente de treinar. “Duas semanas de férias, se calhar, é muito tempo para quem está sempre em atividade, e, por isso, tenho corrido com frequência. Sinto necessidade de correr”, atira Lara, adepta confessa das ‘férias ativas’, tal e qual como as suas colegas. No caso de Lara, mais do que as distâncias, estipula correr um determinado tempo, cronometrado… e não há quem a apanhe.
Voltando à conversa com Sofia, a opção pelo peso e disco nasceram das circunstâncias. “Ao princípio fazia de tudo um pouco, tipo provas combinadas, corta-mato e triatlo. Sempre tive muita força, pratiquei igualmente ginástica rítmica e ténis, mas comecei a obter melhores resultados no atletismo e dediquei-me aos lançamentos. Já em criança tinha muita força”, assume, exibindo um largo sorriso.
Sofia admite que nos tempos de iniciação “quem tiver mais força ganha”, mas agora “é a técnica que dita leis e que é mais importante”. O seu treino é obviamente específico, e, desde que torceu o tornozelo e teve a lesão, tem corrido muito menos. “Faço algumas retas, no final das sessões de treino, mas não corro mais do que isso”, salvaguardando o seu estado físico, num meio, o dos lançamentos, onde o porte atlético se mede praticamente todo pela mesma bitola. “Somos todas fortes”, afirma.  
 
O sonho e o prazer de representar Portugal
Sem dúvidas quanto a opções futuras, pois, como assinala, “quero seguir o atletismo”, Sofia Ganoshenko tem como referência uma norte-americana, de nome Valarie Allman, que é uma das melhores praticantes mundiais do disco e bicampeã olímpica. Luana Valente, por seu turno, admira Etson Barros, que também faz obstáculos, representa o Benfica – depois de ter corrido pelo Clube Oriental de Pechão, Olhão – e bateu recentemente o recorde nacional dos 3000 metros obstáculos, um dos mais antigos de Portugal, que durava há 21 anos!

“Não me vejo fora do atletismo. E os obstáculos é o que mais gosto”, frisa Luana, revelando que “inicialmente nem gostava muito de obstáculos”. O facto de ter mudado de clube, de Tunes para a Bela Vista, alterou-lhe a preferência. “Comecei a gostar e a ter resultados e por isso quero mesmo seguir os obstáculos. É um treino mais específico, que dá mais trabalho, mas, ao mesmo tempo, é mais desafiante”.

Para Lara Roque, em termos nacionais, a bracarense Mariana Machado é a referência, a par do algarvio Isaac Nader. “O atletismo é para continuar pela vida fora, não tenho grandes dúvidas”, sustenta Lara, cujos objetivos, a curto prazo, passam por “continuar a melhorar marcas, revalidar títulos e ser internacional”, estando deveras focada nestes propósitos, sobretudo em vestir a camisola de Portugal.
Sofia corrobora este entusiasmo e acrescenta ter sentido uma “maior responsabilidade” quando representou a Seleção Nacional. “Era um sonho, confesso, e atuar da melhor maneira possível. Quero repetir e quero, também, voltar a ser campeã nacional do disco e ainda tentar fazer os mínimos para os Mundiais de sub-20, que são no próximo ano. Estou um bocado longe dessa marca, mas acredito que, com trabalho, é possível lá chegar”.

Com os pais e o presidente Paulo Roberto por perto, as ‘nossas’ campeãs quiseram ainda destacar as boas condições existentes no Algarve, que lhes permite discutir lugares cimeiros na maioria das provas. “Os algarvios podem chegar longe, porque as estruturas são bastante razoáveis e, desde que queiram e trabalhem muito, não há impossíveis”, vinca Luana, indiferente ao esforço que é preciso despender. “Tenho amigas que me perguntam como tenho sempre vontade de fazer atletismo, mas o treino é a parte do dia que mais gosto”, repete, com convicção plena.

A terminar, Lara, que treina perto de duas horas todos os dias, enfatiza a adrenalina que sente em virtude de “todos os fins de semana existirem provas”, reconhecendo que nas competições nacionais a exigência parece aumentar. E há sempre adversárias fortes, de todos os clubes, sinal de que por esse país fora há mais clubes como o Bela Vista, remata Sofia, confirmando que as três campeãs preferem competir ao ar livre.

Presidente Paulo Roberto fala de novo recorde de atletas federados: “Os melhores resultados individuais de sempre”

“É para isto que cá estamos e é aquilo, sem dúvida, que me faz mais feliz”, considera Paulo Roberto, o presidente da Associação Académica da Bela Vista, a propósito das marcas e dos títulos dos seus atletas, em especial de Lara Roque, Luana Valente e Sofia Ganoshenko, as mais recentes campeãs nacionais. “Sou um presidente bastante satisfeito, quer por elas quer por toda a Bela Vista”.

Paulo Roberto fundou o clube há 19 anos e o atletismo regista 17. “Temos 143 atletas federados, o que é um recorde, mais sete do que há um ano, que, na altura, também era um recorde”, vinca, com orgulho, adiantando que “há praticantes que estão cá desde o início”. Os títulos nacionais são porventura, os “melhores resultados individuais de sempre”, elogiando ainda a atitude dos restantes diretores e técnicos, com quem reparte estes louros.

Em termos coletivos, a equipa feminina quer ser campeã da III Divisão e voltar a subir, enquanto os rapazes ficaram a um passo do pódio e espreitam igualmente a subida. “Temos um bom leque de atletas e a aposta continua a ser na formação, que apoiamos muito, até porque, é bom sublinhar, nos torneios de clubes da época passada a Bela Vista era sempre a mais jovem e tivemos juvenis a competir com seniores”.

O corpo técnico continua a ser coordenado pelo professor Paulo Ferro, que dispõe agora de mais colaboradores, incluindo aqueles que em Faro, mais à distância, seguem alguns atletas da AABV que por lá residem. E depois há casos específicos, como o da Sofia Ganoshenko, que requer um treinador especializado nos lançamentos.

“Tentamos dar o melhor possível a todos os nossos atletas, que têm seguro, fisioterapeutas e médica. As condições de treino satisfazem e agradecemos do fundo do coração à Câmara de Lagoa, que nos auxilia nas constantes deslocações. Sem este apoio, aliás, era impossível obter resultados desta dimensão”, garante Paulo Roberto.

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