Luís Encarnação: “Vamos fazer obra, mas não estamos obcecados com isso”

fotos: Ana Sofia Varela, in Lagoa Informa nº179


Presidente da Câmara faz ponto da situação dos vários projetos em curso e define a água e habitação como duas das prioridades.
Mostra, contudo, ponderação recordando que a pandemia e a guerra na Ucrânia podem exigir mais sacrifícios à autarquia. Diz esperar uma grande FATACIL e recorda alguns períodos difíceis da última campanha eleitoral.

Afirmou durante a campanha eleitoral que este seria o mandato de concretizar projetos. Será assim?
Sim, isso foi afirmado e há a expetativa que este seja um mandato para fazer obra, na medida em que nos últimos dois anos, muito do nosso trabalho foi preparar os processos e procedimentos. Mas gostava de dizer que não nos vamos desviar também das outras prioridades, pois a pandemia e agora a guerra na Ucrânia tiveram e têm consequências que merecem a nossa atenção. O aumento dos combustíveis, a inflação galopante e escassez de mão de obra e matérias primas são fatores a ter em conta e irão condicionar o nosso desempenho ao longo deste mandato. Mas vamos trabalhar para cumprir com os nossos compromissos.

Que são?
Como sempre defendi, a nossa prioridade será cuidar dos lagoenses e garantir que nenhum fica para trás, enquanto tivermos estas nuvens negras no horizonte. Depois iremos continuar a cuidar do espaço público e da limpeza urbana. E vamos manter a aposta forte nas áreas que são as marcas de Lagoa: o desporto, a cultura, a educação e a ação social. As obras são a última das nossas prioridades, mas queremos e vamos fazê-las, nomeadamente as que estão nosso programa eleitoral e que são fundamentais para o futuro do concelho. Mas quero deixar uma coisa bem clara, não vivemos obcecados pelas obras. Temos várias prioridades, as obras são uma delas, não a principal.

Perante o que acaba de dizer, acha que é possível concretizar todas?
Neste mandato será possível fazer a maioria das obras. Temos essa expetativa e estamos a trabalhar para que isso aconteça, mas estamos também já a preparar projetos e obras para o próximo mandato. Não pensamos só no imediato.

Comecemos pelos parques urbanos. Qual será o primeiro a avançar?
Em termos de parques, o primeiro que vai aparecer até é um mais pequeno, integrado na área desportiva da ESPAMOL, junto ao Bairro Che Lagoense, em Lagoa, que além das valências desportivas, vai ter uma área para a população daquela zona desfrutar dele após o horário escolar e durante o fim de semana. Esse estará concluído até setembro.

E os grandes parques?
Vamos ter dois grandes parques urbanos no concelho, como já foi anunciado. O primeiro a avançar será o do Parchal, nas traseiras do Centro de Congressos do Arade, numa área de 33 mil metros quadrados. É o que está mais avançado. O projeto será lançado ainda este ano e terá um cronograma de execução de nove a 12 meses, pois é um projeto com alguma dimensão. Terá uma pista oficial de corta-mato, que se converte facilmente numa zona de corrida e caminhada e terá zonas de lazer. É um parque intergeracional, vai ter mais do que um parque infantil e algumas zonas com equipamentos geriátricos para os mais idosos. Terá muitas árvores, vegetação e um lago. É um projeto, no qual estamos a apostar forte e que estará concluído neste mandato.

E o de Lagoa?
Será para lançar depois desta execução. Vai ficar no terreno em frente à Escola Jacinto Correia, fazendo depois a ligação a uma zona verde também na lateral da escola. Este projeto está dependente do projeto de desenvolvimento urbanístico na área entre as traseiras da escola e a variante da A22, que prevê a cedência à Câmara de um terreno, para expandir o parque. Será um projeto que queremos muito concluir neste mandato.

O que terá esse parque?
Contará com amplas áreas verdes, num espaço destinado a todos os lagoenses. Terá zonas para caminhadas, corridas e para as crianças brincarem. Dada a proximidade com o Auditório Carlos do Carmo, iremos criar um coreto para a realização de alguns eventos ao ar livre, criando dinâmica numa parte da cidade onde vivem muitas pessoas e para onde será fácil todos se deslocarem.

“Os casais jovens do concelho
terão prioridade na aquisição
de habitação acessível em Porches”

FERRAGUDO
O Silo Ferragudo parece estar a sofrer alguns atrasos. Qual é o ponto de situação?

O projeto está a desenvolver-se. Estamos a terminar uma fase e a entrar noutra. Recebemos uma proposta do empreiteiro, na sequência de estudos geotécnicos realizados, e há a hipótese de aumentar o número de lugares de estacionamento em cerca de 25 a 30. Vamos avaliar e decidir. Estamos a terminar as escavações e fundações. Se tudo correr bem e não houver nenhum percalço, o parque de estacionamento de Ferragudo deverá estar concluído no final de 2023 ou no início de 2024.

CARVOEIRO
O projeto do silo de Carvoeiro parece um pouco diferente, pelas valências que terá. Quando começará e estará concluído?

No projeto de Carvoeiro estamos na fase das especialidades, que ainda não estão concluídas, mas contamos lançar o concurso no próximo ano. Esta será uma obra com uma visão e perspetiva diferente.

Esse será um projeto mais à Luís Encarnação, uma vez que alguns dos que está lançar já vinham de trás, nomeadamente o de Ferragudo?
Acho que sim, não há dúvidas quanto a isso. O estacionamento de Ferragudo nem lhe toquei e cumpri rigorosamente o que estava preparado desde há algum tempo. Confiei que estava em condições e foi lançado. O de Carvoeiro até começou a ser pensado antes de Ferragudo, mas andava sempre a mudar de local. Agora sim, defini uma localização e uma ideia concreta. Foi já na minha gestão que decidimos que seria no mercado, bem como, em concreto, o que iriamos fazer.

E como será?
Vamos criar estacionamento que é fundamental na vila, mas vamos manter o Mercado Municipal, porque acho que, pelas características de Carvoeiro, faz todo o sentido ter um mercado tradicional. Vamos acrescentar uma zona comercial, tornando toda a estrutura mais moderna e atrativa para todos. No projeto, temos uma estratégia de fazer as pessoas passarem obrigatoriamente pelo mercado quando saírem do parque, de modo a dar visibilidade a esta área. Vamos criar condições também para que a zona do mercado possa receber eventos culturais, como exposições e espetáculos musicais. O estacionamento será sempre gratuito e terá quase 300 lugares.

MEXILHOEIRA DA CARREGAÇÃO
A oposição, nomeadamente o PSD, defende que quatro milhões de euros é muito dinheiro para gastar no Centro Escolar da Mexilhoeira Carregação. É verdade?

Acho no mínimo curioso que essa crítica venha do PSD, que gastou cinco milhões no Estádio da Bela Vista e, na altura, ouviu as mesmas críticas, até mesmo de mim. Mas hoje, reconheço, precisava de outro estádio igual. Se calhar vai acontecer o mesmo no Centro Escolar da Mexilhoeira da Carregação. Insisto, não vamos só construir uma nova escola. Estamos a apostar numa nova estratégia e filosofia a longo prazo, numa aposta clara nas novas tecnologias, e que continue essa estratégia até ao secundário. Para já, o Centro Escolar terá alunos do primeiro ao quarto ano, mas a ideia é desenvolver este projeto de escola até ao secundário, com a intenção de segurar os melhores alunos nos nossos estabelecimentos de ensino, em vez de irem estudar para os concelhos vizinhos.

O que contempla o projeto?
Não vamos destruir o edifício centenário que lá existe, que ficará com outras utilizações. Vamos construir uma escola nova, com refeitório, uma biblioteca e um campo de jogos e lazer, com a mesma lógica do que estamos a fazer em Lagoa. Fora do horário escolar e ao fim de semana ficará à disposição da população. Tudo isto junto, acho que o valor não é exagerado. E temos como referência a EB da Praia da Luz, no concelho de Lagos, cujas obras estão a decorrer, e os valores são semelhantes. Mas temos mais um projeto na Mexilhoeira da Carregação.

“O Parque Urbano do Parchal, nas traseiras do Centro de Congressos do Arade, terá uma pista oficial de corta-mato, um parque infantil, áreas com equipamentos geriátrico, muitas árvores, vegetação e um lago”

Qual?
Vamos criar uma zona de lazer junto ao Calhau, com o objetivo de ‘abrir’ o rio à população, dando a possibilidade às famílias de desfrutarem de todo este espaço. Terá um parque infantil, um mini campo de futebol, um quiosque e zonas de estar. Esta intervenção implica a requalificação de toda aquela área.

PARCHAL
Sempre haverá passadiço no Parchal?

Sim, mantemos a ideia de criar um passadiço do Parchal à Mexilhoeira da Carregação. Estamos a negociar com várias entidades com competência na matéria e já temos o parecer favorável de algumas. Falta um do ICNF que nos pediu um estudo de incidências, que estamos a preparar. Acredito que esta primeira fase será concretizada ainda neste mandato.

Se conseguir realizar as obras que enumerou, acha que ficará conhecido como um dos autarcas com mais obra feita em Lagoa?
Não é esse o meu objetivo. Mas quero deixar uma marca e melhorar Lagoa. O meu compromisso e o do PS sempre foi entregar o concelho melhor do que o recebemos. Se as conseguirmos concretizar, seguramente que deixaremos uma marca.

HABITAÇÃO
Quando começam as obras da habitação a custos controlados em Porches, junto ao depósito de água?

Neste momento, estamos na fase de elaboração do projeto de arquitetura e também do envolvimento paisagístico, que para nós também é muito importante. Este terreno, adquirido pela autarquia em 2021, tem uma finalidade: a construção de habitações a custos controlados. Não será habitação social. Destina-se às famílias lagoenses que pretendam adquirir uma casa, mas que não têm meios para o fazer no mercado dito normal e têm aqui uma oportunidade de o fazer a custos mais baixos. São quase 60 habitações, das quais seis a dez serão negociadas com o promotor para serem cedidas à autarquia, com vista a arrendamento acessível.

As famílias do concelho terão prioridade?
Sim, iremos criar um regulamento para dar prioridade às famílias lagoenses e, sobretudo, aos casais jovens que querem iniciar a sua vida.

Que outros locais estão contemplados?
Para além da renda acessível em Porches, temos vários projetos de habitação social, nomeadamente no Bairro Municipal daquela vila. Contamos com sete fogos habitacionais a serem construídos no centro da cidade de Lagoa, na Rua Dr. Sebastião Trindade Pinto. Depois de concluídos estes projetos, iremos começar a adquirir casas devolutas um pouco por todo o concelho e remodelá-las para as disponibilizar ou para habitação social ou para renda acessível.

CRÍTICAS
A autarquia foi criticada pelo movimento Lagoa Primeiro por construir mais habitações no Bairro Social de Porches, aumentando a densidade de construção naquela área. Como refuta esta acusação?

Não faz nenhum sentido esta crítica. Entre fazer um parque urbano, que era o que o movimento pretendia, e fazer habitação não tive dúvidas e dei prioridade às pessoas. É importante relembrar que aquele terreno foi adquirido pela autarquia para habitação social, ainda no tempo do PSD. Foi construído só uma parte e ficaram dois lotes disponíveis para, no futuro, se criar mais habitação. E aqui a questão é de oportunidade, porque teremos o apoio do programa Primeiro Direito, de renda apoiada. O movimento não concorda com a construção de habitação social num espaço que foi adquirido para esse efeito porque queria lá fazer um parque urbano. Mas num outro terreno que nós adquirimos para construir casas para habitação acessível a jovens, queriam lá fazer habitação social. Aí ficávamos com dois bairros sociais em Porches, o que para mim não faz qualquer sentido!

“Depois de concluídos estes projetos, iremos começar a adquirir habitações devolutas um pouco por todo o concelho e remodelá-las para as disponibilizar ou para habitação social ou para renda acessível”

Não teve dúvidas, portanto?
Claro que não! Para nós, as pessoas estão verdadeiramente em primeiro lugar e, por isso, quando tive de decidir, pensei nas cerca de 80 famílias sem habitação digna que temos no concelho e não hesitei um segundo. Com esta decisão, 36 famílias terão uma casa, mas ainda não resolvemos o problema todo.

A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA
A água foi um dos temas da campanha eleitoral e definida por si como uma das prioridades. O que está a ser feito nesta área?

Lançámos recentemente uma campanha para alertar os lagoenses para a necessidade de poupar água, que começa a ser um bem escasso e tem de ser poupado em casa. Temos também muito trabalho pela frente na substituição das condutas adutoras.

Quanto irá gastar a Câmara até final deste mandato na substituição de condutas e quais serão as zonas contempladas?
Essa é uma resposta que ainda não posso dar, até porque está a decorrer um estudo que já teve uma primeira fase, na qual foi feito um mapeamento de todas as condutas do concelho. Estamos na segunda, que decorrerá até final de julho e que revelará o estado em que elas se encontram, indicando o que é preciso fazer. Finalmente numa terceira fase, a concluir até setembro, teremos a indicação de quais serão as prioridades e as zonas que necessitam de uma intervenção mais urgente. E já iremos saber quanto teremos de gastar. Este foi um processo que começou ainda no mandato anterior e estará concluído depois do Verão, pois trata-se de um levantamento muito exaustivo do estado das condutas.

Prevê que serão necessários muitos milhões para substituí-las…
Estimo que serão necessários entre 30 a 40 milhões de euros, obviamente a ser gastos em vários anos.

Qual a percentagem atual de perdas de água na rede devido à degradação das condutas?
É acima de 30 por cento. Não somos os piores do Algarve, mas o nosso objetivo é ficarmos abaixo dos 20 por cento de perdas reais na rede.

Isso será possível em quantos anos?
A estimativa que temos é que em cinco anos podemos fazer essa redução. É esse o meu objetivo. E nesse sentido, outro trabalho importante que já estamos a fazer e que começou na zona oriental do concelho, nos Alporchinhos, é a instalação de Zonas de Medicação e Controlo (ZMC) que são fundamentais, num projeto financiado por fundos europeus. A intenção é instalar ZMC em todo o concelho, o que permitirá monitorizar os troços, as distâncias entre eles, e perceber onde poderá estar a existir uma perda ou fuga de água, ainda que pequena, mas que mais tarde pode levar ao rebentamento da conduta.

REGRESSO DA FATACIL
A FATACIL está de regresso este ano. Após dois anos de paragem, como está a procura de expositores?

Ao mesmo nível de 2019 e isso é motivo de enorme satisfação. Temos a feira praticamente vendida, as perspetivas à data de hoje são muito boas e acredito que vamos fazer um grande certame.

Consegue garantir uma feira ao nível das anteriores em termos de qualidade?
Ainda não nos livrámos da pandemia e quando temos uma guerra na Europa, é difícil ter certezas. Mas posso garantir que vamos procurar organizar a melhor FATACIL de sempre.

Alguma novidade na organização este ano?
Estamos a trabalhar para fazer, em simultâneo, um festival de gastronomia para que a zona da restauração tenha o melhor da cozinha e dos vinhos que Portugal tem para oferecer. A zona do palco também será outra, permitindo aumentar a dimensão da feira.

O picadeiro já estará a funcionar na feira de 2023?
É uma pergunta difícil. O picadeiro é uma aposta e tenho forte convicção da sua importância e utilidade no futuro. Estamos a trabalhar para que venha a ser uma realidade, não só para ser utilizado na FATACIL, mas para que possa funcionar ao longo de todo o ano. A ideia é que possa ser mais uma ajuda para mitigar a questão da sazonalidade na oferta turística. Sabemos que o setor equestre é um nicho importante que Lagoa não pode desvalorizar. Queremos um picadeiro a funcionar ao longo de todo o ano, eventualmente com uma escola equestre, e criar condições para recebermos eventos e os aficionados que nos seus países de origem, durante o Inverno, não têm condições para montar ou ter os seus animais nas condições desejáveis.

Não há portanto uma data que se possa adiantar para a sua conclusão?
Já temos os projetos de arquitetura e especialidades feitos e estamos na fase dos pareceres. São necessários muitos e de diferentes entidades. Isso poderá atrasar. Gostávamos que já estivesse pronto, mas não depende só de nós.

A oposição aos olhos do presidente da câmara

Movimento Lagoa Primeiro
“É um projeto que foi sufragado pelos lagoenses e com as propostas eleitorais que fez, está a trabalhar de acordo com as mesmas. Tem a sua linha política e o importante, na minha perspetiva, é saber se estão do lado da solução, do progresso e do desenvolvimento do concelho ou não.”

PSD
“É um partido político importante, que durante 28 anos governou Lagoa. Teve o seu momento e espero que o Partido Social Democrata faça uma oposição criteriosa e construtiva, como o Partido Socialista fez enquanto foi oposição. Até agora penso que isso tem acontecido, quer na Câmara quer na Assembleia Municipal.”

Chega
“É um fenómeno, que ainda estamos a avaliar. Veio ocupar o espaço do Bloco de Esquerda no concelho. Não foi uma surpresa para mim, face ao que já tinha acontecido nas eleições presidenciais. Vamos dar tempo para poder avaliar o trabalho que o Chega pretende fazer em Lagoa.”

BE
“É uma força política que já teve maior representação no concelho. Não tem vereador na Câmara, mas tem um deputado na Assembleia Municipal que conheço bem e de quem até sou amigo. Parece-me que faz uma oposição construtiva, que é o que se deseja para a normalidade política no concelho.”

CDU
“Tem um representante na Assembleia Municipal e sabemos que a CDU tem uma orientação político-partidária muito própria, mas julgo que ainda é uma força importante da democracia e que também dá um contributo positivo para Lagoa.”


Obras no Centro de Congressos do Arade podem custar mais de um milhão

A autarquia está prestes a formalizar a compra do Centro de Congresso do Arade por 2,5 milhões. O que pretende fazer daquela estrutura?
Conheço bem aquela estrutura, pois foi na gestão do PS na Câmara de Lagoa que o Centro de Congressos do Arade teve mais vida e utilização. Sei qual o potencial do espaço. A intenção é devolvê-lo aos melhores dias que conheceu. Fiz intervenções públicas naquela sala e várias vezes referi o quão satisfeito estava por ver quase 1000 pessoas na assistência. O que contrariava aquela lógica de que se tratava de um elefante branco. Um elefante branco é como ele está agora, depois de ter sido abandonado por não ter viabilidade.

Qual foi a razão do fracasso daquela estrutura?
O problema é que nunca foi viável cumprir com o serviço da dívida. Não era possível em 20 anos liquidar 7,5 milhões de empréstimo. Basta olhar para os números. Mas agora, liberto do pagamento dessa dívida, tudo poderá ser diferente.

Não poderá também ter havido má gestão?
Eventualmente, sobretudo quando se permitiu que a gestão passasse para uma empresa que já geria o Portimão Arena e claramente usou a tática do eucalipto, ou seja, ‘secar’ o Centro de Congressos do Arade para que o outro espaço pudesse trabalhar melhor. Essa foi uma das ‘machadadas’ que também contribuíram para o desfecho que conhecemos.

Daqui a um ano poderá estar aberto ao público?
Tudo depende da celeridade do processo de compra. O banco já nos devolveu os contratos, que irão a reunião de Câmara e o passo seguinte é enviar para o Tribunal de Contas (TC), que tem 30 dias para se pronunciar. Pelo valor da aquisição, 2,5 milhões de euros, acredito que o TC aprove o empréstimo e a aquisição do imóvel. Tudo aprovado e feita a escritura, teremos de recuperar o espaço.

Quanto é que isso poderá custar?
Julgo que cerca de um milhão de euros, principalmente devido aos atos de vandalismo provocados de forma gratuita, com o objetivo de destruir um equipamento que não era público. E o vandalismo aconteceu principalmente depois de saberem que a Câmara estava perto de chegar a acordo para a compra do imóvel. Fizemos uma participação ao Ministério Público, pois aconteceram muitas coisas estranhas.

Não faz então ideia de quando poderá reabrir?
Depois de confirmada a aquisição pelo Tribunal de Contas, acredito que em cerca de um ano podemos reinaugurar o espaço. Espero que seja possível. Posso adiantar que numa primeira fase, entre três a cinco anos, será a Câmara a fazer a exploração e gestão do espaço.


“Campanha eleitoral foi dos momentos mais duros”

Sente-se hoje um presidente mais legitimado e apreciado pelos lagoenses depois da vitória nas últimas autárquicas?
Já me sentia antes, mas estas eleições, pela natureza que tiveram e depois de tudo o que se passou, fizeram com que hoje me sinta seguramente mais legitimado. Fui o candidato do PS e venci com uma larga maioria e uma grande confiança dos lagoenses.

A campanha foi agressiva, houve alguns ataques duros, até a si enquanto presidente. Ficaram algumas marcas no relacionamento com a oposição?
A campanha foi muita dura. Foi um dos momentos mais difíceis que vivi na minha vida, seguramente. Mas por outro lado compreendo, pois quando chegamos a seis meses antes das eleições parece que as pessoas se transformam, vamos lá saber porquê. Assisti a transformações por parte de pessoas às quais eu tinha uma enorme estima e até amizade que não esperava. Mas percebo que é fruto daquilo que é a realidade da política. Já perdoei quem tinha de perdoar, não guardo rancor nem mágoa de ninguém. Todos aqueles que querem trabalhar em prol do desenvolvimento do concelho, terão a minha disponibilidade para ouvir e conversar.

Alguém lhe deve um pedido de desculpas?
Não sei se alguém me deve um pedido de desculpas, mas a verdade é que na noite das eleições, se eu tivesse perdido, tinha felicitado o vencedor. Só o candidato do PSD o fez.

Acha que foram ultrapassados alguns limites?
Foram claramente ultrapassados muitos limites. Estou na vida política autárquica com sentido de missão e a trabalhar pela terra onde nasci e que amo, onde a minha família cresceu e onde quero continuar a contribuir, para que quando terminar esta missão, Lagoa esteja melhor do que quando assumi funções. Na política não pode valer tudo e foram cometidos excessos, que gostava que nunca mais se voltassem a repetir.

Sente que as pessoas têm uma grande expetativa neste seu mandato?
Sei que sim, mas eu também tenho. A minha intenção e da minha equipa é que seja um grande mandato, apesar de todas as dificuldades que possam surgir. Tenho uma particularidade desde que tomei posse como presidente da Câmara. Passados seis meses chegou uma pandemia, algo que nunca tínhamos experienciado, o que nos obrigou a adaptar-nos e a mudarmos a nossa estratégia. E agora, poucos meses após a eleição, quando pensávamos que estávamos a livrar-nos da pandemia, inicia-se uma guerra na Europa. Sou um otimista e digo que todos os dias nos surgem desafios diferentes. Eu e a minha equipa vamos estar preparados para os resolver, procurando cumprir e encontrar soluções. Somos um concelho acima daquilo que é média nacional em termos de bem-estar, qualidade de vida e do que a autarquia oferece, mas também sabemos que há um caminho longo para continuarmos a melhorar a nossa terra.

É conhecido por dominar bem os dossiers, de acompanhar os processos, o que o deixa muito tempo no gabinete. Está a contactar com os lagoenses tanto quanto queria?
Esse é o maior desafio que um autarca tem e tive essa noção durante a campanha eleitoral. Fiquei a perceber que precisava de estar mais na rua, porque enquanto o fiz, resolvi muitos problemas que se calhar andavam na Câmara, pelos serviços, há vários meses. E esse contacto com as pessoas permitiu resolvê-los. Sinto que isso é fundamental para podermos resolver os problemas da população. O que prometi a mim mesmo é que iria reservar mais tempo neste mandato para estar na rua. Estou a procurar fazê-lo.

Está a conseguir?
Melhor que no mandato passado, mas ainda assim não o suficiente, tenho essa noção. As dificuldades são grandes, pois gosto de conhecer bem os dossiers, de ler o que assino para tomar sempre uma decisão em consciência com a certeza de que estou a fazer o melhor pelo concelho.

ORGULHO PELO TRABALHO DURANTE A PANDEMIA
De que mais se orgulha de ter feito desde que é autarca em funções executivas?
O meu mandato anterior ficará sempre marcado pela pandemia e espero mudar isso. Tenho enorme orgulho no trabalho realizado na Câmara pela minha equipa, pelos funcionários, mas também pelas associações e até pela sociedade civil, sempre com o objetivo de proteger os lagoenses. Quando olhamos para trás, vemos o que fizemos e os resultados obtidos, só podemos estar orgulhosos.

Qual a decisão mais difícil que tomou?
Foram várias, mas uma das mais difíceis foi cancelar a FATACIL 2020, sobretudo depois do sucesso que tinha sido a de 2019, que foi mesmo a melhor de sempre e os números provaram isso. A feira é um projeto que envolve toda a comunidade lagoense e é a nossa grande montra.

Qual foi o momento mais difícil que teve enquanto presidente de Câmara?
Durante a pandemia houve vários, pois tínhamos de escolher o caminho a seguir. Mandar os funcionários para casa, mas garantir os serviços de atendimento aos cidadãos. A pandemia trouxe-nos inúmeras encruzilhadas e tínhamos quase todos os dias de tomar novas decisões. Foram tempos de muita incerteza.

E o mais feliz?
Curiosamente o momento mais feliz é um pormenor. Tive já vários momentos de realização na Câmara, em que recebemos o reconhecimento das pessoas, quando chego a um pavilhão desportivo e o vejo cheio, ou quando oiço elogios de muitos visitantes ao nosso concelho. Mas houve um momento que me marcou pessoalmente e que partilho agora. Aconteceu na quarta-feira a seguir às últimas eleições autárquicas, a 29 de setembro, quando fizemos a primeira sessão de hipoterapia para crianças com dificuldades cognitivas no picadeiro da FATACIL. A felicidade que vi e senti no rosto daquelas crianças tocou-me bastante, até chorei naquele dia. Aquele momento fez-me ver que valeu a pena todo o sofrimento e os períodos difíceis que vivi na campanha eleitoral de 2021. O concretizar deste projeto e o proporcionar aquelas sessões às crianças foi um dos momentos mais reconfortantes que tive na minha vida de autarca.

Que lhe pedem ou lhe dizem as pessoas na rua?
Que Lagoa é um concelho fantástico para viver e que têm orgulho de cá estar e isso dá-me força para continuar a tornar o concelho cada vez melhor.

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