História quase centenária dá mais força à Sociedade Vencedora Portimonense 

Texto: Hélio Nascimento | Fotos: Eduardo Jacinto


Os 98 anos de vida, feitos em novembro, levam já os responsáveis da Sociedade Vencedora Portimonense a traçar planos para a comemoração do centenário. Falta ainda muito tempo, é verdade, mas uma data de tanto significado requer, naturalmente, que as baterias apontem nesse sentido. O Portimão Jornal, aliás, não fugiu ao tema, entre o registo das muitas histórias de um clube que é um marco no movimento associativo do concelho.
O presidente Guido Albino, o vice-presidente Luís Sousa, os secretários Luís Seixas e Pedro Dias e o tesoureiro Carlos Carrelo foram os anfitriões, em plena sede da coletividade, na zona antiga da cidade, na Rua Professor José Buísel. E embora nenhum tenha levantado a ponta do véu, inclusive porque, repita-se, ainda estamos distantes de novembro de 2024, a conversa sobre o centenário foi animada.

“Vamos fazer uma coisa em grande, é ponto assente. Algo diferente, fora da nossa sede, precisamente para ser uma comemoração grandiosa. O clube merece, pela sua história e pelas pessoas. Vai ser um centenário memorável”, promete Guido Albino, com uma revelação surpreendente.
“O meu mandato termina em novembro do próximo ano e não sei se vou cá estar, mas, seja eu ou outro, será algo que ninguém esquecerá. Temos muita malta nova, com outras ideias, que está apta a dirigir a Vencedora”.

A reação dos seus colegas da direção, porém, é imediata. Luís Sousa é o primeiro, com a convicção de que “o Guido vai cá estar até ao centenário, porque é a imagem da coletividade e merece ser o presidente nessa data”. Com a cumplicidade dos restantes elementos, acrescenta que “é uma posição tomada a quente e nós vamos convencê-lo a permanecer”.
  
Carnaval e Santos Populares 
Carlos Carrelo junta mais um desejo, que, garante, seria a melhor prenda para assinalar o centenário. “Gostaria que este edifício pudesse ser do clube”, exclama, alertando para qualquer eventualidade que colocasse em risco o esforço e a dedicação de tantas gerações. “Estamos a tratar disso”, responde o presidente, transmitindo a sensação de que o assunto está em cima da mesa e a ser discutido com quem de direito. 

O edifício da sede é alugado, mas, “tanto quanto sabemos, a Vencedora está aqui desde a sua fundação”. A localização é central e, outrora, foi sinónimo de “grandes vantagens”, sobretudo porque “todas as coletividades da cidade estavam aqui bem perto”, conta Guido. Depois, “o Clube União e o Boa Morte mudaram de sede e algumas tradições foram sendo perdidas, nomeadamente os muitos bailes de Carnaval que fazíamos quase em conjunto”. 

A Sociedade Vencedora continua, todavia, a promover os festejos do Carnaval, bem como os dos Santos Populares, sempre na sua sede, além de outras atividades que assinalam datas importantes do país e da cidade. Dos restantes eventos, ganham destaque as noites de fado, que se realizam uma vez por mês, com exceção no verão, e, mais recentemente, as festas musicais dos anos 80. 

A sede, de resto, só abre portas para acolher estas iniciativas, além de dar espaço a um grupo de Biodanza e agora às danças de salão, com o par constituído por Rafaela e Pedro preparado para ensinar uma arte que cativa muito boa gente. A agradável sala da coletividade, aliás, parece encaixar que nem uma luva nesta arte de bem dançar.

Uma ligação de longa data
Guido Albino está de corpo e alma na Vencedora desde 1981, mas já antes frequentava a sede, na companhia dos pais, que eram sócios. “Uma bela noite pediram-me para vir passar quotas, e, quando saí das nossas instalações, integrava uma comissão de seis elementos que ficou a tomar conta do clube, porque a direção tinha renunciado”. Havia problemas e um deles eram as seis rendas em atraso. “Cada um de nós avançou com 500 escudos, que era o preço da renda mensal, e resolvemos logo o assunto”.

A partir de então, o presidente nunca mais cessou a sua colaboração na coletividade. Foi secretário durante algum tempo e, em 1987, “apesar de ser o benjamim”, assumiu a liderança da direção. Dois anos depois, devido a afazeres profissionais, teve de abandonar, mas manteve a ligação e a presença nos órgãos sociais. Em 2014, passou a encabeçar a assembleia geral. 

“Em 2017, surgiram mais problemas, face a algum descontrolo, que quase levou o clube a fechar portas. Estavam comigo o Luís Boto, Pedro Dias e Luís Seixas e, os quatro, formámos uma comissão para tomar conta de tudo isto”, conta Guido Albino, aludindo à falta de dinheiro para satisfazer compromissos. “Foi o ano zero. Criámos depois a direção, inclusive com alguns elementos do Clube União Portimonense, com quem houve sempre uma estreita colaboração, e cá estamos”.

Um salão imponente
Todo o trabalho de recuperação do espaço teve o auxílio da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia de Portimão, mediante a apresentação e posterior aprovação de um projeto, o que foi determinante para reerguer a Sociedade Vencedora. “Os sócios e amigos também ajudaram e estamos vivos”, regozija-se o presidente.

A sede passou, então, por obras de remodelação, nomeadamente a instalação de ar condicionado e de um piso novo no salão, cujo aspeto, bonito, cuidado e imponente, leva os dirigentes a garantirem que é o “melhor da cidade”. A lotação ultrapassa as três centenas de pessoas, mas, caso de trate de uma noite de fados ou de um espetáculo que implique lugares sentados, a capacidade ronda os 120 lugares.

Além do salão, a sede comporta um bar, a sala da direção, casa de banho e arrecadação. Nas recentes noites de música dos anos 80 o bar não tem mãos a medir, tal a afluência de público, o que leva Guido Albino a comentar a enchente e a lamentar, ato contínuo, que essas pessoas não se queiram fazer sócios da Vencedora.

As relações com as restantes coletividades do concelho são excelentes, fruto de uma colaboração estreita em que alguns elementos integram os órgãos sociais de mais do que um emblema. O próprio Guido Albino, de 65 anos, foi diretor do Clube União até ao ano passado. Agora, como ele diz, começa “a ficar um pouco cansado e está na hora de dar lugar aos jovens com outras ideias”.

Não é fácil atrair a juventude
A Vencedora tem cerca de 750 sócios, a maioria já de idade, o que, na circunstância, implica a necessidade de atrair gente nova. O problema, dizem os responsáveis, está aí. “Não é fácil chamar a juventude, que aparece durante as festas, mas desaparece de imediato”. A conjuntura do país, a evolução dos tempos e os muitos bares e discotecas da cidade, sobretudo da Praia da Rocha, contribuem para a situação, segundo o quinteto de elementos dos órgãos sociais (são 15 no total) à conversa com o jornalista.

“Eu acho que Portimão é uma cidade algo descaraterizada nos dias que correm. Quantos portimonenses de origem somos hoje? Veio muita gente de fora, de todos os lugares do país, que por cá se instalou, o que torna complicado fazer a tal captação que pretendíamos, para dispor de mais associados”, comenta Guido Albino. “As festas dos anos 80 trazem muita gente, como já disse, mas divertem-se e pronto. Vamos ver se as danças de salão atraem mais pessoas”. O salão, de resto, está aberto a todos e para todos.

Luís Seixas, 46 anos, sempre frequentou a Vencedora, primeiro na companhia dos pais, “nos velhos tempos em que estávamos aqui até ‘às tantas da manhã’ e o meu pai seguia direto para o trabalho”. Agora, reconhece as dificuldades e salienta que ele próprio tem dois filhos e “é muito complicado trazê-los para o clube”.

Pedro Dias, 51 anos, recorda-se bem dos bailaricos dos tempos de miúdo, quando os pais lhe incutiram este gosto. “Estou cá para continuar a ajudar. Acredito que possam vir melhores dias e vamos ter um centenário em grande e com o Guido entre nós”.

A mesma história clubística tem Luís Sousa, 52 anos, que “desde pequeno” vinha com os progenitores, de quem herdou a paixão. “Somos quase todos amigos de infância e isso também ajuda. Mas, agora, os hábitos são outros”, conclui, não sem que antes seja assinalada a férrea vontade de enriquecer uma história quase centenária, qual força extra para conduzir a mais sucessos.

O outro lado da globalização

Carlos Carrelo é o tesoureiro da Sociedade Vencedora, com a curiosidade de desempenhar este mesmo cargo no Clube União Portimonense, o que, garante, não o leva a “misturar as contas, não há hipótese de isso acontecer”, afirma, respondendo a uma ‘provocação’ em jeito de brincadeira. Aos 72 anos, também admite terminar a ligação no próximo ano, no fim do mandato, mas, até lá, a sua entrega é total, inclusive com a ideia de aumentar o interesse da população pelo clube. “É difícil combater, porque Portimão era uma cidade piscatória, de famílias, mas, com a globalização, surgiram muitos negócios diferentes e as pessoas que não são de cá têm menos ligação à terra”, opina, adiantando que, no Clube União, como demos conta em artigo anterior, o problema é idêntico. Seja como for, há sempre esperança em melhores dias e muitas iniciativas a levar por diante para engrandecer a coletividade.

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