Luís Encarnação defende que injustiça tem de ser corrigida

Num ano em que o turismo volta a ser penalizado devido à propagação da covid-19, Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, considera que há um sentimento de injustiça para com os concelhos algarvios e para com estes destinos.

A evolução da doença no último par de semanas, colocará a região a dar um passo atrás numa altura em que o sustento dos empresários poderia garantir uma luz ao fundo do túnel para o próximo Inverno.

“Queremos ter um Verão com a nossa economia a funcionar, em segurança, cumprindo as regras sanitárias em vigor, apoiando os artistas locais e retomando alguns eventos”, começa por explicar Luís Encarnação.

“O ideal seria que a avaliação de outros países em relação
à inclusão em listas verdes fosse feita por região e não à escala do país. No entanto, nesta luta temos de ser todos solidários”

No entanto, desde o início de junho que os autarcas se colocam perante dois cenários possíveis. “Um com os turistas britânicos e outro sem esse mercado. Se nesta altura, Portugal e o Algarve regressassem à lista verde e não houvesse um agravar das medidas sanitárias, acreditaria que em julho, agosto e setembro, teríamos uma ocupação entre os 80 e os 90 por cento. Não se verificando esse cenário, teremos um Verão muito semelhante ao de 2020, com uma ocupação entre os 60 e os 70 por cento”, alerta o autarca de Lagoa.

Seria uma época alta muito baseada no mercado nacional e no de proximidade, como o espanhol. Antecipando esta situação, que faz agora mais sentido devido ao aumento da propagação da covid-19 no país e, sobretudo, em Lisboa e Algarve, a Câmara Municipal de Lagoa trabalhou esse ‘cenário B’, sem turistas britânicos e iniciou a campanha turística ‘Lagoa, Segura de Si’ em Lisboa, no norte e centro do país, bem como na Andaluzia e na Galiza, em Espanha.

Ainda assim o cenário atual a nível nacional é de agravamento da pandemia e há diversos outros países e a colocar Portugal em listas que restringem as viagens de turistas.

“O ideal seria que a avaliação de outros países em relação à inclusão em listas verdes fosse feita por região e não à escala do país. No entanto, nesta luta temos de ser todos solidários, porque isto é um problema que diz respeito a todos”, refere Luís Encarnação, apesar de reconhecer que o Algarve ‘sai’ prejudicado nesta realidade.

“A região tem feito um esforço no sentido de controlar a pandemia, mas, depois, acabamos por pagar todos. Esta questão do Reino Unido é de facto uma injustiça. Inclusive, porque há vários testemunhos de turistas e cidadãos britânicos que referem e reforçam que se sentem mais seguros no Algarve do que em Inglaterra”, elucida o autarca.

Uma questão de injustiça
A contabilização dos casos positivos de covid-19 de turistas estrangeiros nos concelhos onde estão de férias e a falta de um ajuste nos critérios de contabilização dos casos acumulados para a aplicação de medidas restritivas pelo governo é outra das queixas que Luís Encarnação tem vindo a repetir desde maio.

“É preciso trabalhar, porque outras crises certamente virão no futuro e a região tem de se preparar. Ainda não sabemos como esta pandemia
da covid-19 vai terminar”

“Não é aceitável que a partir do momento em que o Algarve aumenta a população, porque é um destino turístico, os casos continuem a ser contabilizados com a mesma base de incidência. No caso de Lagoa somos ‘grosso modo’ 23 mil pessoas, mas, por exemplo, nos feriados de junho talvez tenhamos sido 60 mil”, argumenta.

Do ponto de vista de Luís Encarnação a base de incidência não pode ser a mesma quando a região e a maioria dos concelhos algarvios têm um forte aumento da população nos meses da época alta.

“Nem distingo entre os nacionais e os estrangeiros. São todos aqueles que, não sendo residentes no concelho de Lagoa, se forem contabilizados, levam a que defenda que a base deva ser aumentada. E isto é válido para Lagoa e para todo o Algarve, senão acabamos por ser penalizados. Estamos a falar de uma região que vive essencialmente do turismo e que dá um contributo importante para o Produto Interno Bruto nacional através desta atividade económica. É fundamental, por isso, que se encontre aqui alguma justiça e que não haja uma penalização para as empresas e para a economia”, defende.

Monocultura do turismo
Uma das fragilidades que a pandemia colocou a nu, na perspetiva de Luís Encarnação, é o facto de a região estar dependente de uma monocultura, em que todos os setores andam à roda do turismo.

“Ainda que possamos pensar em diversificar o turismo, se acaba por estar tudo ligado ao mesmo setor, quando os aviões ficam em terra e há o encerramento de fronteiras a economia sofre as consequências”, resume. A oportunidade poderá ser a procura de fontes alternativas de rendimento para a região, assente noutras atividades distantes do turismo.

“Acredito que essa é uma lição que fica. Se conseguimos executá-la no imediato, num curto ou médio prazo, tenho muitas dúvidas, mas é preciso trabalhar, porque outras crises certamente virão no futuro e a região tem de se preparar. Ainda não sabemos como isto vai terminar”, alerta Luís Encarnação.

Algarve como polo tecnológico
Quando partilha a visão que tem do turismo e do que pode ser realizado para diversificar a economia da região, o autarca de Lagoa aponta que uma das alternativas seria tornar o Algarve num polo tecnológico e científico.

“Os municípios da região, através da Comunidade Intermunicipal AMAL, encomendaram um estudo à Universidade do Algarve que aponta para diversas soluções. Uma delas que a região se transforme num polo tecnológico e de ciência. No fundo, seria numa lógica de as pessoas viverem e trabalharem onde é bom viver e trabalhar”, esclarece em declarações à Algarve Vivo.

E na verdade essa até seria uma questão ultrapassada de forma muito fácil, visto que na atualidade com as novas tecnologias é possível trabalhar em qualquer local, na maioria das profissões. E a pandemia mostrou mesmo que há uma oportunidade a explorar no teletrabalho.

“Ainda que as empresas possam estar instaladas nos grandes centros financeiros ou nas capitais de outros países do mundo, os seus trabalhadores podem estar no Algarve”, reforça.

Mas dar capacidade para criar as melhores condições e avançar com este objetivo teria de ser um investimento à escala e à dimensão da região, aproveitando os fundos comunitários que estão previstos e que serão uma resposta para o reequilíbrio da economia, que balançou com a pandemia.

“Tem de ser um projeto supramunicipal, que convirja no sentido de atrairmos outras atividades económicas que se diferenciem do turismo para não ficarmos só dependentes dessa atividade”, diz.

Turismo de qualidade
Se há algo em que Lagoa se tem distinguido é no tipo de turismo de tem prevalecido ao longo dos anos no concelho. “Sou um defensor de que tanto para Lagoa como para o Algarve é importante que o turista seja de qualidade. E por uma razão muito simples que está ligada à nossa dimensão. Temos uma extensão reduzida se compararmos com os nossos principais concorrentes Andaluzia ou norte de Marrocos. É por isso que não podemos apostar na massificação. Temos que apostar na qualidade”, aponta.

É isso que o autarca sublinha que Lagoa faz há vários anos, pois trata-se de um concelho com 89 quilómetros quadrados de área, com uma costa de 17 quilómetros.

“Todo o trabalho de ordenamento do território foi muito importante, porque nos direcionou nesse sentido. O que fazemos agora é potenciar o turismo de uma gama média e alta para Lagoa”, com muita segunda habitação, conclui.

Autarquia avança com testagem gratuita à população e funcionários municipais

A testagem da população residente no concelho e dos funcionários municipais para a deteção de casos ativos da covid-19 começou no dia 14 de junho, nas farmácias aderentes, num investimento de 160 mil euros.

Esta medida surge na sequência de um protocolo de cooperação, assinado em maio, com a Associação Nacional de Farmácias e permitirá a realização de dois testes rápidos antigénio a pessoas de qualquer idade.

Essa despistagem dispensa receita médica e quem optar por efetuar os dois testes, deverá fazê-los com um intervalo mínimo de 14 dias entre eles. Uma das restrições é que não serão aplicados em munícipes ou funcionários que testaram positivo à SARS-CoV-2 nos últimos 90 dias, contabilizados a partir da intenção da realização do mesmo.

Para já, aderiram à iniciativa as farmácias Lagoa, José Maceta, ambas na sede de concelho, e a de Ferragudo. A listagem pode sofrer alterações com a entrada de mais estabelecimentos, podendo ser consultada no site da autarquia e da Associação Nacional de Farmácias.

A Câmara alerta ainda para a necessidade de marcação prévia através dos contactos telefónicos destes espaços farmacêuticos e esclarece que os casos positivos serão reportados ao SINAVE, sistema gerido pelo Ministério da Saúde.

“Não se trata de testar em massa, mas de dar oportunidade aos munícipes e funcionários da autarquia” de efetuarem o despiste de forma gratuita, “quando assim o entenderem, contribuindo dessa forma para o lema ‘Lagoa, Segura de Si’ e para o aumento da confiança entre a população” afirmou o presidente da Câmara de Lagoa, Luís Encarnação.

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