Ministério Público manda PSP de Lagos averiguar queixas sobre insegurança na zona de Stº Amaro

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Os problemas da falta de segurança arrastam-se há meses com assaltos, insultos, vandalismo e movimentações de indivíduos com aspeto suspeito nomeadamente junto a cafés e ‘snack-bares’ na zona do Mercado de Santo Amaro, tendo levado agora comerciantes e moradores a apresentarem um abaixo-assinado com mais de uma centena de subscritores. Estabelecimentos passaram a abrir mais tarde para evitar conflitos durante a madrugada e ao amanhecer. Consumo de droga até já obrigou a encerrar casas de banho públicas a partir das 15h00 naquela área da cidade de Lagos.   

José Manuel Oliveira

O Ministério Público da Comarca de Lagos vai mandar a Polícia de Segurança Pública (PSP) averiguar situações de insegurança denunciadas por comerciantes e moradores na zona de Santo Amaro, nesta cidade, na sequência de uma reunião no dia 25 de novembro na esquadra local e de um abaixo-assinado subscrito por mais de uma centena de pessoas devido a problemas, envolvendo nomeadamente suspeitos de tráfico e consumo de droga, segundo apurou o site da revista Algarve Vivo.

“A PSP até nos aconselhou a abrir o estabelecimento mais tarde para evitarmos problemas”

As queixas sobre falta de segurança arrastam-se há meses e já obrigaram, até, proprietários de cafés e ‘snack-bares’ situados em Santo Amaro a abrirem mais tarde os seus estabelecimentos, de forma a evitar confusões com indivíduos de aspeto suspeito que ‘rondam’ a zona sobretudo durante a noite até ao amanhecer, tendo chegado a invadir esplanadas e provocado barulho e distúrbios.

“Já perdemos muito dinheiro. Abríamos às 06h00 e passámos a abrir às 06h30 desde finais de junho, mas sem confiança. Inclusivamente, a PSP até nos aconselhou a abrir o estabelecimento mais tarde para evitarmos problemas. E aos domingos, quando poderíamos fazer mais negócio, passámos a encerrar por estarmos sujeitos até a ser agredidos”, lamentou à Algarve Vivo Alberto Costa, dono do Café Cantina, acrescentando que aparecem “indivíduos com mau aspeto que nem são de cá, contribuindo para um ambiente de insegurança”.

Em várias situações teve de chamar a PSP. “Em junho, uma mulher com cerca de 50 anos, que ao que sei trabalha em Inglaterra e terá problemas por droga, chegou aqui pelas 08h30 e começou a insultar-nos porque lhe recusámos servir uma cerveja, uma vez que, como de resto determina a legislação, ela aparentava estar em estado de embriaguez e com anomalias psíquicas. Acabou por se ir embora, mas voltou. Tornámos a chamar a polícia. A mulher insultou-nos com ‘palavrões’, dirigindo-os também aos agentes da autoridade”, contou Alberto Costa. E por vezes, queixou-se, “a PSP demora algum tempo a chegar, o que permite aos desordeiros irem-se embora” sem serem levados para a esquadra e identificados. “Há casos em que lhes digo que vou chamar a polícia e eles até respondem: «chame, chame!», dando a ideia de já nem sequer terem medo das autoridades”.

É preciso “mais policiamento, mais vigilância”

Também por recusar servir bebidas alcoólicas a indivíduos que aparentavam estar embriagados, aquele empresário e a sua mulher, que trabalha com ele, tiveram de enfrentar problemas no estabelecimento. “Insultavam-nos e metiam-se com clientes. Estes acabaram por se ir embora. Estas situações afastam clientes e estou a perder dinheiro”, sublinhou. E reforçando o seu sentimento de insegurança, o proprietário do Café Cantina, localizado junto ao Mercado de Santo Amaro, só pede “mais policiamento, mais vigilância, pois esta é uma zona de risco”.

“Há anos, quando chegava às 05h00 da madrugada ao estabelecimento com a minha mulher para começarmos a confecionar bolos e a preparar pequenos-almoços à espera dos clientes que iam trabalhar, via carros da polícia a passar nesta zona. Agora, não vejo nenhum nem às 05h00 nem às 06h00, pouco antes de abrirmos”, observou. E insistiu: “Sinto muita insegurança nesta zona da cidade de Lagos, onde os comerciantes vivem o dia-a-dia com medo”.

Casas de banho públicas fechadas a partir das 15h00 por causa dos toxicodependentes

Proprietários de outros estabelecimentos em Santo Amaro juntam-se às críticas. Um deles, que preferiu o anonimato, disse à Algarve Vivo: “Noto falta de policiamento, nomeadamente agentes em rondas a pé. Há clientes de casas comerciais, que depois das 18h00 até nos pedem para os acompanhar ao multibanco instalado a um canto junto ao Mercado Municipal, com receio de serem assaltados. De resto, uma senhora já foi alvo de roubo nesta zona ao levantar dinheiro. À noite, há problemas de iluminação. As casas de banho públicas aqui existentes estão fechadas a partir das 15h00 porque a Câmara de Lagos alega não existirem condições de segurança para as manter abertas, devido a toxicodependentes. Por outro lado, nunca se sabe quando surge por aí numa bicicleta nos passeios e junto aos estabelecimentos, correndo o risco de alguém ser atropelado como já aconteceu nesta cidade. As bicicletas a circular em zonas proibidas para o efeito são, neste momento, o maior flagelo de Lagos e os seus condutores ainda se riem. Ninguém se preocupa com isto”, alertou, revoltado, o comerciante.

“A Junta de Freguesia foi ignorada, ninguém se queixou”, lamenta o presidente Carlos Saúde

Já em relação ao abaixo-assinado subscrito por mais de uma centena de pessoas e enviado à PSP de Lagos, entre outras entidades, reconheceu, tal como outros comerciantes, que “assinámos e não lemos” o conteúdo, que “só mais tarde vimos que criticava de uma forma agressiva a polícia”.

O presidente da agora denominada Junta de Freguesia de São Gonçalo de Lagos, Carlos Saúde, pensa, como referiu ao site da revista Algarve Vivo, que “o Ministério Público está a averiguar” as queixas de moradores e comerciantes na zona de Santo Amaro. Mas salientou o facto de as pessoas que subscreveram o abaixo-assinado “não se reverem no mesmo por ofensas à polícia”. E aproveitou para lamentar não ter tomado conhecimento pela população do documento entregue na PSP. “A Junta de Freguesia foi ignorada, ninguém se queixou”, notou o autarca, acrescentando que o abaixo-assinado “não reflete” o dia-a-dia naquela zona da cidade.

Três detidos e apreendidas 300 doses de heroína e 80 de cocaína

Entretanto, a 20 de novembro, um comunicado de imprensa do Comando Distrital de Faro da PSP, revelou que, no dia anterior, foram detidos em Lagos três suspeitos, de 32, 33 e 39 anos, “numa operação de combate ao tráfico de produtos estupefacientes”. Dois deles, os mais jovens, “encontravam-se já referenciados por se dedicarem à distribuição” de droga.

No decurso da intervenção policial, “foi efetuada uma busca domiciliária, visando a residência partilhada por ambos, da qual resultou a detenção dos suspeitos e a apreensão de 300 doses individuais de heroína, 80 doses individuais de cocaína, 450 euros, uma balança de precisão, quatro telemóveis e outros objetos relacionados com o crime em causa”. Foi, ainda, identificado o suspeito de 39 anos, que tinha pendente um mandato de detenção para cumprimento de pena de prisão. Por esse motivo, foi conduzido ao Estabelecimento Prisional de Silves.

De acordo com informações recolhidas por Algarve Vivo, os três indivíduos são de nacionalidade brasileira e viviam num apartamento situado no centro da cidade de Lagos.

Mas as queixas de comerciantes e residentes na zona de Santo Amaro sobre insegurança não ficam por aqui. Num supermercado, uma funcionária disse que “por vezes juntam-se à tarde junto às botijas instaladas no exterior do estabelecimento e respondem mal quando estão alterados”. Mas, adiantou, “não houve até ao momento qualquer assalto”.

Idosa de 71 anos assaltada de manhã ao sair de casa e lançada ao chão

O mesmo já não pode dizer Maria Amores, de 71 anos, residente naquela zona, que no dia 17 de abril, pelas 11h00, pouco depois de ter saído de casa, foi surpreendida por um conhecido consumidor de droga que a empurrou perto de umas escadas com acesso a uma outra rua. “Atirou-me ao chão e gritei a pedir socorro, agarrada à minha mala. O meu telemóvel até rebentou. Um rapaz veio em meu auxílio e foi atrás do assaltante que só dizia: «quero é dinheiro!», recordou a vítima ao site da Algarve Vivo.

Foi levada para o Hospital de Lagos e submetida a vários exames, tendo mais tarde sido observada na Unidade de Portimão do Centro Hospitalar do Algarve e sujeita a exames periciais. Apesar do sucedido, não apresentou queixa na PSP de Lagos.

“Lagos corre o risco de se tornar pior do que Quarteira devido ao tráfico de droga”

O indivíduo, de 34 anos, acabou por ser detido por agentes daquela força de segurança no dia 23 de maio – encontrando-se a aguardar julgamento em prisão preventiva na cadeia de Silves – após ter assaltado na véspera, pelas 15h00, uma papelaria situada a poucos metros do Mercado de Santo Amaro, em Lagos, onde com uma faca obrigou a funcionária, que se encontrava sozinha, a entregar-lhe todo o dinheiro da caixa registadora, num total de cerca de setecentos euros. Depois, levou a senhora para a casa de banho, onde ficou fechada.

Quando a PSP o deteve, já não tinha o dinheiro, presumivelmente gasto no consumo de estupefacientes.

“Lagos corre o risco de se tornar pior do que Quarteira devido ao tráfico de droga”, avisam moradores e comerciantes, numa altura em que cresce o sentimento de insegurança nesta cidade do barlavento algarvio.

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