Carlos Gouveia Martins: “O PSD voltou a ter condições de entrar na disputa pelas autárquicas”
Carlos Gouveia Martins começou cedo na política e hoje, com 33 anos, já lidera a estrutura concelhia social-democrata em Portimão. Foi presidente da JSD do Algarve, onde militou dos 14 até aos 32 anos. Em fevereiro de 2018 tomou as rédeas do PSD Portimão para unir os militantes e criar uma coesão que será uma mais valia para o combate nas Autárquicas em 2021.
Como avalia o desempenho da Câmara no combate à covid-19?
Até à data, na globalidade, é um desempenho satisfatório. Souberam reagir atempadamente, informar e alertar a população dentro da estratégia de comunicação que entenderam seguir. Ninguém estava preparado para reagir a esta pandemia e, felizmente, soube-se agir suprapartidariamente, pensando nas pessoas e não nas siglas.Prevê-se uma crise económica devido à pandemia.
Quais devem ser as prioridades da autarquia?
A grande prioridade são as famílias portimonenses. Fazer tudo para que tenham comida na mesa, capacidade de subsistência nos negócios e no rendimento familiar. Sabemos que a economia terá um retrocesso nunca visto na história, o turismo não terá a pujança que servia de alavanca à economia local e temos um Algarve com um aumento de 202% de desemprego face ao período homólogo de 2019. É assustador. Temos consciência que afetará as pequenas e médias empresas, o comércio local, que haverá falta de liquidez e o município terá de fazer frente com pacotes de medidas de apoio nas quais o PSD já contribuiu. O PSD continuará a ser um parceiro social a trabalhar pelas pessoas e não a criar atrito político e partidário.
Quais são as preocupações dos portimonenses?
Há uma grande preocupação com a falta de estratégia de crescimento urbano, aliada à total ausência de critério ambiental, propostas verdes e de sustentabilidade no concelho. Qualquer portimonense atento conhece o desgosto social relacionado com o foco de discussão na demolição da ‘Vivenda Compostela’ e suspensão parcial posterior do Plano Diretor Municipal (PDM) na Praia da Rocha, a situação pendente do João D’Arens ou agora da Quinta da Rocha, em Alvor. São evidências e quem se queixa mais são os portimonenses livres de siglas, não são movimentos de base política ou oportunistas de períodos eleitorais. O concelho não se diferenciou como devia para ser uma referência maior no turismo. Na economia não arranca, na habitação não passam dos estudos, na juventude é um vazio enorme e Portimão merece mais alma e vontade.
“A grande prioridade são as famílias portimonenses. Fazer tudo para que tenham comida na mesa, capacidade de subsistência nos negócios e no rendimento familiar”.
Que trabalho foi feito no PSD de Portimão?
Tivemos um forte período de organização interna, de chegar a todos os militantes e atrair novos simpatizantes. Sobretudo, fazer o partido reacreditar em si. Hoje, qualquer militante tem orgulho em ser do PSD de Portimão. Liquidámos dívidas financeiras antigas, arrumámos a casa e falámos sempre a verdade, olhos nos olhos de cada militante. Somos uma estrutura frontal. Quem não sabe gerir a sua ‘casa’ como pode ousar querer liderar um município? Outros não têm a casa tão ‘arrumada’, mas manobram bem a mensagem que sai. No entanto, a verdade virá sempre ao de cima. Numa segunda etapa organizámos as várias formas de atuação política.
Em que moldes?
De forma interna, com recurso digital transversal, mas também na rua com os ‘roteiros de proximidade’ que já percorreram as três freguesias e no contacto com os munícipes, a partir dos quais construímos várias propostas políticas já apresentadas. Temos um trabalho evidente no plano autárquico, não só em quantidade, mas em qualidade e rigor. Só nós apresentámos um plano alternativo no momento das Grandes Opções do Plano (2018, 2019) ou uma visão alternativa ao Orçamento Municipal. Sabemos o que fazemos e somos exemplo na região. Apresentámos um caminho diferente ao da gestão socialista porque não somos meramente oposição, somos mesmo alternativa. Hoje Portimão sabe claramente que damos passos certos, que temos estrada própria e que temos ideias e soluções na mobilidade, na habitação, na cultura, no ambiente, na economia do mar, na juventude…
A concelhia social-democrata está hoje em melhores condições de se intrometer na disputa pela vitória nas autárquicas de 2021?
Não só está em melhores condições como, sobretudo, hoje o PSD voltou a ter condições de entrar na disputa das autárquicas. São coisas distintas. Somos hoje conscientes que é possível. Respeito muito e faço parte da história do PSD, mas prefiro a verdade e assumir sem ‘politiquice’ que, em 2013, o partido vivia sabendo que não tinha hipótese, chegando a 2017 subalternizado e sujeito a acordos feitos fora de Portimão. Hoje, por trabalho e mérito de quem ficou e está, reerguemos o PSD no concelho. Já houve fases em que o PSD pôde ousar ambicionar ganhar, entre finais da década de 80 até aos princípios dos anos 2000. Agora estamos a construir o caminho para dar a Portimão um percurso diferente da resignação e desgaste socialista, da total falta de rasgo e criatividade, da falta de alma e estratégia que existe por clara acomodação de 42 anos de gestão. Construímos o futuro para podermos ousar querer vencer a Câmara Municipal, a Assembleia Municipal e as três Juntas de Freguesia.
Então acredita estar à altura de quebrar a herança socialista?
Acredito muito no trabalho que faço. Da mesma forma, acredito muito nas ideias que construímos em comissão política e nas pessoas que fazem parte deste grande projeto. Acredito fundamentalmente, diariamente, na coerência de visão que este PSD apresenta em Alvor, em Portimão e na Mexilhoeira Grande. Quem anda na rua tem consciência de que estamos à altura de quebrar a hegemonia socialista e eu, mais do que qualquer pessoa, quero fazer o PSD ter o projeto político que vença pela primeira vez as Autárquicas em Portimão. A melhor resposta está na atuação e discurso do PS. Viviam em êxtase, a brincar que o PSD era só passado, mas hoje voltaram a focar o discurso no PSD porque temem o futuro que sabem que podemos ter.
“Não só está em melhores condições como, sobretudo, hoje o PSD voltou a ter condições de entrar na disputa das autárquicas. São coisas distintas. Somos hoje conscientes que é possível”.
Se pudesse escolher um Portimão ideal, o que seria diferente?
Muita coisa. Uma entrevista dá apenas para algumas frases. Não chega para expor todas as ideias, o que é pena. A nível de estratégia urbana e ambiental jamais aceitaria que Portimão fosse a nulidade de pensamento que hoje é (assente em gruas e betão desarmado) de ligação às famílias com espaços urbanos, com espaços de lazer ou mesmo atividades para animais. Uma cidade de pendor turístico tinha de ter um plano para a economia do mar e aproveitar de forma segmentada a porta de entrada que é o Porto de Cruzeiros. Teria de dar valor à nossa cultura rica de mar e não achar que um Festival da Sardinha chega para honrar o passado riquíssimo que temos. Falta uma aposta na mobilidade suave que só o PSD defende, entre as ciclovias a ligarem territorialmente já todo o concelho, o transporte urbano ‘vai e vem’ associado à energia renovável, o parqueamento e a aposta na política de ‘Carbono Zero’ e sustentabilidade ambiental. Teríamos a capacidade de inovar e pensar na felicidade das pessoas. Uma política de novos índices para as pessoas e não para os números. Olhar para a capacidade de fixar pessoas e jovens, através de uma forte política de habitação e habitação jovem com apoio direto às novas empresas sem esquecer a forte carga fiscal que aqui se sente e não é compensada por ausência de visão financeira e económica. Portimão está com décadas de atraso e corre atrás de outros concelhos. Connosco iriam correr atrás de nós porque iríamos recolocar Portimão a liderar e a ser exemplo. Construímos este programa desde o primeiro dia após as eleições e, na altura certa, irão ver o quão diferentes somos.
Que problemas identifica nas três freguesias?
Portimão é uma mega freguesia. Não representa a ‘típica’ freguesia portuguesa e, por isso, sendo maior que 90% das cidades algarvias, tem problemas diferentes, porque é difícil entrar na lógica de freguesia de reduzida dimensão e apertada malha urbana. Tem problemas de ligação e química social entre a zona litoral das praias, tendo um ‘fosso’ de ligação até ao centro histórico. Falta lógica cultural e histórica que una estas duas pontas que funcionam a velocidades diferentes consoante a altura do ano. E, erradamente, têm resposta idêntica como se fossem ‘o mesmo’. Resolve a espuma dos dias e ninguém conhece uma reforma estrutural de ação assente em protocolos, parcerias e subsídios. É pouco, mesmo que cumpram o objetivo de fazer apenas um novo edifício de Junta. E, face à covid-19, espero que adaptem essa verba para as famílias e comércio local.
E em Alvor?
É uma freguesia que teve aposta forte nas últimas décadas e cresceu muito, por mérito do PS, é bom que se diga, mas ainda tem um potencial inacreditável de ligação à Ria que não tem sido explorado com a associação ao comércio local e turismo diferenciado. Carece de uma estratégia de habitação que impeça o colapso do que hoje é fantástico.
É uma realidade diferente da Mexilhoeira Grande?
A Mexilhoeira neste momento está fora do círculo. Politicamente afastada e socialmente resignada. As pessoas que vivem na Mexilhoeira Grande e na Figueira, sentem-se animicamente longe da sede de concelho e tem de ser a Câmara Municipal de Portimão a atrair a Mexilhoeira, a criar ligação e a assumir como prioridade a nossa vila que até ‘tem’ o Autódromo, o ninho de empresas StartUp Portimão e um potencial incrível a nível empreendedor que deve ser explorado pela ligação entre Portimão-Lagos-Monchique.
“Falta ir às escolas e perceber que quem tem 18 anos, ou menos, tem direito a ter soluções. A juventude portimonense não é o Março Jovem”.
Como resolveria essas situações?
Sabemos o que queremos para as três freguesias, andamos há mais de dois anos a recolher contributos de quem vive e trabalha nesses locais. É preciso, sobretudo, ouvir quem conhece a realidade, em vez de partir de falsos pressupostos de grandes estudos que só custam dinheiro ao erário público e, maioritariamente, são realizados por quem nem é de cá como o PDM. É um bom exemplo dessa ausência de elo de ligação à terra. A Câmara tem de sair da área de conforto e dar a cara nas duas freguesias, de Alvor e da Mexilhoeira Grande, comprometida com as ideias dos seus fregueses e não com a cartilha política e ideológica que cumpre pouco os desígnios do concelho. Os problemas resolvem-se todos com propostas e soluções mas, só se consegue, sobretudo, após grande conhecimento e identificação dos problemas. Já os fizemos e à data estamos, na pior das hipóteses, ao mesmo nível de conhecimento do PS com a diferença de que lideram os destinos há 42 anos e nós tivemos de correr por fora. Porém, coragem e rasgo, só tem o PSD.
Falta participação cívica dos jovens?
Falta dar a cara. Saber ouvir mais do que encher os ouvidos de quem encontramos com frases feitas. Falta sentir o que dizemos. Faltam pessoas que falem sem discursos escritos, que normalmente alguém os fez ou são uma compilação de ideias de outros. Quando se fala com conhecimento de causa, para quê a cábula? Falta ir às escolas e perceber que quem tem 18 anos, ou menos, tem direito a ter soluções. A juventude portimonense não é o ‘Março Jovem’. Porque não há um Orçamento Participativo Jovem com direção e princípio de ação nas Escolas Secundárias? Porque há os estudos todos, bem pagos, da Dypall agora à MyPolis 4.0 (que são boas entidades), se não complementam nada? Onde está uma simples Assembleia Municipal Jovem? Não há. Como querem atrair os jovens se não falam a língua deles nem conhecem as suas realidades e ambições? Em Portimão os jovens não contam, são número e encobertos em estudos. Se a Câmara Municipal quiser, o PSD está disponível para mostrar os problemas escolares das segundas gerações de filhos de imigrantes, os problemas de acesso a ferramentas de estudo, os horários reduzidos da biblioteca e polos (únicos) de estudo. Há, reconhecemos, esforço em protocolos e estudos ao nível do Ensino Superior, não nos custa elogiar. Mas falta todo o resto que começa, desde logo, na ausência de parques infantis, de espaços verdes, manutenção de espaços desportivos comunitários e, claro, espaço de debate jovem.
Texto e foto: Ana Sofia Varela