Conservatório de Artes de Lagoa abre espaço à dança
Texto: Ana Sofia Varela
O Conservatório de Artes de Lagoa pretende apostar na dança no ano letivo 2019/2020, a partir de setembro, com um curso livre no imóvel cedido à associação Artis XXI, ao lado do Tribunal do Comércio, mas esta é uma realidade que depende de fatores externos à direção.
“Podemos abrir o curso livre, numa primeira fase, e candidatar esta vertente em fevereiro de 2020 para iniciar no regime articulado no ano letivo 2020/2021”, avança Mário Guerreiro, diretor do Conservatório à data do fecho desta edição.
No entanto, esta intenção implica alterações na estrutura física do edifício, que só podem ser efetuadas quando algumas questões exteriores estiverem resolvidas. Isto porque, há pelo menos duas a três salas ocupadas com instrumentos da Academia de Música de Lagos, que no passado usava o espaço, mas que não podem ser movidos enquanto o Tribunal, que arrestou os materiais, não tomar uma decisão acerca do processo que envolve aquela entidade.
“Há uma necessidade urgentíssima de saírem daqui para nós podermos usufruir das salas na totalidade. Precisamos de criar um estúdio de dança para abrir o curso. No piso superior temos o auditório, que se destinava a uso da Orquestra. Tínhamos pensado deitar abaixo as divisões nestas salas do piso inferior, que são em contraplacado, para criar um espaço grande, em princípio para fazer o estúdio de dança. A outra opção é que essa vertente seja instalada no 1º andar e a Orquestra passe para o rés do chão”, mostra o diretor.
Até seria a opção mais viável, pois facilitaria o transporte dos equipamentos quando necessário e aproveitaria o facto de no piso superior existirem casas de banho com chuveiro. A intervenção até é relativamente fácil, na perspetiva do responsável, mas é necessário que os restantes espaços estejam libertos.
“Está tudo dependente disso, por muito boa vontade que tenhamos. Sem isso dificilmente conseguiremos abrir a dança. Vamos insistir”, assegura Mário Guerreiro.
O projeto prevê este alargamento a outras formas de arte, sobretudo à dança, num futuro muito próximo, tendo sido esta, aliás, uma das razões a que levou a que este se chamasse Conservatório de Artes de Lagoa, entidade gerida pela recém-criada associação Artis XXI. A intenção é que a oferta formativa cresça.
Nova associação
A associação Artis XXI foi criada para dar fôlego ao novo Conservatório de Artes de Lagoa e assim garantir o ensino da música. O projeto conta com 49 alunos subsidiados no ensino articulado, tendo aberto portas no ano letivo passado (2018/2019).
A candidatura ao contrato patrocínio é efetuada, como prevê a legislação, a cada biénio e este atual Conservatório ficou com os 49 alunos que já existiam em Lagoa no ano letivo anterior, excluindo os que terminaram o percurso em 2017/2018.Apesar de no total a escola ter 53 alunos neste regime, o Ministério apenas subsidia 49, por alegar que quatro não estavam registados no sistema.
O Conservatório conseguiu, ainda assim, garantir o ensino a este pequeno grupo, com o apoio da Câmara Municipal de Lagoa, que se prontificou a disponibilizar a verba necessária para esses alunos e para a aquisição de instrumentos, relatou à Algarve Vivo o responsável Mário Guerreiro.
Ano zero atribulado
Foi um ano complicado para colocar o ensino a funcionar. “Tivemos que fazer este ano, um esforço financeiro gigantesco na aquisição de instrumentos porque tínhamos zero. Foram mais de 40 mil euros. E são apenas os estritamente necessários ao funcionamento das diversas aulas”, garante Mário Guerreiro.
Vários fatores levaram a que o ano letivo começasse com muitos atrasos e só em meados de novembro é que o Conservatório estava a funcionar em pleno. “Queríamos começar as aulas e não tínhamos instrumentos, nem dinheiro, porque o Ministério ainda não tinha transferido nenhuma verba referente ao contrato patrocínio. A primeira tranche só chegou a 31 de dezembro. Andámos a adquirir instrumentos, avisando os fornecedores que não havia disponibilidade financeira, no momento. Tenho muito a agradecer a todos os que confiaram em nós”, conta.
As aulas só começaram quando saiu a primeira lista provisória com números de alunos. Até essa altura, tudo o que foi realizado pela associação Artis XXI foi correndo o risco de o Ministério não aprovar. A lista definitiva chega então no início de dezembro.
O atraso inicial nas aulas levou a uma sobrecarga, até ao final do ano letivo para compensar as aulas em falta. “Foi um ano extremamente complicado, mas acho que valeu a pena. Este ano começará a horas”, garante o responsável.
Para já, um concerto de sopros em Carvoeiro, no sábado, 13 de julho, encerrou o ano letivo 2018/2019 para o Conservatório de Artes de Lagoa.
Garantir ensino
O antigo Conservatório de Música de Lagoa era tutelado pela Academia de Música de Lagos, que até aqui se vê num processo instaurado pelo Ministério Público por alegada fraude e crimes na utilização de dinheiro público.
Um grupo de pais e professores juntou-se para criar a associação Artis XXI, fundar o Conservatório de Artes de Lagoa, garantindo o ensino neste concelho.
“Do que existia a única coisa que temos são os alunos e o edifício, porque foi cedido pela Câmara Municipal de Lagoa”, refere Mário Guerreiro.
Guitarra Portuguesa será destaque
O Conservatório de Artes de Lagoa pretende dar uma maior força à Guitarra Portuguesa, havendo a intenção de realizar atividades que destaquem o instrumento, explicou Elsa, uma das docentes responsáveis. Durante o ano letivo houve outras iniciativas que “fomentaram a ida a concertos, proporcionaram momentos com os artistas, mostraram como funciona o ‘backstage’. Tivemos, por exemplo, o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, que antes do espetáculo incluiu dinâmicas com o instrumento. Os docentes receberam uma partitura de música contemporânea e prepararam-na com os estudantes com antecedência”, conta a professora. No início de junho esse grupo fez um workshop com os alunos, que mais tarde deu origem ainda a um concerto. “Isto faz parte da nossa estratégia, incluir, integrar”, resume.
Intercâmbio na Alemanha foi oportunidade
A Escola Secundária Padre António Martins Oliveira de Lagoa (ESPAMOL) costuma ter vários Erasmus, com França e Itália, mas um deles é com a Alemanha e refere-se à música. Assim, alunos do ensino articulado podem receber colegas daquele país e, mais tarde, ir para a casa deles. “Houve um programa e, no final, um concerto, no Auditório. Nessa semana, entretanto, mostram o concelho a esses alunos do intercâmbio, enquanto convivem e trabalham em conjunto. As músicas já vinham sendo preparadas por cada um no seu país, mas depois há o trabalho conjunto quando se encontram. Em abril os nossos alunos viajaram para a Alemanha onde atuaram num concerto, ao qual conseguimos assistir através da publicação em direto no youtube”, descreve.