Luís Costa: “A notícia do Brexit trouxe um enorme dinamismo ao mercado imobiliário”
TEXTO: JORGE EUSÉBIO
Ao contrário do que se poderia pensar, o início do processo do Brexit trouxe grande dinamismo ao mercado imobiliário algarvio, diz o empresário Luís Costa, da Costa Properties. Mas, entretanto, “esse efeito perdeu-se e todos estão expectantes sobre o futuro”.
Há quanto tempo existe a Costa Properties? Como tem sido a sua evolução?
Comecei sozinho, no início de 2016, embora, oficialmente a empresa exista desde 25 de Abril desse ano. O crescimento tem sido exponencial, solidificámos a nossa posição entre as melhores e continuamos a crescer. Desenvolvemos a qualidade do nosso serviço e aprofundamos o conhecimento na área geográfica de especialização – Lagos. Seguiu-se o segundo escritório Costa Properties, em Vila do Bispo – o passo mais natural para mim – em sociedade com um amigo de infância (David Correia). Neste momento somos seis, mas o modelo está pensado para oito pessoas. Cada escritório tem quatro posições distintas, bem definidas e que se complementam. Continuaremos a cimentar a nossa posição como imobiliária de referência em Lagos e perspetivamos ser a imobiliária número um no concelho de Vila do Bispo, em 2019.
Numa área tão competitiva e em que existem tantas empresas, que vantagens competitivas tem a sua imobiliária?
Quando o modelo de negócio é bem definido e o serviço é de qualidade, a competitividade é prazerosa e traduz-se muitas vezes em aprendizagem. A exclusividade no raio de ação, a especialização de cada colaborador nas funções que desempenha e a estabilidade através de contrato de trabalho, com vencimento, cria uma intenção conjunta de trabalhar em equipa para o mesmo objetivo. Os modelos mais usados de colaboradores, enquanto empresários em nome individual, é o oposto daquilo em que acreditamos. Ainda assim, fragmentar o mercado, criando nichos, será sempre uma forma de lidar com a competitividade. Neste momento, em Lagos temos quatro concorrentes diretos. Não são assim tantos, tendo em conta que existem 59 licenças de mediação imobiliária no concelho, das quais 47 com sede na cidade. Em Vila do Bispo o modelo foi ligeiramente alterado de forma a integrar uma área com imóveis diferentes, escassez física, condicionalismos criados pela geografia e planeamento territorial – ou falta dele – e acima de tudo, pessoas diferentes! Mas eu e o meu sócio fazemos parte desse conjunto de “pessoas diferentes” pois somos nascidos e criados em Vila do Bispo.
Por nacionalidades, quais são os vossos principais clientes? E que tipo de imóveis são mais procurados?
Mais uma vez, há que separar Lagos de Vila do Bispo, que são duas realidades completamente diferentes: o cliente em Lagos procura moradias de gama média alta, apartamentos de qualidade e reconstruções no centro da cidade. Normalmente ingleses, mas também portugueses, pelo menos até ao dia 23 de Julho aquando da recomendação do Banco de Portugal ao financiamento nunca superior a 90%. Desde então a quebra foi de 80% em comparação com igual período de 2017. Em Vila do Bispo, os clientes são ingleses, alemães, espanhóis e portugueses. Os imóveis mais procurados são as ruínas nos centros das vilas e aldeias e as casas junto à praia, que pela sua escassez atingem valores muito elevados.
A questão do Brexit já tem ou poderá vir a ter consequências no mercado imobiliário algarvio?
Em 2016, e ao contrário daquilo que muitos pensavam, a notícia do Brexit trouxe um enorme dinamismo ao mercado e impulsionou – na minha opinião – a retoma a que assistimos, desde então. Quem sonhava ter casa no Algarve apressou-se a comprar e quem gostaria de voltar para o Reino Unido apressou-se a vender, com medo do que poderia surgir. Mas, entretanto, esse efeito perdeu-se e todos estão expectantes sobre o futuro. É difícil dizer que consequência trará porque as condições da saída do Reino Unido da União Europeia ainda não estão totalmente definidas. Portanto, só após conhecer a fundo as condições de saída do Reino Unido e a sua futura interação comercial com os países membros é que poderei tentar antecipar quaisquer consequências. Visto que a pergunta, na verdade, é se já tem ou se poderá vir a ter consequências, a resposta é sim, pela quantidade de proprietários britânicos que o Algarve tem e pelo interesse turístico da região.
Como vê o atual panorama do mercado imobiliário, em especial, na região algarvia?
O Algarve é o espelho do resto do país, mas amplificado, devido ao turismo. Como por todo o país, existe uma dificuldade enorme na obtenção de habitação para jovens portugueses. Com o poder de compra a diminuir e com o crescimento exponencial do interesse turístico, sobretudo na nossa região, mas também, e ao contrário de há alguns anos, em Lisboa e Porto, Portugal precisa de criar estratégias de combate à falta de habitação (para compra, mas especialmente para arrendamento urbano). Ainda assim, essas estratégias não podem passar pelo escape da construção massiva de habitação social. Essas estratégias terão de ir ao encontro da reabilitação urbana, tanto através de incentivos fiscais ao arrendamento ou à reconstrução para arrendamento, bem como a subida substancial do IMI para prédios devolutos ou segundas habitações não exploradas. Medidas para resolver questões de heranças de prédios devolutos também podiam ser uma mais-valia para criar dinamismo de venda e reconstrução, especialmente em meios mais pequenos, como é o caso da maior parte das localidades do Algarve. Ir contra o Alojamento Local é aniquilar o investimento estrangeiro e consequente entrada de divisa estrangeira para investimento no nosso país.
Nos últimos anos tem-se verificado um aumento substancial no preço dos imóveis. Esta tendência irá continuar por muito mais tempo? Estará a formar-se uma bolha ou esta subida é racional?
A minha ponderada leitura do mercado leva-me a acreditar que o facto do mercado local estar saturado de compradores estrangeiros, que, pelo rápido e substancial aumento dos preços dos imóveis, se viu privado de ver satisfeita a sua necessidade, irá procurar em outro lugar (seja periferia ou até mesmo outro país), levando a uma consequente diminuição da procura agregada. Essa diminuição irá contribuir, inicialmente, para uma ligeira descida dos preços e posteriormente a uma estabilização devido à autorregulação do mercado.