Marta Silva ‘pinta’ com fogo, criando obras de arte

Texto e foto: José Garrancho


Marta Silva é uma jovem portimonense que parece seguir a máxima latina de ‘alma sã em corpo são’, tendo o ensino de educação física como atividade principal e a pirogravura como complemento.

“Sempre dividi a minha vida entre atividades físicas e arte. Como as artes em Portugal são um caminho com poucas saídas, optei por uma licenciatura em educação física, que me permite ganhar a vida. Mas as artes sempre estiveram presentes e me ajudaram a aliviar o meu dia a dia”, conta.

Marta sempre gostou de tatuagens, o que ajudava a sua criatividade e a escolha dos temas para os seus desenhos a lápis. Como apareceu, então, a pirogravura, forma de arte pouco vista em Portugal, na sua vida?

“Lembro-me de o meu pai dizer que havia pessoas que desenhavam na madeira, com a ajuda de uma máquina, um pirógrafo. Aquilo ficou-me na cabeça e comecei a pensar que, se calhar, podia fazer algo diferente. Fui à procura do que havia, para tirar referências, mas não encontrei nada. Uns anos mais tarde, em 2020, agarrei numa máquina rudimentar que o meu pai possuía, uma das mais básicas e, logicamente, mais difícil de operar, e comecei a experimentar como ficava, qual a melhor posição da mão, qual a melhor madeira e fui aprendendo sozinha”, contou ao Portimão Jornal. Na verdade, percorremos a internet e não encontrámos muitos mais artistas de pirogravura em Portugal.

As obras de Marta Silva em exposição, vistas de longe, são autênticas fotos, com ‘nuances’ de cores, claros e escuros bem delineados, traços perfeitos. “Gosto de usar imagens. Escolho um tema e procuro várias fotos que possam ser conjugadas entre si. Faço a montagem digitalmente, retirando e adicionando detalhes, imprimindo de seguida com as dimensões com que as vou trabalhar na madeira. Depois, é só começar a queimar do modo como desejo que o trabalho final se apresente”, refere.

“Posso usar quatro modos diferentes de queimar. A máquina que primeiro usei e continuo a usar queima sempre no máximo, à mesma temperatura. Tenho outra em que posso regular a temperatura e que uso para os detalhes, para aqueles pormenores que, se foram queimados de modo errado, estragam os desenhos. Por exemplo, os olhos. Tenho bicos mais pequenos, para os detalhes, e um maior para os fundos, quando necessito de queimar bem áreas grandes, deixando-as mais escuras. Uso a ferramenta adequada ao que pretendo para aquela área”, descreve.

Marta Silva demora cerca de um mês a procurar e selecionar as imagens que pretende usar em cada trabalho. “Uso muito as redes sociais, porque temos excelentes fotógrafos que gostam de partilhar as suas coisas. Vou à procura de quem tenha esse gosto, porque há fotografias lindíssimas e fundamentais para criar obras como as minhas. Pergunto sempre se as posso usar, antes de as passar para a madeira. É um trabalho diferente, mas tenho as suas referências. Na composição e passagem à madeira, só necessito das linhas mestras, porque o resto consigo preencher na altura. Se tiver, por exemplo, uma cara e um carro, só necessito de ter esses dois elementos nos locais certos. Depois, consigo montar tudo o resto”, argumenta.
A terceira parte, a queima, demora entre um mês e mês e meio, porque só o faz nos tempos que o seu trabalho diário o permite. Em suma, Marta Silva leva quase três meses para completar cada obra de arte que nos apresenta.

O objetivo sempre foi vender para fora e até há quem compre. “Há pessoas que vêm cá, mostram interesse, mas as peças acabam por ir para fora. Os algarvios não compram muito. Agradeço imenso, quando me propõem exposições, pois os meus trabalhos são diferentes do que se faz na região. Mas aposto principalmente na divulgação nas redes sociais, onde também tenho alguns vídeos a mostrar como se faz e me permite a proximidade com os potenciais clientes. Tiram-se dúvidas e torna-se mais fácil ganhar o interesse do público”, argumenta.

Até 29 de fevereiro, Marta Silva tem uma exposição patente no Longevity Wellness Resort, junto ao Hospital Particular de Alvor.

You may also like...

Deixe um comentário