José Carlos Rolo: “Albufeira precisa de um Imortal forte”
Texto: Hélio Nascimento
“Uma idade destas é obra!”, exclama José Carlos Rolo, a propósito do centenário do Imortal Desportivo Clube, fundado em 24 de junho de 1920 e protagonista de uma história de sucesso no panorama algarvio e nacional.
O presidente da coletividade, que é também o presidente da Câmara de Albufeira, sublinha que “poucos atingem este tempo de labuta” em prol do desporto e da sociedade.
“Ser presidente da direção do Imortal nesta fase abrange dois aspetos que gostaria de salientar. Por um lado, a comemoração dos 100 anos de vida do clube é algo de bonito e reflete uma existência a todos os títulos notável, que, creio, enche de orgulho todos os albufeirenses. Por outro lado, é também especial por surgir nesta fase menos boa das nossas vidas, em que atravessamos uma crise complicada, devido à pandemia, com interferência direta na atividade desportiva e principalmente na formação”, sustenta José Carlos Rolo. Contudo, não se pode baixar os braços e muito menos desistir. “Isto vai arrebitar, com a ajuda da ciência”, sublinha.
“Os jovens deixaram de ter ocupação, em termos de desporto, o que toda a comunidade lamenta. Mas deixo também a promessa de que o trabalho de muita gente e o enorme esforço desenvolvido vão permitir que a nossa juventude tenha um bom futuro”. O presidente garante que “Albufeira precisa de um Imortal forte” e elogia o “percurso de excelência” e o “rejuvenescimento do clube”, traduzido no aumento de novos praticantes, sem esquecer o futebol sénior, que “constitui uma motivação” para os atletas que, eventualmente, queiram fazer carreira no futebol.
Ser presidente da Câmara e do Imortal “não é fácil”, como facilmente se calcula. “Assumi o cargo no clube numa altura diferente, quando era vice-presidente do Município. Tratava-se de um desafio interessante e achei que podia ajudar. Se fosse agora, possivelmente, não aceitaria este cargo no Imortal, porque o tempo escasseia”, prossegue José Carlos Rolo, revelando que brevemente irá solicitar a realização de eleições. “Mas quero deixar uma organização forte e de sucesso”. Neste contexto, aliás, vinca o trabalho dos restantes elementos da direção, de “jovens que, nas suas áreas, têm sido fundamentais para levar por diante a obra de um emblema centenário”.
“Trabalhamos em prol do equilíbrio”
Bruno Xavier é um desses dirigentes, sendo vice-presidente do Imortal há quatro anos, altura em que “um grupo de pessoas decidiu avançar para melhorar o dia a dia da coletividade”, convidando José Carlos Rolo para encabeçar a direção. “Tenho uma ligação forte com a cidade e foi no Imortal que fiz a minha formação como jogador. Depois fui diretor desportivo e treinador dos seniores, e, se o clube me tinha ajudado, estava na hora de retribuir”, considera o homem que teve um percurso longo e preenchido no futebol.
Agora, como um dos responsáveis pelo emblema, ficou naturalmente orgulhoso por integrar a direção em ano de centenário. “No mínimo, fica a foto”, diz, em jeito de brincadeira. Mais a sério, revela alegria e orgulho pelo simbolismo e importância de uma data histórica.
“Trabalhamos em prol do equilíbrio. O ano tem sido difícil, mas, mesmo assim, está tudo garantido em termos de gestão, o que nos satisfaz plenamente”. Acresce que o futebol do Imortal movimenta mais de 300 atletas, desde os petizes e benjamins aos seniores, ou seja, em todos os escalões.
Os juniores foram inscritos numa equipa de sub-23, para poderem competir no Distrital, já que, face ao impasse provocado pela pandemia, o arranque dos campeonatos da formação tem sido adiado sistematicamente. “Optámos por esta decisão para os miúdos mais velhos poderem competir”, explica Bruno Xavier, a exemplo, aliás, do que se passa em outros clubes algarvios.
Mais e melhores condições
“Tentamos sempre evoluir em termos de infraestruturas. O nosso estádio é camarário, mas fizemos vários melhoramentos, trocando o relvado e dando nova cara aos balneários, bem como a nível de publicidade. E também construímos uma rampa de acesso ao campo sintético”, assinala o dirigente, enfatizando o crescimento do clube, que ainda há pouco tempo contava com pouco mais de 200 atletas, número que, como já se referiu, subiu praticamente 50 por cento. “Há muito mais a melhorar, temos noção disso, mas o que vimos efetuando deixa-nos satisfeitos”.
Bruno Xavier acredita que o futebol sénior do Imortal dispõe já de condições para lutar pela subida aos campeonatos nacionais, mas mostra prudência. “Não é uma meta traçada. Reconhecemos que é possível, só que vamos com calma, até porque não queremos – nem é correto – hipotecar as épocas seguintes. Se continuarmos neste registo, o clube merece ocupar outro patamar no futebol nacional”.
Em tempo de ‘vacas magras’, porém, lembra as dificuldades sentidas num clube deste tipo que não disponha de investidores. “Basta ver que todos os clubes algarvios, ou quase todos, que estão nos Nacionais e Ligas profissionais, têm investidores”, remata.
Ricardo Moreira: Trilhar um caminho seguro
Ricardo Moreira é o treinador da equipa de futebol do Imortal, cargo que desempenha há quatro temporadas, depois de ter estado muito tempo ligado ao Ferreiras. Como homem do desporto – é professor de Educação Física e trabalha, também, com crianças deficientes – acompanhou de perto a passagem do centenário e não ficou indiferente.
“Senti uma alegria enorme, até porque para mim foi um facto novo. O viver tudo isto num clube com as tradições do Imortal é significativo, sobretudo porque vejo a instituição a atravessar uma grande fase de crescimento e fico ainda mais contente por fazer parte deste momento”.
O professor reconhece que o emblema de Albufeira está a dar “passos sólidos” e a trilhar um “caminho seguro”, como se atesta pelos melhoramentos do estádio, nomeadamente no relvado e nos balneários. “A formação também está em alta e ainda recentemente o clube recebeu o certificado de entidade formadora. Tudo isto contribui para o crescimento e torna mais bonita uma história que me habituei a acompanhar ao longo dos anos e que engloba diversos êxitos”.
Ricardo Moreira acredita que os altos voos a que o Imortal se vem a candidatar podem passar pelo regresso aos Campeonatos Nacionais, onde já militou, inclusive na II Divisão. “Não é um clube que tenha muita massa adepta, mas há pessoas que são fiéis e que não falham um jogo, o que é engraçado de ver”, sustenta, lembrando que os passos firmes que estão a ser dados ocorrem em plena pandemia.
“A pressa não é boa conselheira, por isso vamos com calma. Vejo uma direção interessada, a apostar nos jovens e a intensificar a mística, e, repito, com as estruturas de que dispomos, confio que possamos voltar aos Nacionais dentro de um prazo relativamente próximo”.
O Imortal disputa o Distrital da I Divisão da Associação de Futebol do Algarve e vai lutar pela subida, mas, como sabemos, a época é longa e ainda estamos numa fase inicial.