Elidérico Viegas: “Metade das unidades turísticas fechará a partir de outubro”

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Apesar de as perspetivas apontarem para uma ocupação em alta pelo menos até ao mês de setembro, o presidente da direção da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, Elidérico Viegas, procura esfriar a euforia que se faz sentir no sector. Apela para “mais atos e menos palavras”, perspetivando, em tom crítico, que não será possível esbater a sazonalidade do turismo, nomeadamente por falta de promoção e de estratégia.

José Manuel Oliveira

Nesta segunda parte da entrevista concedida ao ‘site’ da revista Algarve Vivo, Elidérico Viegas mostra-se realista e deixa avisos a responsáveis de entidades regionais, ao antever que a época turística, que decorre normalmente de maio a outubro, não promete prolongar-se em 2016, o que significaria a redução da sazonalidade.

“Os sinais existentes, infelizmente, não permitem perspetivar qualquer esbatimento efetivo da nossa maior fraqueza. Em boa verdade, também nada foi feito para inverter a situação, quer a nível promocional, quer no que se refere ao estabelecimento de parcerias ativas com o sector privado, independentemente de algumas medidas anunciadas para a área da animação”, lamenta Elidérico Viegas.

MEDIDAS COM IMPACTO “POUCO MAIS QUE NULO”

O responsável aproveita para voltar a pôr o ‘dedo na ferida’: “Sem pretender colocar em causa o mérito dessas medidas, consubstanciado em apoios financeiros para eventos, normalmente já existentes, envolvendo várias entidades regionais e locais ligadas à cultura, o impacto real na procura turística durante a estação baixa será pouco mais que nulo. O Algarve precisa, de facto, de uma estratégia de animação para enfrentar com sucesso a sua maior fragilidade – a sazonalidade –, traduzida em meia dúzia de grandes eventos que possam afirmar-se progressivamente nos calendários das grandes realizações internacionais, gerando e atraindo fluxos turísticos importantes nas épocas de menor procura, funcionando ainda como meios privilegiados de promoção e divulgação da nossa região, atendendo à cobertura mediática dos mesmos.”

CRISE ECONÓMICA “VEIO PARA FICAR”

Quanto à perspetiva de haver, de novo, hotéis e aldeamentos turísticos encerrados durante a época baixa no Algarve, Elidérico Viegas confirma desde já, e uma vez mais, os piores cenários: “Sobre esta matéria, também não restam dúvidas que as unidades hoteleiras e os empreendimentos turísticos vão continuar a encerrar durante a estação baixa, tal como vem acontecendo nos últimos anos, qualquer coisa como 50 por cento do total existente. Mais uma vez, e também aqui, as boas intenções e os discursos, sem o acompanhamento de medidas concretas, não resolvem nem este nem outros problemas.”

A crise económica, garante o presidente da direção da AHETA, “instalou-se e veio para ficar.” “Não é previsível que as políticas e as estratégias seguidas, traduzidas em mais impostos e maior austeridade, sejam alguma vez suficientes para o relançamento da economia do nosso País, incluindo a necessidade de atrair mais investimento direto estrangeiro (IDE), cujo exemplo mais recente foi a aprovação da famigerada ‘taxa solar’”, queixa-se.

“MAIS ATOS E MENOS PALAVRAS”

A concluir esta entrevista concedida a meio de agosto e com o Algarve cheio de turistas, Elidérico Viegas reforça avisos, ao exigir “mais atos e menos palavras”. “O turismo é um sector que só se desenvolve com a iniciativa privada. O turismo não pode continuar a ser, eternamente, um sector posto ao serviço da satisfação de vaidades pessoais e particulares. Neste contexto, dava jeito menos política no turismo e mais política de turismo”, acusa.

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