Diogo Piçarra: “Sempre fui bem recebido no Algarve”

Texto: Mónica Pontes | Foto: Carlos Pontes

Diogo Piçarra, é um cantor, músico e compositor português, nascido em Faro a 19 de outubro de 1990 e orgulha-se imenso das suas raízes algarvias.

A sua paixão pela música revelou-se cedo e aos 17 anos já tinha uma banda de covers, ‘Fora da Bóia’, que atuava em bares da região, a qual abandonou, após quatro anos, para se dedicar aos estudos da licenciatura que frequentava na Universidade do Algarve e que terminou numa Universidade da República Checa, durante a sua participação no Erasmus.

Entrou em diversos programas de talentos musicais e acabou por vencer a 5ª edição do programa Ídolos em 2012 e foi premiado com um carro, uma bolsa de estudos na London Music School e a possibilidade de gravar um álbum para a editora Universal Music.

Deixou o Algarve e fixou-se em Lisboa para poder trabalhar mais perto da industria da música e agarrar as oportunidades de construir uma carreira sólida, tendo entretanto vivido uns tempos em Londres onde esteve a estudar música.

Em maio, protagonizou dois concertos no “seu Algarve” e concedeu-nos uma entrevista exclusiva, antes do espetáculo em Lagoa.

 

A sua humildade, simpatia e disponibilidade para com todos são características que o distinguem de outros artistas. Qual a importância dos fãs, sendo que após os concertos o tempo que lhes dedica é, muitas vezes, superior ao tempo do concerto?

Não sei ser de outra forma, e os fãs ou qualquer outra pessoa que espera por um autógrafo, uma foto ou para me agradecer pelo concerto ou até mesmo quando me abordam na rua, merecem a minha atenção. São uma parte fundamental na carreira de qualquer artista e na minha, pois ouvem a música,  compram os discos, as roupas e demais acessórios, por isso, o meu sucesso, em parte deve-se a eles também. Por isso, acho importante presenteá-los com esses momentos e essas oportunidades de puderem estar comigo, mesmo sentindo-me cansado, desgastado após os concertos.

 

Tirou uma licenciatura, mas enveredou por uma carreira musical…

Eu tinha uma visão muito negativa do panorama da música em Portugal e não achava ser possível viver apenas da música. Daí ter um plano B, sobretudo sendo de Faro. Achava que nunca iria ter uma oportunidade como outros que viviam Lisboa. Fiz Erasmus para ver se lá fora surgiriam algumas oportunidades. Tinha esse plano B, mas sempre a música como um ‘hobbie’ tocando nos bares. Mas, de repente, as coisas mudaram, graças ao Ídolos, e percebi que poderia ter uma oportunidade na música, independentemente de onde eu vinha.

 

Foi devido ao Ídolos que seguiu uma carreira no mundo da música? Achava que iria ser uma carreira pautada com tanto sucesso e notoriedade?

O pessimismo não mudou só por causa do Ídolos, passei foi a outra fase da negação que foi:  “boa tive a oportunidade do programa, mas nunca ninguém conseguiu nada com base nestes programas, ou pouca gente conseguiu”. Então pensava: “se quase ninguém consegue como é que eu vou conseguir?” E realmente parti desse pensamento e trabalhava o dobro, o triplo… Vim para Lisboa, fui estudar para Londres para aumentar os meus conhecimentos e foi quando me mudei para Lisboa que tudo começou a acontecer. Comecei a conhecer pessoas, produtores, já estava mais em contacto com a minha editora na altura e também foi graças a esses sacrifícios que as coisas começaram a acontecer. Estava disposto a tudo para que acontecessem. Não sei se hoje seria necessário essa mudança, acho que conseguia fazer o meu trabalho aqui em Faro, mas na altura, as coisas eram um pouco diferentes, e o cantar em português estava a começar ficar na moda.

 

Depois de se ter tornado figura pública notou o afastamento ou aproximação de alguém que não estivesse à espera?

(risos) Isso é o mal de qualquer figura pública. Atrair pessoas que não estariam lá se não fossemos figuras públicas. É importante, falando em especial para os mais jovens, que começam a ter mais visibilidade ou exposição, se apercebam e comecem a filtrar essas pessoas, porque nem toda a gente quer ajudar. Demorei pouco tempo a perceber isso, pois sempre tive um grupo de amigos pequeno. Sempre fui muito pacato, resguardado e tímido, mas de repente já tinha tantos amigos que pensei: isto não é normal. Nunca me deixei enganar por isso. Mas, uma pessoa que não seja assim ou não tenha passado pelo que eu passei, se calhar vai entrando por outros caminhos e confiando em quem não é de confiança e assim pode acabar mal.

 

Dentro da música, qual é a fase que gosta mais: composição, estúdio ou o palco e a adrenalina do público?

Neste momento, tenho muitas saudades de concertos ao ar livre. Agora fazendo a tour acústica dá-me vontade de, com a chegada do Verão, começar os concertos de festivais e feiras, que não vai acontecer este ano. Mas deu-me muito gozo tocar em acústico, totalmente diferente e intimista. É difícil escolher, são todas diferentes e necessárias, embora o estúdio seja das minhas partes preferidas, não só quando faço músicas para mim, mas também para os outros, às vezes por brincadeira, quase como um jogo, fazendo músicas que não são o meu estilo, um ‘reggaeton’, uma música em inglês ou espanhol, pois tenho feito muitos trabalhos em Espanha, como já tenho feito em Los Angeles e no Brasil… O que gosto mesmo, é pegar depois nessas canções que fiz e cantá-las a vida toda em palco.

 

Qual é a sua fonte de inspiração?

São várias, nem todas são biográficas e qualquer cantor que diga que esta música foi para a minha namorada, às vezes é mentira. A melodia suave assim, levou para ali, para ‘or’ e amor e pronto. Às vezes é a sonoridade que sai assim. Na verdade, muitas são platónicas, algumas são biográficas, pois já dediquei músicas à minha namorada, ao meu irmão, a uma amiga que faleceu, mas eu tento inspirar-me na vida de outras pessoas e este terceiro disco é sem dúvida muito inspirado na vida dos outros, principalmente dos jovens, das suas inseguranças.

 

Tem alguma música que seja a tua preferida?

Não sei, é difícil. Há dias que apetece cantar mais uma, outros, apetece mais outra, mas diria ‘Caminho’, uma música que não é tão conhecida. Eu diria até que gosto mais das que não são tão conhecidas e realmente dá-me muita dificuldade escolher as músicas porque eu vou gostar das mais alternativas. Mas falando de sentimentos considero a ‘Volta’ a mais verdadeira, a mais real.

 

Continua a sentir-se nervoso quando sobe ao palco?

É aquele nervoso miudinho, mas acho que é mais uma ansiedade.

 

Tem uma agenda repleta de concertos e a maioria com salas esgotadas. Qual foi o que que esgotou mais rápido?

Foi o de Bragança, as bilheteiras nem chegaram a abrir.

 

Sente algum carinho especial quando toca no Algarve?

Sem dúvida. O primeiro concerto foi em Faro, no Teatro das Figuras, e foi tão barulhento, tão surpreendente. Não estava à espera daquela receção, porque o Algarve sempre foi um sítio mais calmo nos meus concertos e eu dizia sempre que o Norte tinha, e tem, dos melhores públicos do país, mas de repente o Algarve começa a transformar-se no meu melhor público.

 

Sendo este o seu segundo concerto no Centro de Congressos do Arade e com o Verão à porta, como explica não estar no cartaz musical da FATACIL? Acha que há falta de apoio das autarquias aos músicos algarvios?

No meu caso não diria isso pois o convite já apareceu. O problema é talvez este ano eu ter de pôr de parte todos os concertos ao ar livre, dando prioridade aos mais intimistas, em auditórios e teatros. E se fosse à FATACIL talvez tivesse sido este ano, mas talvez tenha adiado para o próximo ano. Espero que o convite venha, mas nunca senti esse tipo de rejeição ou discriminação por parte das autarquias. Sempre fui bem recebido. Mas falando de artistas ou bandas mais amadoras, que estejam no início e queiram mostrar o seu trabalho, aí sim, acho que lhes faltam algumas oportunidades. Vejo muitas autarquias a negligenciarem. as pessoas têm de sobreviver assim quase como que sozinhas.

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