Isilda Gomes: “Transformámos o receio na nossa melhor arma”
Texto: Ana Sofia Varela
Este é um período marcante para um presidente de Câmara em funções. Qual foi o maior desafio que enfrentou com esta pandemia?
O maior desafio começou no dia 8 de março, quando foi registado o primeiro caso do novo coronavírus em Portimão e que, como se bem se lembram, ‘começou numa escola’. Confesso que na altura as perspetivas eram muito preocupantes. O potencial de contágio pela comunidade era enorme, pelo que houve a necessidade de agir rapidamente e de tomar muitas decisões num curto espaço de tempo, antecipando as melhores respostas para os piores cenários que se perspetivavam, ativando todos os recursos da proteção civil e investindo na compra de outros. O Centro Municipal de Proteção Civil e Operações de Socorro de Portimão passou a acolher a Unidade de Saúde Local, permitindo uma monitorização quase ao minuto do evoluir da pandemia na comunidade. O que aconteceu nos dias seguintes foi decisivo para o desenrolar dos factos e conseguimos inverter a gravidade da situação. Os resultados foram aparecendo e fomos o primeiro município algarvio a registar mais recuperados do que infetados.
Como vê o comportamento dos seus munícipes neste período?
Ainda bem que me faz essa pergunta, porque é importante referir que tudo isto tem sido possível porque os portimonenses perceberam o que estava em causa, e acreditaram que o sacrifício que lhes era pedido era para o bem de todos. Nunca me esquecerei da resposta que os portimonenses deram – e continuam a dar – no combate a esta pandemia. Cidadãos, empresários, movimento associativo, demonstraram responsabilidade. Voluntários prontificaram-se a ajudar os serviços locais de saúde, disponibilizando meios e equipamentos. São poucas as palavras para expressar o meu agradecimento a todos aqueles que cumpriram e contribuíram. O comportamento dos portimonenses foi fundamental para que o vírus não se propagasse descontroladamente.
Qual o maior receio que sentiu?
O maior receio, e penso que terá sido comum aos meus colegas autarcas, foi não conseguirmos controlar a COVID-19. Mas transformámos esse receio na nossa melhor arma neste combate, uma vez que criámos uma equipa multidisciplinar (agentes de proteção civil, forças de segurança, unidade de saúde pública e outros agentes da nossa rede social), a qual antecipou cenários, prevendo o pior, ao mesmo tempo que conseguiu preparar as melhores respostas.
O que pensa que mudará, no futuro, nas relações sociais?
Temos assistido a uma alteração de comportamentos interessante. A nossa ‘etiqueta’ no relacionamento com os outros, com o espaço onde trabalhamos e vivemos mudará drasticamente. Nós, povos do Sul, somos muito dados a cumprimentos efusivos, que serão refreados. A relação que tínhamos com determinadas profissões será diferente. Nunca foi tão importante valor izar o trabalho de profissionais que diariamente ajudam a população a manter-se minimamente estável e obediente aos pedidos de mais quarentena. São disso exemplos os jornalistas, as forças de segurança, os professores ou os profissionais de saúde, entre muitos outros. Épocas como esta tendem a alimentar oportunidades de entreajuda entre comunidades. Por muito irónico que seja, o distanciamento social tem aproximado famílias e pessoas mais do que nunca. Evitando qualquer exercício inútil de futurologia, tenho a esperança de uma mudança positiva nas relações sociais na comunidade, com o aumento da entreajuda dos residentes, unindo-os muito para além das suas diferenças.
Quais são os principais apoios ou medidas que a sua autarquia está a preparar para auxiliar a economia local?
Como já tive oportunidade de dizer, não vamos deixar ninguém para trás. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance e nas nossas possibilidades para ajudar as pessoas. Além do programa ‘Portimão Dá-lhe a Mão’, que tem por base um fundo de emergência social na ordem dos 2 milhões de euros, estamos a contratualizar com o movimento associativo local um conjunto de contratos programa na ordem dos 300 mil euros. Disponibilizámos também para as crianças carenciadas cerca 900 tablets com acesso à Internet. Nesta fase de retoma da normalidade, estamos a acompanhar bem de perto comerciantes e pequenos empresários, por exemplo com o ‘kit’ de apoio ao empresário, que fizemos distribuir por todo o comércio que abriu portas. Mantemos as isenções de pagamento das taxas de ocupação da via pública e iremos, através do nosso gabinete de apoio ao empresário, monitorizar e encaminhar as melhores respostas dos programas nacionais de apoio à economia para os nossos agentes económicos locais. Além disso iremos manter alguns dos investimentos previstos, nomeadamente em projetos e obras que consideramos inadiáveis.