Macário Correia: “Voltar à política ativa é impensável” 

Texto: Rui Pires Santos e José Manuel Oliveira | Foto: Algarve Vivo


Longe da política ativa, Macário Correia, 65 anos, dedica-se atualmente à produção de laranjas e alfarrobas, além de dirigir algumas instituições sociais. Afasta a ideia de se candidatar a quaisquer eleições, pois entende que já fez o que tinha de fazer nesta atividade. Em grande entrevista à Algarve Vivo, o ex-autarca fala de tudo: do PSD Algarve, aponta críticas aos ‘novos políticos’, recorda o caos que encontrou na Câmara de Faro e lamenta a dificuldade das pessoas em falar com a atual presidente da Câmara Municipal de Tavira.

Venceu, em 2021, as eleições autárquicas para a Assembleia Municipal de Tavira, sem maioria. Porque não tomou posse?
Nas eleições locais há três boletins: o da Junta de Freguesia, o da Assembleia Municipal e o da Câmara. Na Junta de Freguesia e na Câmara Municipal é eleito presidente o cidadão mais votado. Na Assembleia Municipal, o cidadão mais votado tem de bater palmas ao que perdeu as eleições contra ele. Acho que é uma coisa que não faz sentido. Tenho todo o gosto em ter vencido as eleições, mas de facto ia tomar posse para não ser presidente [por não ter a maioria]. E ser um no meio de trinta, não valeria a pena estar a gastar o meu latim, porque o espaço de intervenção que teria seria reduzido. Teria muito gosto em ter sido presidente da Assembleia Municipal de Tavira.

A sua candidatura autárquica foi, na altura, um regresso à política após um período de afastamento?
Não. Não estou na política ativa, nem quero vir a estar. Ser presidente de uma Assembleia Municipal, participar em cinco reuniões por ano não altera o meu quadro de vida.

Admite regressar?
Não! Tenho 30 anos de vida política ativa, 24 horas por dia, desempenhei funções em todos os espaços do poder, desde o Governo ao Parlamento, a Câmaras Municipais, empresas públicas, privadas. Orgulho-me disso. E tenho disso o meu contributo para aquilo que é o bem público e o espaço de afirmação coletiva. Neste momento, aquilo que faço são algumas consultadorias e estou envolvido em projetos de natureza social e agrícola. Não deixo de ter interesse pela política, que sigo com muita atenção. Participo ativamente na área social, sou presidente de um centro social, dirigente nacional da Confederação das Instituições Particulares de Solidariedade Social. Recentemente, assumi funções de presidente do Conselho Fiscal de um grupo de estudos de ordenamento do território e ambiente. Estas participações cívicas satisfazem-me. Agora, voltar à política ativa, é impensável. Já fiz a minha parte. Quero tratar do meu património, aquilo que herdei da minha família, preparar o futuro dos meus filhos.

E ter uma participação mais ativa no PSD, nomeadamente ao nível do Algarve?
Não sinto essa necessidade. Já fui no PSD/Algarve, presidente da Assembleia Distrital, presidente do Conselho de Jurisdição. A nível nacional, fui vice-presidente, fui membro do Conselho Nacional. Ou seja, tenho um percurso dentro do partido que me permite saber como funcionam todos os órgãos. Não preciso de nenhum cargo no PSD, nem no Algarve, nem em Tavira, nem em lado nenhum. Quando quero dar o meu contributo, dou. Fui mandatário nas eleições legislativas, tenho sido colaborante, pontualmente, quando me pedem aqui e acolá, mas voltar a ter cargos partidários, não.

E se o partido lhe pedir, estará disponível em eleições futuras?
Não. Já fui convidado nos últimos atos eleitorais para vários cargos que não aceitei. Agora, quando me pedem colaboração pontual para participar num colóquio, numa palestra, numa campanha, numa lista não executiva, ou numa comissão de honra, esses cargos que não impliquem exercício permanente ou executivo, aceito. As pessoas não devem prender-se à política de uma forma obsessiva. Felizmente sei fazer outras coisas e tenho a vida ocupada. É bom que os políticos saibam fazer alguma coisa além da política, senão ficam dependentes, tornam-se incómodos, andam à cotovelada uns com os outros para não perderem o lugarinho.

Ficou saturado da política?
Não é saturação. É saber fazer outras coisas e saber sair. Há pessoas que não têm profissão, não têm retaguarda. Andaram nos ‘jotinhas’ [juventudes partidárias], dos ‘jotinhas’ passaram aos ‘tachinhos’ partidários, depois andam aqui e acolá a ver o que é que arranjam. Não sabem fazer mais nada. Não têm vida atrás disso.

Há muitos no Algarve nessa situação no seu partido?
Poucos. Mas ao nível dos circuitos de Lisboa há mais. Há gente que nem sequer fez cursos superiores, envolveu-se nos ‘tachinhos’ das jotas dos partidos. E depois ficam dependentes do partido para sobreviver, porque não são capazes de ter vida lá fora.

Políticos numa frase

António Costa
Habilidoso

Luís Montenegro
Liderante

André Ventura
Não me cheira…

Cristóvão Norte
É forte

Isilda Gomes
Pôs a Câmara [Municipal de Portimão] em ordem

Rogério Bacalhau
Está gerindo

José Carlos Rolo
Vai-se aguentando

Luís Graça
Não confio nele

Vítor Aleixo
Anda à procura de um lugar que não encontra

You may also like...

Deixe um comentário