Investigadores reuniram-se em Lagos para refletir sobre o risco sísmico

Na parte da manhã as entidades participaram, em Sagres, numa Sessão Inaugural que contou com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República esteve depois em Lagos para um almoço a convite da Presidente da Câmara, ficando a parte da tarde reservada para a apresentação das comunicações.

Olavo Rasquinho, que foi até há poucos dias Presidente da Associação Portuguesa de Meteorologia e Geofísica (APMG), João Azevedo, Presidente da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica (SPES), Miguel Miranda, Presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Carlos Sousa Oliveira (professor catedrático jubilado do Instituto Superior Técnico e investigador), António Carrilho e Frederico Paula (Técnicos Superiores da Câmara Municipal de Lagos), partilharam ontem, para um auditório repleto, o resultado dos seus trabalhos académicos, investigações e experiência.

A Presidente da Câmara abriu os trabalhos explicando o motivo da sessão evocativa dos 50 anos do sismo de 28 de fevereiro de 1969 se realizar em Lagos não só porque, por um lado, “em Lagos os efeitos do sismo fizeram-se sentir de forma significativa, sendo a cidade com localização mais próxima do seu epicentro, por outro lado, o trabalho que Lagos desenvolve desde há 17 anos no âmbito da prevenção do risco sísmico”. Maria Joaquina Matos referiu-se ao terramoto de 1755 como um evento “que arrasou completamente Lagos e as povoações do seu termo, causando a sua ruína e marcando decisivamente o seu destino de forma tão trágica”. Na sua intervenção, a autarca sublinhou ainda a importância de se criar uma cultura de risco na população, para que as comunidades se tornem cada vez mais resilientes e capacitadas para lidar com estes fenómenos naturais.

João Azevedo começou por definir o significado da palavra “risco”, o qual resulta da conjugação de 3 fatores: a perigosidade, algo que depende exclusivamente do que a natureza nos dá; a exposição, que decorre da localização das edificações e já depende da ação humana; e a vulnerabilidade, vertente onde se pode investir muito mais, construindo e reabilitando de forma mais segura, ou até demolindo, quando não é possível reabilitar de modo seguro. O Presidente da SPES sublinhou a particular atenção que é necessário ter relativamente aos edifícios de utilização coletiva e de utilidade pública, como escolas, hospitais, infraestruturas da proteção civil, centros de operação, assim como com as vias de comunicação (pontes, viadutos) e infraestruturas (energia, comunicações, entre outras). A desadequação da legislação vigente no que concerne ao dimensionamento sísmico dos projetos de estruturas e de edifícios, e à reabilitação de edifícios foi apontada por este especialista como uma das maiores preocupações nesta matéria, que sublinhou também a necessidade de haver mais e melhor fiscalização quer dos projetos quer da construção.

Miguel Miranda sublinhou que a “a memória tem de ser regada” e que o Sismo de 1969 foi um marco importante, por ter conseguido acordar o sistema político para a necessidade de criar uma rede sismológica, até então incipiente.

Já Carlos Sousa Oliveira referiu-se ao Sismo de 1969 como o parente pobre da sismologia, pelo facto do mesmo ainda não ter sido suficientemente analisado, e convocou todas as entidades presentes para se empenharem no estudo que importa fazer para compreender melhor esse evento e os danos pelo mesmo provocados, para, com esse conhecimento, levar a comunidade científica, as autoridades e as populações a estarem mais preparadas para lidar com esses fenómenos.

António Carrilho mostrou aos presentes a forma como a imprensa tratou à época o evento, salientando a importância destes documentos para se compreender, hoje em dia, o que aconteceu, a forma como o mesmo foi sentido e vivido e as medidas tomadas a seguir ao sismo para acudir às populações afetadas e recuperar os edifícios afetados ou destruídos. Na sua comunicação fez também referência a alguns documentos do arquivo municipal, designadamente correspondência do Presidente da Câmara dirigida aos presidentes das Juntas de Freguesia e a outras entidades contendo o levantamento das famílias afetadas pelo sismo, as casas destruídas e as medidas de apoio a desenvolver visando a instalações provisória das famílias e a recuperação do edificado.

Coube a Frederico Paula a última comunicação, através da qual o técnico da autarquia lacobrigense apresentou o trabalho que o Município tem feito em termos de estudo do risco sísmico e da sua prevenção, recordando: as investigações do já falecido Professor Luis Mendes Victor, que deram origem à publicação em 2006 do livro “Risco Sísmico no Centro Histórico de Lagos”; e os projetos desenvolvidos em parceria com o Centro Europeu de Riscos Urbanos (CERU), o Centro Euro-mediterrâneo para Avaliação e Prevenção do Risco Sísmico (CEPRIS) e outras entidades, de que são exemplo a realização de colóquios, a instalação de sinalética de evacuação em caso de Tsunami e as ações de sensibilização já realizadas. O projeto “Crescer em Segurança” dinamizado pelo Serviço de Proteção Civil e pelo serviço de Educação da autarquia junto das escolas públicas e privadas do concelho, foi apresentado como uma boa prática em termos de capacitação da comunidade e criação de uma cultura de risco.

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