Cantinho da Ciência|Covid-19 e o novo ano: da pandemia à esperança da vacina
JOÃO LOURENÇO MONTEIRO • BIÓLOGO
Se 2020 ficou marcado por uma pandemia que surgiu abruptamente e que se disseminou rapidamente pelo globo, esperamos que 2021 venha a ser recordado pelo ano em que a humanidade venceu a covid-19. Pelo menos esse é o meu desejo para este ano.
Fazendo uma retrospetiva ao ano que passou, fico admirado com o que a ciência conseguiu atingir em tão pouco tempo. A doença foi identificada na Ásia no final de 2019 e no início de 2020 os casos chegaram à Europa, levando os políticos a implementar medidas de isolamento físico e confinamento e os profissionais de saúde a tratar dos doentes que chegavam às urgências, de modo a achatar a curva do número de internados nos hospitais. Enquanto isso, os cientistas sequenciaram o genoma do vírus, começaram a estudar a doença e a procurar compreendê-la, testaram diversas terapêuticas e começaram a desenvolver as vacinas. David Marçal e Carlos Fiolhais, no livro ‘Apanhados pelo vírus’ (Gradiva, 2020), informam que em setembro de 2020 havia já mais de 56 000 publicações científicas indexadas no PubMed (base de dados de literatura médica).
Os cidadãos tiveram a oportunidade de acompanhar pelas notícias a ciência a ser feita em tempo real, com os seus avanços, recuos e correções. Tudo isto é algo avassalador pela sua rapidez, atendendo a que a ciência é por norma um procedimento lento e cauteloso, que neste caso foi acelerado pelo desvio de recursos humanos e por maior investimento financeiro, pois a urgência de saúde assim o ditava.
Por falar em investimento financeiro, é importante relevar o benefício de pertencermos à União Europeia, pois foi esta instituição que financiou os Estados-Membros com apoios sociais, que financiou investigação suplementar, que financiou, em milhões de euros, empresas e universidades na Europa e nos EUA para desenvolverem vacinas, e porque conseguiu negociar e adquirir vacinas a custo reduzido devido à aquisição de grandes quantidades e ao seu poder negocial. Se ainda dúvidas houvesse quanto às vantagens do Projeto Europeu, acho que ficam esclarecidas com estes exemplos.
Toda esta rapidez gera alguns receios às pessoas, principalmente quanto à eficácia e efeitos secundários das vacinas, que por norma demoram anos a serem desenvolvidas. É compreensível. Quanto a isto tenho a dizer que as diferentes vacinas que estão a ser desenvolvidas resultam das diversas tecnologias que têm sido estudadas e testadas nas últimas décadas e que no ano passado foram aplicadas contra este vírus em particular, passando pelas várias fases dos ensaios clínicos – e cujos efeitos continuam a ser acompanhados. Ainda há dúvidas, como qual o período de imunidade que as vacinas conferem, que só o tempo responderá.
Caros leitores, foi este o balanço do último ano. Desejo-vos um 2021 com muita saúde.