José Carlos Barros (Coligação PSD/CDS): “O Algarve confronta-se com a dificuldade de falar para o exterior”
O arquiteto paisagista e escritor José Carlos Barros ficou tão surpreendido com o convite que recebeu de Pedro Passos Coelho para encabeçar a lista de candidatos a deputados da Coligação Portugal à Frente PSD/CDS-PP pelo Círculo Eleitoral de Faro nas eleições legislativas a realizar no dia 4 de outubro, como foram apanhados de surpresa muitos militantes destes dois partidos no Algarve. “A campanha que estava a começar a travar, ainda há pouco mais de um mês, era a campanha da alfarroba…”, refere, com alguma ironia à mistura, em entrevista por escrito ao site da Revista Algarve Vivo.
José Manuel Oliveira
Sem filiação partidária, o que sentiu quando o convidaram a encabeçar a lista e quem o contactou? Alguma vez pensou em seguir uma carreira política? Porquê?
É verdade que não sou militante, que não tenho militância partidária, embora integre como independente, desde 2005, as listas do PSD para as eleições autárquicas em Vila Real de Santo António. Ainda assim, é óbvio que ser candidato a deputado, na sequência de convite que me foi dirigido pelo presidente do PSD, não estava nas minhas previsões. O que estava nas minhas previsões – e as contas saíram furadas, como se vê… – era continuar o trabalho que estou a desenvolver no meu pequeno projeto familiar de agricultura e turismo rural em Vila Nova de Cacela. A campanha que estava a começar a travar, ainda há pouco mais de um mês, era a campanha da alfarroba…
A sua nomeação até provocou surpresas no PSD e no CDS no Algarve. Como reage a essa situação?
Compreendo que tenha provocado surpresa, até porque o convite foi a mim que começou por surpreender. Mas penso que é uma escolha que, além de um sinal de renovação, tem implícita a aposta num perfil ligado ao ordenamento do território, à paisagem, à identidade, a uma ideia de região em que o turismo, enquanto atividade obviamente mobilizadora do processo de desenvolvimento, não pode deixar de ser equilibrada e fortalecida por outros sectores a começar pelo complexo de atividades do mundo rural.
Como têm sido os primeiros tempos desta sua nova experiência? O que lhe dizem as pessoas?
Motivadores. As pessoas reagem bem ao meu perfil mais técnico e sinto que estão a compreender a insistência na ideia de um Algarve orgulhoso da sua História e da sua identidade. Um Algarve que defende a sua paisagem, o seu património, as suas especificidades de ordem cultural, mas que simultaneamente privilegia a tecnologia, o conhecimento e a inovação. As pessoas percebem quando falamos de um Algarve em que, obviamente, o turismo é o principal elemento económico mobilizador, mas que não se conforma em assistir, há décadas, a uma forte quebra do comércio tradicional, da agricultura, das pescas ou da indústria.
Porque é que os partidos da coligação PSD/CDS-PP rejeitam abolir as portagens na A22/Via do Infante? Pessoalmente concorda com essa decisão? Porquê?
Obviamente, todos desejaríamos que não houvesse portagens na Via do Infante. Mas, não havendo condições para a sua abolição imediata, a posição da Coligação Portugal À Frente é clara sobre o assunto, e é responsável: é possível neste momento proceder a uma significativa redução do valor da taxa, fazendo refletir positivamente nos utentes uma parte das poupanças que este Governo conseguiu com a renegociação das Parcerias Público-Privadas (PPP). É este o nosso compromisso: reduzir o valor das portagens à custa de poupanças efetivas, assegurando assim melhorias na mobilidade, ganhos também para quem percorre a 125, mais economia e uma expectável receita equivalente para as Infraestruturas de Portugal poderem assegurar os compromissos financeiros que subsistem no âmbito da PPP.
Qual será a primeira medida que tomará a nível do Algarve se for eleito deputado? E a nível nacional? Porquê?
O Algarve enferma de um problema ao qual, a meu ver, não se tem dado a devida importância, e que é o de um espaço mediático que se foi tornando cada vez mais incipiente. Ou seja: mercê de um processo que, com diferentes etapas, tem mais de vinte anos, o Algarve confronta-se atualmente com a inexistência de fluxos informativos na Região, e por outro lado (e como consequência…) com uma dificuldade, ou impossibilidade, de falar para o exterior. Esta situação é inibidora da reflexão, do debate e da coesão regional, com implicações muito negativas, a vários níveis, da nossa capacidade de afirmação política. Julgo que há um imperativo de serviço público que não está a ser devidamente cumprido, e esse é um debate, em favor do Algarve, que gostaria de ajudar a fazer e para o qual espero poder vir a contribuir positivamente.
Quais os principais problemas do Algarve e como será possível resolvê-los?
O Algarve tem um problema estrutural que resulta de um desequilíbrio no peso dos diferentes sectores de atividade. É um problema muito sério. O turismo, que será responsável por aproximadamente metade dos empregos na região, não é acompanhado por dinâmicas fortes de outros sectores. Pelo contrário, há décadas que se verificam quebras no peso da agricultura, das pescas, da indústria ou do comércio tradicional. Há alguns sinais de que esta situação pode começar a mudar: na agricultura, por exemplo, onde um programa comunitário (o PRODER) foi recentemente encerrado com uma taxa de execução de 100% e com um investimento total na ordem dos 260 milhões de euros, incluindo projetos de cerca de 500 jovens agricultores instalados. São bons sinais do caminho que é indispensável continuar a percorrer, assumindo como central um esforço no sentido de corrigir este desequilíbrio estrutural, apostando nesta diversificação da economia e na efetiva recuperação dos referidos sectores de atividade.
Estaria disponível para integrar um futuro governo? Em caso afirmativo, em que condições, com que pasta e porquê?
Penso que é muito cedo para responder a uma questão como essa. A eleição que estamos a disputar é, antes de mais, para a Assembleia da República. Para eleger deputados. E neste momento o principal compromisso que assumo, e que tanto pesou na aceitação do convite que me foi feito para participar neste desafio, é, enquanto candidato a deputado, com o Algarve e com os algarvios.
O que pensa sobre cada um dos restantes candidatos a deputados que encabeçam as listas dos partidos e coligações políticas com assento parlamentar pelo Círculo Eleitoral de Faro – Aspetos positivos e aspetos negativos – José Apolinário (PS), Paulo Sá (CDU) e João Vasconcelos (Bloco de Esquerda)?
O que está em causa, numa disputa eleitoral, são as políticas.
O que acha que deve fazer a coligação PSD/CDS-PP se não vencer estas eleições legislativas? Cada partido deverá seguir o seu próprio caminho ou devem continuar unidos? E os presidentes dos respetivos partidos deverão continuar em funções?
Penso que a Coligação Portugal à Frente vai vencer as eleições porque os portugueses compreendem as razões das dificuldades que temos vindo a atravessar e sabem o que está na origem dessas dificuldades. Sabem qual foi o ponto de partida deste Governo e sabem quem deixou a pesada herança que recebeu em 2011. Mas sabem, sobretudo, que os resultados obtidos nos últimos quatro anos permitem olhar o futuro com esperança, consolidando um ciclo, que já se iniciou, de retoma económica e de recuperação do emprego. É por isso que não coloco outro cenário que não seja o de a Coligação Portugal À Frente vencer as eleições.
Acredita num governo PSD/CDS-PP,PS? Porquê?
Não. Parece-me gente a mais.
Perfil
Arquiteto paisagista, foi, entre outros cargos, diretor do Parque Natural da Ria Formosa, gosta de peixe assado com salada à montanheira, é adepto do Sporting, destaca a “paciência” como a sua virtude e “a falta de paciência” como o seu defeito. A tolerância é o que mais aprecia nas pessoas.
Nome: José Carlos Barros
Data do nascimento: Julho de 1963. Tem 52 anos
Naturalidade: Boticas
Residência: Vila Nova de Cacela
Estado civil: Casado
Filhos: Uma filha de 23 anos
Profissão: Arquiteto paisagista. Tem exercido a minha atividade profissional no Algarve, nas áreas do ambiente e do ordenamento do território, nomeadamente na Direção Regional do Ambiente do Algarve, na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve e no Parque Natural da Ria Formosa, de que foi diretor
Formação académica: Licenciatura em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora
Destaque alguns dos cargos que já desempenhou: Entre outros, diretor do Parque Natural da Ria Formosa e vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António
Vai filiar-se no PSD? Porquê? “De momento não é questão que se me coloque.”
Gastronomia/Prato preferido: Peixe assado com salada à montanheira
Clube de que é adepto: Sporting
Religião: Não tem
Qual o filme que mais gostou: «Diário de um Pároco de Aldeia», de Robert Bresson E o livro: «D. Quixote de La Mancha», de Miguel de Cervantes
Virtude: A paciência; Defeito: Falta de paciência
Onde costuma passar férias: Maioritariamente, em casa. Mas, nos últimos anos, já passou férias em Cabo Verde e em S. Tomé e Príncipe
O que mais aprecia nas pessoas: Tolerância; O que mais detesta: Intolerância