Crescimento da Escola de Boxe de Portimão faz sonhar em grande escala

Texto: Hélio Nascimento | Fotos: Kátia Viola


Há boxe em Portimão! E do bom! André Reis é o rosto do projeto que ganhou maior visibilidade a partir de 2012 e que agora, para além de encantar quem pratica, está a adquirir uma dimensão suscetível de trazer para a cidade um retorno assinalável, como mais adiante se verá. “Já havia boxe por aqui, pelo que, na altura, a ideia foi formalizar e legalizar um clube, com o nome de Portimão, de modo a projetá-lo. Foi assim que surgiu a Escola de Boxe. A ideia, repito, foi pegar no que já havia, porque tínhamos atletas em atividade e eram dadas aulas”, explica André Reis, de 38 anos, fundador, treinador e presidente da associação que continua a crescer.

“Tenho levado o projeto por diante. Faço boxe desde os 14 anos, de forma lúdica, num período em que nem havia muitas condições. Por isso, o objetivo foi proporcionar aos jovens essas condições para poderem competir e ir mais além”, prossegue André Reis, que recebeu a reportagem do Portimão Jornal em pleno Centro de Treinos, localizado na zona da Coca Maravilhas. À medida que começavam a chegar os atletas, para as respetivas sessões de treino, a vasta área ganhava outra cor, muito embora as notícias de então apontassem no sentido de que as instalações não tardariam a ter de fechar, devido às novas restrições subjacentes à pandemia. Mas desta situação já voltaremos a falar.

“Boxe no Algarve? Há história, sim senhor, mas, quando falo com pessoas que estão fora da modalidade, a ideia é essa, que não existe ou então tem reduzida expressão. Mas temos clubes com muitos anos de prática, em especial no sotavento, com uma história rica e bons resultados alcançados em provas internacionais, casos do Campinense e do Arena de Faro. Existe mesmo história. Aqui no barlavento, porém, é diferente, os exemplos são poucos e a tradição escasseia”, comenta o responsável, clarificando uma questão certamente desconhecida da maioria do público.

Os primeiros títulos, os miúdos e as senhoras
Fundada em 2012, como já se disse, a Escola de Boxe de Portimão começou a ter resultados logo no ano seguinte. “Nós legalizámos o que já tínhamos, ou seja, havia atletas que treinavam bastante e estavam por isso em condições de competir e obter bons resultados. Em 2013 entrámos em provas, com elementos muito bem preparados, conquistando de imediato alguns títulos nacionais e regionais”, recorda André Reis, referindo que as camadas jovens foram sempre a prioridade e a principal aposta do clube.

“Os cadetes e juniores são os escalões de maior expressão. Chegando a seniores, alguns dos atletas acabam por rumar a outras paragens, seguindo as suas carreiras universitárias. Daí que o nosso foco seja a formação, ensinando miúdos desde os 6 anos, incutindo-lhes valores e mostrando a necessidade de fazerem exercício físico, dando-lhes também a entender que o boxe não é um desporto violento e que a formação é a razão de existência da escola”, esclarece o mentor.

E os pais? Como reagirão ao verem os seus filhos escolherem uma modalidade por muitos catalogada de algo violenta? André Reis sorri, como se já esperasse a questão. “Temos sempre essa parte em equação, é verdade. Os miúdos apaixonam-se pelo boxe, veem filmes e séries e entusiasmam-se ainda mais, e os pais, que ao princípio pensam que esta prática é mesmo violenta, com sangue e tudo, acabam depois por mudar de opinião. Chegam aqui, analisam como tudo decorre e são eles, os próprios pais, a vir ter connosco e a incentivar os filhos”.

Neste contexto, a Escola de Boxe é igualmente muito procurada por senhoras, sejam mais ou menos jovens, algumas das quais apostam na competição e registam resultados de vulto. “Tivemos aqui uma atleta feminina que teve grandes vitórias, tendo representado o clube ao mais alto nível, sempre com resultados e títulos nacionais”, confirma André Reis. No seu entender, aliás, o boxe feminino está na moda. “É um desporto saudável, que permite desenvolvimento físico, cardiorrespiratório e também defesa pessoal. E está na moda porque é procurado por muitos modelos, na tal linha de melhorar a componente física e ser útil na defesa pessoal. Temos a Sara Sampaio, por exemplo, que deu uma entrevista a fazer boxe. E agora foram os pilotos da Fórmula 1 a divulgar que fazem boxe como preparação. Ou seja, tudo isto teve desde logo uma grande projeção mundial”.

Alto Rendimento é um sonho que se torna cada vez mais real
André Reis é enfermeiro de profissão, no barlavento algarvio (CHUA), e está, por assim dizer, em duas frentes de luta. Na do boxe e na da saúde. “Não estou na linha da frente do covid, mas na outra, que as redes sociais dizem que não existe. Estou lá eu e outros colegas para que os doentes melhorem e possam sair do hospital”, assevera, com uma bicada para quem muito diz e pouco acerta.

O assunto do momento, porém, no que ao boxe e ao Centro de Treinos diz respeito, é outro. André Reis toma balanço, por assim dizer, e revela ao Portimão Jornal um objetivo que, embora para realizar a médio prazo, todos os dias ganha consistência e faz sonhar. “Temos um projeto para criar um Centro de Alto Rendimento de desportos de combate, numa parceria com o Município. Levará o seu tempo, mas estamos a lançar as primeiras pedras. Queremos que seja uma referência em Portimão e um espaço para estágios de vários desportos de combate, com uma abrangência enorme, algo que não existe no nosso país”, atira o treinador que também é presidente.

“Temos tudo: sol, praia, clima bom e condições ideais para receber equipas nacionais e internacionais de excelência, incluindo seleções. Basta acreditar, trabalhar e ir em frente. Isso implica sair daqui, do Centro de Treinos. Será um projeto de raiz, uma caminhada que estamos a iniciar, para projetar estes desportos e até acrescentar outras valências. Vamos crescer e ficar aptos para receber todo o tipo de equipas e seleções”, considera André Reis.
Este Centro de Alto Rendimento terá instalações próprias, já identificadas na cidade. “É um sonho que se torna cada vez mais real. Quando o projeto é apresentado às pessoas, muitas dizem que é megalómano, mas que é possível. Trará muito a Portimão, nomeadamente em termos de turismo, fora do Verão, levando a apostar em outros tipos de iniciativas, como o turismo desportivo. É um projeto que envolve muito dinheiro e muito retorno, porque, para além do aspeto desportivo, é uma forma de trazer pessoas à cidade fora da época alta”.

Portimão Boxe Cup apontada para maio
Desde o primeiro dia, a Câmara Municipal tem sido o grande parceiro das ideias e iniciativas de André Reis e da Escola de Boxe. “Acreditou quando isto ainda não era nada, e depois, quando viu a dimensão do projeto, nunca mais o largou, o que é bastante satisfatório”. A Junta de Freguesia de Portimão e várias empresas da cidade, “que nunca nos abandonaram e não deixaram o projeto cair”, estão igualmente a contribuir para o sucesso.

“Objetivo imediato? Continuar a mostrar que o boxe não é violento, que pode ser praticado por todos, convencendo e trazendo pessoas para a prática de exercício físico, ao mesmo tempo que incutimos aos jovens os valores e respeito pelos outros”, insiste André Reis. Na calha está também a Portimão Boxe Cup, uma prova que “no ano passado, infelizmente, não passou do papel, embora já tivéssemos inscritos”, na linha da Algarve Boxe Cup, um torneio da Associação, realizada em Portimão, que “foi espetacular e serve de lançamento para esta Portimão Boxe Cup, que é mais um dos meus sonhos”, revela o mentor.

A pandemia adiou, no ano passado, a estreia desta prova, com atletas internacionais e a nata nacional. Agora, aponta-se a maio. “Ainda acreditamos, mas vamos ser realistas e, se calhar, não será possível este ano. Mas vai haver e cá estaremos”, promete André Reis, um ‘lutador’ por excelência, disposto a levar por diante uma série de projetos que engrandeçam a cidade e o desporto. Para já, ver a sua Escola de Boxe repleta de jovens entusiastas e promissores, é a maior das satisfações.

Sete modalidades no Centro de Treinos  

O Centro de Treinos é “o bebé” de André Reis, como ele próprio o costuma batizar. “Surge como local para treinar. De início juntámo-nos ao Taekwondo e estivemos nas instalações deles, numa parceria que dura até hoje. Como vimos que o projeto tinha pernas para andar, em 2015 arrancámos para um primeiro centro, com 450 metros quadrados de área, e percebemos, dois anos depois, que tínhamos dimensão para formar um clube maior” conta o nosso anfitrião. É assim que surge o atual Centro de Treinos, na Coca Maravilhas, numa área de quase 1000 metros quadrados de treino, que junta várias modalidades. “O objetivo foi esse, o de reunir várias associações num só local. São sete modalidades, com muitos jovens a frequentar as aulas, e, acredito, estamos a meio de um projeto de crescimento para o futuro”, adianta André Reis, com um brilhozinho nos olhos. Taekwondo, Judo, Karaté, Jiu-Jitsu, Krav Maga e Kick Boxing são as outras vertentes de desportos de combate e artes marciais que dividem o aprazível espaço, para além, é claro, do boxe. Estas instalações foram inauguradas no dia 11 de fevereiro de 2017 e a ocupação máxima é a regra. “Nas horas ‘premium’, ao fim do dia, de segunda a sexta, estamos cheios, sucedendo o mesmo aos sábados. É esta a gestão que faço, como responsável, dividindo horários e espaços”. O boxe tem 110 praticantes, e, no total de todas as disciplinas, o Centro alberga mais de 300 atletas. “Suportamos as despesas – o espaço é alugado – com a quotização, que é naturalmente extensiva a todos os clubes. É exclusivo para artes marciais e desportos de combate e é uma área que, arrisco-me a dizer, não sei se há muitas com esta dimensão”.

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