Luís Bentes: “Porches tem estado ao abandono há mais de 20 anos”
in Lagoa Informa Jornal nº169
Conquistou a Junta de Freguesia de Porches em 2013, depois de muitos anos de PSD no poder. Ao Lagoa Informa, Luís Bentes, a entrar no terceiro e último mandato, faz um balanço do trabalho realizado, das dificuldades em concretizar e do que gostava de deixar feito até cessar funções.
Este será o seu último mandato à frente da Junta de Freguesia. O que espera concretizar até 2025?
Tudo o que planeámos quando me candidatei em 2013, na altura com um plano a 12 anos. E desse plano que tinha que tem inúmeros projetos, admito, talvez apenas uns 20 por cento esteja feito. Sinto-me impotente por não ter conseguido realizar o que propus.
E porquê?
Desses 30 por cento de projetos, a maior parte era da exclusiva competência da Junta de Freguesia e por eles posso responder. O restante já não depende só de nós, é preciso o apoio da Câmara Municipal. As coisas não evoluíram sempre bem… primeiro foi a minha relação com o anterior presidente, Francisco Martins, que não foi a mais indicada e acabámos seriamente prejudicados. Depois meteu-se a pandemia e, basicamente estes últimos dois anos, resumiu-se ao combate à covid-19. Com o novo presidente, Luís Encarnação, estou na expetativa, mas mais otimista pelas últimas conversas.
Mas sente falta de apoio da Câmara?
O município apoia-nos sempre que pedimos, isso é verdade. Mas nos grandes projetos, nas intervenções de fundo, não basta numa reunião dizer que sim e depois não passar disso. Por exemplo, até 2016 fazíamos reuniões com a Câmara Municipal a cada seis meses para haver uma proximidade e fazer um levantamento das necessidades da freguesia. Mas só ouvia sim e depois nada acontecia. Por isso, deixei, nesse ano, de ir a esses encontros. Era tempo perdido.
Acha que a freguesia tem ficado para trás?
Acho que Porches está ao abandono há mais de 20 anos. É preciso olhar para Porches de uma forma diferente. A Câmara Municipal, desde sempre, nunca olhou por esta freguesia e no tempo do PSD não se fez nada. Aliás, nessa altura fizeram uma lixeira em Porches e quando houve a explosão habitacional, no início de 2000, não se lembraram da freguesia. Nem um projeto que houve aqui, a não ser o bairro social. Antes, construiu-se o Centro de Saúde e o polidesportivo e mais nada. Por isso, não houve crescimento e evolução em Porches. Já vem de há muito tempo.
E continua a ficar?
Nos últimos anos fez-se o parque de estacionamento na Sra. da Rocha, a casa mortuária em Porches, o ramal de esgotos do Sobral de Cima, a pavimentação de algumas estradas e a mudança da Junta de Freguesia com a criação do espaço do cidadão. Mas o que a Câmara tem ajudado está longe de ser suficiente e cada vez temos um fosso maior em relação às outras freguesias. Sinto que sempre fomos e continuamos a ser o ‘patinho feio’ do concelho, isto apesar de termos quatro grandes hotéis na freguesia e mais de 25 aldeamentos.
O que é fundamental fazer nestes quatro anos?
É importante requalificar o promontório da Nossa Sra. da Rocha. Se não nos precavermos e travarmos a erosão, vamos acabar por perder a Ermida e parte daquela zona que é um ex-líbris da freguesia e do concelho. Esse é um processo longo, que vem de há anos, e que não está só nas mãos da Junta de Freguesia e da Câmara. Depende também Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e do Ministério da Cultura.
Como está o processo neste momento?
Está parado. Na última reunião, realizada com a APA e a Câmara, a 25 de novembro, sobre outro tema, abordei esta questão e a APA disse-nos que havia uma linha de apoio a que nos podíamos candidatar para obter verbas para o projeto. Agora acho que está dependente da Câmara.
E outros projetos?
Ainda na Senhora da Rocha, é importante requalificar a zona dos pescadores. Aqui temos a maior e a melhor unidade hoteleira do concelho, mas não há um plano de mobilidade a condizer. Não temos aquela área devidamente cuidada e as pessoas continuam a andar em passeios de terra batida.
E na vila de Porches?
Aqui a intenção é criar habitação a custos controlados, que nos traga pessoas novas, jovens casais com filhos. Finalmente foi feita aquisição pela Câmara de um terreno junto ao depósito de água, um processo que andava ‘embrulhado’ há uns quatro anos. Falta agora avançar com a construção para que seja uma realidade ainda neste mandato. Temos de ter também um plano de ordenamento e mobilidade para Porches, criando passeios dentro da parte mais antiga da vila, enterrar cabos elétricos e de comunicações e renovar uma parte das condutas de esgotos e de águas, algumas com mais de 40 anos. Projetar uma rede de esgotos para a estrada E530-1 de Porches até aos Alporchinhos, da Charnequinha e da Rua dos Areeiros.
A Rua Direita continua a ser um problema. Houve um projeto que previa apenas um sentido de circulação e que não gerou consenso.
Esse processo foi mal conduzido. Não se pode apresentar um projeto em vésperas de eleições, como aconteceu em 2017, e fazer um período de experiência de alteração de trânsito em julho ou agosto, na altura de maior turismo. Logo aí o projeto ficou marcado. Gostava que se fizesse a requalificação da artéria, mantendo o traço tradicional. Mas enquanto isso não avança, temos uma ideia que vamos concretizar, porque essa depende de nós.
Que é?
Sempre foi nossa intenção criar uma bolsa de estacionamento na rua e, a partir daí, várias situações de circulação podem ser estudadas. A Junta está a tentar adquirir um terreno que faz a ligação entre a Rua Direita e a Rua da Igreja, para aí fazer uma zona de estacionamento.
Como está esse processo?
Estamos em negociações. Pedimos já a avaliação do terreno e o levantamento topográfico e acredito que vamos concretizá-lo.
A Casa da Chaminé já está concluída?
Sim. Comprámos a metade da casa da Chaminé que estava em falta. Já foi remodelada com um investimento de mais de 70 mil euros por parte da Junta e agora vamos tentar abrir ao público no Verão durante a parte da tarde, numa parceria com a Câmara Municipal, que assegurará a rotação de exposições que estejam noutros espaços culturais do concelho.
A nível cultural e associativo Porches tem entrado num estado de decadência. Há pouca participação e interesse da população?
Não há pouco interesse ou participação, há é pouca população, sobretudo jovem. Grande parte dos nossos habitantes são idosos e estão numa idade em que têm menos capacidade para participar. O que existe a nível cultural é porque há quatro ou cinco pessoas, os chamados ‘carolas’, que vão tentando fazer algo, como as Festas de Porches, da Sra. da Rocha ou do Caracol. Falta-nos gente nova para participar, daí o nosso principal problema ser a habitação. Se não injetarmos população nova na vila nos próximos quatro anos, vai ser complicado dar dinâmica e vida a esta vila no futuro.