Casa Bela Moura paga ginásio e cede bicicletas a empregadas
No concelho de Lagoa, uma pequena unidade turística investiu 5 mil euros para que as funcionárias não poluam o ar com dióxido de carbono, ao mesmo tempo que estimula exercícios físicos em ginásio.
Texto: Fernando M. Vieira / Foto: Kátia Viola
De portas abertas desde 1984 na Estrada de Porches, o pequeno hotel rural de 4 estrelas Casa Bela Moura proporciona às empregadas o uso de bicicletas elétricas, destinadas às deslocações casa/trabalho. Também lhes paga as inscrições e mensalidades para que frequentem um ginásio da zona.
“Procuramos desta forma contribuir para um estilo de vida mais saudável e uma economia sustentável. Julgo que somos dos primeiros empregadores do país a ter uma iniciativa assim”, conta o empresário Christophe Rijinders ao Lagoa Informa.
“Sempre foi nossa intenção que os hóspedes descubram a região de uma forma mais completa. Muitos deles nem vão à praia e preferem o barrocal e a serra. Então, desde há dez anos disponibilizamos gratuitamente bicicletas normais para que pedalem pelo interior, em busca da história e das tradições do Algarve. Temos até o cuidado de sugerir certos itinerários e editamos uma publicação semanal com 4 páginas, cheia de dicas em várias línguas”, refere o gerente.
“Em dado momento, notámos que, enquanto os hóspedes pedalam por aí ou passeiam a pé, as nossas empregadas deslocavam-se de carro entre a casa e o trabalho, muitas vezes em percursos com poucas centenas de metros. Decidimos então investir em quatro bicicletas elétricas, compradas numa loja de Lagoa por cerca de 5 mil euros, e pagar mensalmente a inscrição num ginásio da zona. Desta forma, sensibilizamo-las para dois aspetos fundamentais: primeiro, para serem amigas do ambiente; depois, para se manterem em forma”, elucida Christophe, um belga de 41 anos “apaixonado pelo Algarve.”
GARANTIAS E MIMOS
Ao caracterizar os hóspedes do seu pequeno hotel de charme, o responsável conta que predominam os belgas, os holandeses e os dinamarqueses, seguidos pelos alemães e pelos portugueses. “Tendo em consideração o nosso cliente-tipo, que é de classe média-alta e geralmente se expressa na língua de Shakespeare, proporcionámos às nossas empregadas de limpeza a frequência em aulas de Inglês, para poderem manter uma conversação”, observa.
“Como somos um empreendimento tão pequeno, com apenas 15 quartos, cria-se uma empatia especial entre clientes e empregados, um dos aspetos que nos distingue. Isso representa uma diferença enorme na experiência que os turistas levam daqui e que depois se tem refletido no passa-palavra, a mais eficaz das publicidades. Obviamente, as nossas empregadas não se instalam à beira da piscina… mas pouco falta”, diz com um sorriso.
Sobre o potencial turístico de Lagoa, Christophe Rijinders considera-o “enorme”. E exemplifica: “Em conjunto com Silves, esta região tem muito para oferecer em termos de experiências únicas, da vinha à citricultura, passando pelos itinerários sobre as falésias, como o magnífico trilho dos Sete Vales Suspensos, entre a capela de Nª Sr.ª da Rocha e Carvoeiro, além dos passeios de barco pelas grutas e da gastronomia local. Existe um sem-número de propostas espetaculares e identitárias, sem esquecer as condições climatéricas ao longo do ano e a segurança que nos caracteriza.”
A propósito, o empresário revela ao Lagoa Informa que pretende aumentar para 20 a oferta de quartos na Páscoa de 2018, pois é sua intenção que a Casa Bela Moura passe a funcionar durante todo o ano, ao invés de apenas abrir portas de 15 de fevereiro a 15 de novembro. “A partir daí, poderemos celebrar contratos anuais com o nosso pessoal, proporcionando outra estabilidade”, adianta. Menciona, a propósito, a recente contratação de mais dois elementos, que vieram reforçar a anterior equipa de sete, prevendo já o acréscimo de trabalho daqui por um ano.
Na sua ótica, “se queremos ter empregados que gostem do que fazem, porque se sentem motivados, devemos oferecer certas garantias e dar alguns miminhos. É por isso que pagamos acima da média e temos iniciativas como a das bicicletas ou a do ginásio.”
MOTIVAÇÃO E SURPRESA
A rececionista Alexandra Van Lunzen, com dupla nacionalidade holandesa e inglesa, exerce funções na Casa Bela Moura há apenas dois meses. “Vivo muito perto daqui, a cerca de 100 metros, mas apesar disso usava o carro para vir trabalhar. As bicicletas são mais saudáveis e não poluem. Também me inscrevi no ginásio, já tenho um horário, mas ainda não o comecei a frequentar. Desconheço outra empresa com este género de iniciativas, as quais só motivam os trabalhadores”, sublinhou à nossa reportagem.
Segundo a empregada de limpezas Laura Caeiro, residente em Armação de Pêra, “isto facilita-me muito a vida”. E explica porquê: “Como não tenho transportes de manhã, assim posso vir e regressar a casa todos os dias na bicicleta elétrica, ao meu próprio ritmo. Quando comento com pessoas amigas sobre esta iniciativa dos meus patrões, ficam espantadas e custa-lhes a acreditar. Não estou a pensar ir ao ginásio, pois estas viagens diárias já representam um bom exercício físico.”
RENDIDOS AO CONCELHO DE LAGOA
Quando abriu portas há 33 anos, a Casa Bela Moura foi o primeiro estabelecimento de turismo rural no Algarve, tendo apenas oito quartos. Surgiu por iniciativa do antigo árbitro internacional Salvador Garcia, natural de Silves, desejoso de promover a região de origem junto dos muitos estrangeiros que conheceu durante a sua carreira desportiva.
Aos 12 anos, Christophe Rijnders veio passar pela primeira vez férias ao Algarve na companhia dos pais, empresários do setor têxtil. Ficaram rendidos aos encantos da zona de Lagoa, com as falésias e as pequenas praias escondidas. Em 2002, na companhia da sua esposa Sofie Blyaert, uma suíça instrutora de ski, decidiram apostar no empreendimento, que se encontrava à venda. Pais de uma menina de 5 anos e um menino de 3, aqui investiram todas as economias. “Se me perguntassem se repetiria tudo, 15 anos depois, diria ‘sim’ sem a menor hesitação, apesar de todas as burocracias e dificuldades por que passámos”, garante o empresário.