Hugo Pereira: “Construção de habitação é o nosso maior desafio”

Texto e fotos: Jorge Eusébio


Foi com tranquilidade que Hugo Pereira recebeu a Algarve Vivo e falou do trabalho que está a ser desenvolvido pelo seu executivo em Lagos. A construção de habitação, o futuro da venda ambulante na Avenida e as intervenções de fundo nas escolas das Naus e Tecnopólis fotam alguns dos temas abordados. Quanto à possibilidade de se recandidatar nas próximas eleições, não ‘abre o jogo’, referindo que esse “será um assunto a avaliar a seu tempo”.

Que balanço faz destes anos como presidente de Câmara? Tem conseguido cumprir o que estava previsto?
Sim, tem sido possível cumprir, embora com algumas dificuldades, até porque fizemos um programa eleitoral muito extenso. O grande objetivo era começar a projetar nestes quatro anos muitas obras, algumas das quais seriam iniciadas e até terminadas e outras ficariam em condições de serem lançadas nos mandatos seguintes.

O que tem sido feito em Lagos para criar habitação a custos que a generalidade da população possa pagar?
Esse é claramente o nosso maior desafio. Nem sempre se consegue avançar com a velocidade desejável, até porque as exigências em termos de contratação pública, são complicadas e morosas. Alguns dos fogos já estão concluídos, outros em construção e um conjunto considerável de projetos num estado muito avançado para que no próximo ano seja possível ter as obras na rua. Assumimos que o programa definido é curto perante o aumento da procura, pelo que estamos a rever a Estratégia Local de Habitação que definimos em 2019. Estamos a analisar o que é que o programa Mais Habitação nos poderá ainda vir a libertar em termos de terrenos, para tentar duplicar o número de fogos previstos, que era de cerca de 260.
E isso vai chegar para as necessidades? Em face do número de inscritos que têm na Câmara, quantas habitações seriam precisas?
Passámos de cerca de 400 e poucas famílias inscritas para cerca de 1600 a 1700, o que é um aumento substancial, embora muitas desses agregados possam não cumprir os critérios definidos para acesso ao programa 1º Direito, ao abrigo do qual é construída a maioria destes fogos.

Quantas habitações já estão construídas e em fase de construção?
Há um conjunto inicial de 47 fogos, alguns já terminados, e outros em construção, em Bensafrim, Lagos, Barão de São João e Sargaçal, cujos concursos de atribuição se encontram a decorrer. Depois, há outro projeto de cerca de uma centena em Lagos, perto do Intermaché, que julgo que no início do próximo ano poderá estar em condições de ir para concurso. Trata-se de fogos que iremos colocar no mercado de arrendamento, por renda acessível ou através do programa 1º Direito. No total, está prevista a construção de 260 fogos até 2026 e, como disse, o que estamos a tentar agora é conseguir encontrar formas de duplicar esse número.

Há muita gente que defende que a culpa da falta de habitação é do alojamento local…
É certo que, se não houvesse alojamento local, teríamos mais casas para arrendar, mas também é verdade que o alojamento local serviu e continua a servir para reabilitar os centros históricos, as zonas mais degradadas e para ajudar a economia. Durante 15 anos houve um desinvestimento completo nesta área por parte do Governo e das autarquias, porque não havia verbas, o país não tinha condições e as cooperativas, que, no passado, tiveram um papel importante, por via da crise, praticamente deixaram de existir. Em face disto, sem se construir habitações e com a procura a duplicar ou triplicar, o ‘buraco’ aumentou e agora a maneira de combater isso é recuperando o atraso, construindo as muitas casas que fazem falta e metê-las no mercado.

Outra das áreas em que foram feitas promessas durante a campanha eleitoral é a da Educação. O que tem sido feito a esse nível?
Temos vindo e vamos continuar a renovar e a ampliar as escolas do concelho. Nesta altura, está numa fase mais avançada o projeto de renovação da Escola das Naus, cujo concurso iremos lançar proximamente. Estamos a preparar tudo para que possamos ter um espaço de aulas provisório no início do próximo ano letivo para que as obras no edifício possam avançar, aproveitando, para isso, uma parte do enorme parque de estacionamento. Está também prevista uma intervenção de fundo da Escola Tecnopólis para, no espaço de 2 ou 3 anos, podermos tê-la ampliada, de maneira a fazer face às necessidades e a ficarmos com a capacidade ajustada às necessidades do concelho.

Este Verão houve muitas queixas dos hoteleiros algarvios, que esperavam maior afluxo de turistas. Em Lagos também houve uma queda grande?
Notou-se que em julho se iniciou uma quebra, que continuou no mês de agosto. Ainda assim, não acho que tenha sido um mau ano turístico, uma vez que até aí, a taxa de crescimento era muito grande. Julgo que a quebra registada nos meses que referi se deve à situação económica em que o país e até a Europa se encontram.

O aumento do custo de vida tem levado a que os vossos serviços sociais tenham registado mais pedidos de ajuda?
O que tem acontecido é que não têm baixado. Desde que entrámos na crise pandémica, criámos um conjunto de apoios, parte dos quais ainda mantemos. Desde que ele se iniciou, em 2020, esteve sempre em crescendo até que, em 2022, com a retoma no Verão, em que se deixou de sentir tanto o peso e o medo da pandemia, houve um aligeiramento dos pedidos de ajuda. Nos últimos meses não se tem notado um ‘boom’ de procura, mas, mesmo trabalhando, e em face do aumento substancial do custo de vida, muitas pessoas continuam a precisar da nossa ajuda e iremos continuar a prestá-la.

GRUPO HILTON INVESTE
Apesar de a ocupação turística não ter sido a esperada, o concelho de Lagos continua a ser muito apetecível para investimentos nessa área e há vários projetos de construção de hotéis em vias de avançar…

Sim, está prevista a construção de vários hotéis de 4 e 5 estrelas. Dois deles, do grupo Hilton, vão situar-se nos terrenos situados junto à estação. Os projetos estão num estado muito avançado e, eventualmente, até se poderá iniciar a construção neste ano ou no próximo. Um outro hotel vai surgir na Atalaia, neste caso trata-se de um projeto muito antigo, tem-se estado só a acertar um ou outro pormenor e após esse processo ficar concluído, a construção poderá também arrancar.

Na Boavista também…
Sim, existia intenção desde sempre de poder ter lá um hotel, a qual foi concretizada nos últimos tempos, com a entrada do respetivo projeto na Câmara, o qual está em fase final de aprovação. O hotel poderá vir a ser construído faseadamente, mas com início também no próximo ano. Também o projeto do empreendimento dos Palmares, na Meia Praia, incluiu, desde sempre, dois hotéis, um mais pequeno, que está feito, e um maior que está em fase final de projeto. Creio que o empreendimento mudou ou irá mudar de mãos, mas penso que a intenção será continuar a investir com base do histórico e do trabalho que tem vindo a ser feito.

E o edifício do antigo Hotel Golfinho que, há longos anos, está ao abandono?
Esse é um processo que tem tido avanços e recuos, mas também aí há uma evolução positiva. No final do ano passado foi levantada a licença para construção e há a promessa de que no final deste mês de outubro ou no início de novembro se iniciem as obras. O outro grande ‘mono’ que tínhamos, o das Torres da Crotália, na zona da Ponta da Piedade, está em fase muito avançada de conversão num resort.

Mas há mais?
Sim, temos ainda mais quatro ou cinco terrenos destinados à construção de hotéis, relativamente aos quais tem havido movimentações por parte de grupos com provas dadas a nível nacional e internacional, mas são conversas ainda muito prematuras, não sei se irão concretizar-se.

Não serão hotéis a mais?
Essa é sempre uma interrogação que se pode colocar, pode ter alguns aspetos negativos, mas terá, seguramente mais positivos, desde logo por se tratar de hotéis de 4 e 5 estrelas que vão qualificar bastante a nossa oferta turística.

Em que ponto se encontram as obras na zona da Ponta da Piedade?
Estão numa fase muito avançada. O objetivo é proteger aquelas falésias, preservar a Ponta da Piedade para as gerações futuras, fazendo com que as pessoas apenas andem em determinados espaços devidamente delimitados e também diminuir o fluxo automóvel.

Quando é que a obra ficará pronta?
Até ao final do ano, se não estiver terminada estará muito próximo disso.

Na Avenida, foram instaladas, já há alguns anos, muitas tendas, que dão uma imagem pouco atraente àquele espaço nobre da cidade. Há intenção da Câmara de retirá-las?
Essa situação resultou de um protocolo assinado entre a entidade do Estado responsável por aquela zona e o município para transferir a ocupação de via pública que existia no centro da cidade. Na altura, estava previsto instalarem-se nuns quiosques que aí seriam colocados. Felizmente, só cinco é que foram feitos porque eram de muito baixa qualidade, a todos os níveis, e entendemos avançar, provisoriamente, com as tendas. Na verdade, já se passaram quase dez anos e tem havido um uso e abuso na utilização do espaço.

O que pode ser feito para alterar a situação?
No próximo ano vamos elaborar um estudo para a Avenida, que envolve não só a venda ambulante, mas a mobilidade, a ocupação de espaço público, o estacionamento, o mobiliário urbano e concluirmos o que fazer, que poderá passar por os vendedores saírem de lá ou continuarem noutras condições. Não nos enche de orgulho aquela fotografia, apesar de ter grande utilização por quem nos visita e um ‘feedback’ muito positivo, porque na verdade foi criado um mercadinho com vários tipos de produtos, uns mais tradicionais, outros menos, mas de que o turista gosta.

RECANDIDATURA
Este é o seu primeiro mandato enquanto presidente eleito, tem a possibilidade de fazer mais dois. Está a pensar recandidatar-se nas próximas eleições?

Neste momento, estou preocupado em trabalhar, em executar o máximo possível de obra no mandato e deixar trabalho feito para os anos seguintes. Depois, a seu tempo, esse será um assunto a avaliar. Quando vim para a Câmara, convidado para ser vice-presidente, em 2013, foi na condição de só fazer quatro anos e já fiquei quase dez. O que está em cima da mesa é acabar o mandato, cumprir com aquilo que nos propusemos fazer e não foi pouco e avançar o máximo possível com a elevação deste concelho ao patamar que se tem pretendido, de exigência máxima porque quem cá vive e quem nos visita assim o exige.

Mas não gostaria de concluir uma série de obras que não serão terminadas neste mandato?
Sou o cabeça de lista, mas estou aqui a representar o PS, o seu programa eleitoral e das pessoas que me acompanham. Naturalmente que há sempre o cunho de quem lidera, mas ainda assim trata-se do programa eleitoral em que todo o PS se revê, pois ele foi debatido nesse sentido. A seu tempo haverá essa discussão, até falta muito tempo, ainda não fez dois anos desde que tomei posse, falta mais tempo para acabar o mandato do que o que já passou.

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