Natação LAC: “Estamos a juntar todas as peças para que o sucesso seja natural”

Texto: Hélio Nascimento | Fotos: Ana Sofia Varela, in Lagoa Informa º187


Guilherme Sá acaba de iniciar a terceira época como coordenador da natação do Lagoa Académico Clube (LAC) e continua entusiasmado e satisfeito com tudo o que o rodeia, desde a estrutura aos atletas. O trabalho desenvolvido, aliás, permitiu alcançar resultados nunca antes conseguidos. “Fazendo um balanço das duas últimas temporadas, aquilo que mais me surpreende é o quanto conseguimos crescer, tanto a nível da quantidade de nadadores como da qualidade dos resultados”, afirma o responsável, à conversa com o Lagoa Informa, após mais uma manhã de treinos. 

“Não são resultados de grandíssimo destaque em termos nacionais, atenção, mas já temos miúdos a fixarem-se nos top-5 e top-10 e evoluímos muito na natação pura a nível regional. Criámos muita coisa boa, sempre a melhorar, bloco a bloco, conquistando vários pódios, batendo recordes do clube e alcançando até um recorde regional”, explica Guilherme Sá, enfatizando a estabilidade e o crescimento da secção, em todos os escalões (cadetes, infantis, juvenis, juniores e seniores) e em todas as distâncias competitivas, dos 50 aos 1500 metros. “Estamos no bom rumo e superámos as expetativas, o que até a mim me deixou admirado”. 

Fora da piscina, o LAC experimentou as competições de águas abertas e as boas sensações deixam antever um futuro risonho e promissor. “Não havia muita cultura e fazia-se apenas umas provas de mar no Algarve. Há duas épocas participámos pela primeira vez no Circuito Nacional, com um nadador, e no último já levámos nove, incluindo dois masters, que, aliás, competiram em quase todas as 12 provas do ano”. Para a classificação final, note-se, é preciso participar em, pelo menos, oito dessas provas. 

Grande domínio no Circuito Regional 
“Vamos ter três ou quatro pódios a nível nacional”, regozija-se o técnico, numa altura em que falta cumprir uma só jornada do calendário. Depois, falando do Circuito Regional de Águas Abertas, o saldo é de ‘arrasar’, até porque foi a primeira vez que o LAC participou em todas as sete provas deste circuito.

“Ganhámos em todas as vertentes, dos mais jovens aos mais de 20 anos”, assinala Guilherme, num registo que se estende à equipa de natação adaptada e aos masters, classes em que o domínio foi total.

 
Para este “pleno do LAC” é fundamental o trabalho minucioso e aturado dos últimos tempos. “Em conjunto com o Município tempos otimizado o espaço, porque uma piscina de 25 metros com seis pistas não é o ideal para a competição”, diz o coordenador, sabendo, porém, que época após época tudo tem melhorado. “Já temos um preparador físico, que também colabora com o polo aquático e o andebol, num lugar específico, e está em andamento a criação de mais componentes para a área técnica, como a fisioterapia e a nutrição”.

Guilherme Sá, sempre muito explícito nos comentários e nas explicações, sublinha que “estamos a juntar todas as peças para que o sucesso surja de forma natural”, adiantando que “há mais coisas pensadas, mas tudo tem o seu tempo”. Esta planificação é fruto da experiência adquirida no Centro de Alto Rendimento de Rio Maior, agora implementada em Lagoa. “Todos os jovens têm talento, uns mais do que os outros, e importa é criar condições para que esse talento possa desabrochar”. 

Foto: CM Lagoa

Aumentar a base da pirâmide
Ainda num processo de finalizar inscrições, a natação do LAC tem 40 atletas na competição, 20 nos masters (categoria para atletas acima dos 25 anos) e três na natação adaptada. Na Escola de Natação “temos mais alunos e queremos aumentar a base da pirâmide, arranjando a melhor forma de ligação para fazer a ponte entre a escola e o clube”, uma experiência que tem tudo para correr bem, num processo que está agora mais estabilizado. 

Neste sentido, a treinadora Anabela Ramos é a responsável pela classe mais velha na escola e pela mais nova na competição, que evoluem no mesmo horário e com igual número de sessões, para que “a transição seja mais fácil e possa facilitar a vida aos atletas e aos seus pais”. Também Paulo Sousa, o técnico da natação adaptada, é responsável pelo nível mais elevado da escola, contribuindo para ajudar a identificar os alunos que têm mais jeito para a competição. “Seja como for, há sempre alternativas para quem não quer competir. Damos oportunidade a todos”. 

Totalmente adaptado a Lagoa e em “constante organização para melhorar a eficácia”, Guilherme Sá, 30 anos, deixa um sincero reconhecimento a toda a estrutura que tem à sua volta: direção do clube, direção da piscina e colegas. “Tive sorte, também, com o grupo de miúdos com quem trabalho. São dedicados, têm paciência para mim e eu para eles”, vinca o licenciado e mestre em treino desportivo de natação, que quer dar mais valências à sua formação, nomeadamente com o curso de nível 3 da federação (“não tirei antes porque não tinha capacidade financeira”) e com o possível doutoramento na área de treino.  

Os treinos às seis da manhã
Para atingir um bom nível é sempre preciso muito treino e no LAC há treinos às seis da manhã! É mesmo assim. “Durante a fase em que os horários escolares estavam desfasados, tínhamos treinos entre as oito e as dez horas, para um grupo, e a partir das 15h00, para outro grupo, o que permitia um trabalho de qualidade. Agora, tendo os alunos as manhãs preenchidas com aulas, a solução é começar de madrugada, caso dos mais velhos, que têm objetivos e nível competitivo. Tudo isto obriga a enorme logística, onde se engloba o estudo e o descanso. Um horário assim não é incomum e os exemplos dizem que continuam a ser bons estudantes, sempre com o apoio dos pais, que é fundamental”. 

Na piscina de Lagoa, há dois treinos por semana às seis da manhã e todos os restantes durante a tarde. “Tem de existir um equilíbrio, caso contrário o treino excessivo pode fazer baixar a motivação e não é isso que queremos”, alerta Guilherme Sá. “Passinho a passinho, sem exageros, vamos à procura dos objetivos pretendidos”. 

Os nadadores do LAC, na sequência de um propósito do seu coordenador, tiveram experiências novas, caso de um estágio no Centro de Estágio de Rio Maior, onde evoluíram com atletas olímpicos e campeões da Europa, numa preparação com um grupo de alto rendimento e com um treinador olímpico. Houve também miniestágios em águas abertas, em Montargil, e uma primeira experiência internacional, num ‘meeting’ em Espanha, onde o LAC conquistou um troféu e um pódio.

 Para o ano já está marcado um novo estágio em Rio Maior e “queremos também voltar a Espanha e ainda efetuar outro estágio, num formato ainda por decidir”, opina Guilherme Sá, alertando, no entanto, que mais saídas implicam maiores custos e é preciso fazer contas. “Veja que um bom fato de competição pode custar entre 300 e 400 euros…”. 

Pódios, títulos e recordes 
Os atletas do LAC fazem natação pura e também competem em águas abertas, mas essa transição da piscina para o mar “é fácil”, assegura o responsável. “Requer algum trabalho específico, claro, mas não é assim tão diferente, sobretudo quem nada 1500 metros na piscina e 5000 em águas abertas. Os especialistas nesta vertente, que são de topo, treinam sempre em piscina. Aqui temos alguma facilidade, com o mar sempre perto, e a barragem do Arade, em Silves, oferece excelentes condições. Mas a base do trabalho é feita na piscina, onde estou mais perto deles, com melhor controlo. No mar há ventos, correntes, variáveis que não conseguimos prever, e nós, técnicos, gostamos de controlar tudo”. 

Perspetivando o que aí vem, Guilherme Sá confessa que “a nível da natação pura gostava de aumentar o número de atletas nos Campeonatos Nacionais”, nos juvenis, juniores e seniores, com o olho na equipa de estafetas juvenil, “com quatro rapazes da mesma idade, que trabalham muito e bem”. Nas águas abertas, “já com mais experiência e quantidade de treino, queria aumentar o número de pódios no Circuito Nacional, mas a concorrência é forte”. 

Nesta vertente, Maria Luiz e Gonçalo Bárbara têm pódios à mão de semear, mas o número de títulos regionais, em termos gerais, é deveras significativo. “Conquistámos cerca de 250 pódios nas provas regionais e perto de duas centenas de títulos. Batemos 174 recordes do clube e alcançámos um máximo regional nos 1500 metros, pela Margarida Luiz”, sintetiza o coordenador, aludindo ainda aos top-5 e top-10 em algumas distâncias. “São bons indicadores”, conclui.  

Maria Luiz e a paixão pelas águas abertas   

Maria Luiz tem 15 anos, frequenta o 11º ano da área de Ciências e pratica natação há quatro anos, sempre no LAC. No entender de Guilherme Sá, é forte nas longas distâncias e tem mostrado grande evolução na natação pura (é recordista do clube) e em águas abertas, onde conquistou o título de vice-campeã nacional na prova de cinco quilómetros e ocupa lugares de pódio nos circuitos regional e nacional. “Gosto mais de nadar em águas abertas, que é uma paixão recente”, assume a jovem, considerando que são corridas “mais entretidas” e nas quais há maior convívio entre as atletas. Maria Luiz consegue conciliar desporto e estudo, embora seja complicado, pelo que “cada momento livre tem de ser aproveitado para estudar”. Nos próximos três anos vai continuar a dedicar-se à natação, “depois logo se vê”. Certos são os objetivos para a nova época: ser campeã nacional nos 5km, alcançar muitos pódios e, na natação pura, alcançar mínimos para os Nacionais. Em relação aos estilos, gosta de crawl e costas, está a evoluir em mariposa e “sou péssima a bruços”, confessa, com uma gargalhada.        

Mariana Santos é a pioneira que inspira os mais novos

Mariana Santos foi a primeira nadadora do LAC a completar o Circuito Nacional de Águas Abertas, obtendo o sexto lugar absoluto e o quarto no escalão. Foi também a primeira a nadar os 10km, venceu o Regional absoluto e tem somado pódios. Recordista no LAC, foi medalhada em Espanha e “é catalisadora dos mais novos para as águas abertas e até responsável pelo aumento de praticantes”, como reconhece o seu técnico e coordenador. Nada desde os seis anos, tem 18 e vai cursar design na faculdade, mas não para já. “Resolvi fazer uma pausa este ano nos estudos, para apostar forte na natação. O que prefiro? As águas abertas, que é um outro mundo, sempre com provas diferentes, pessoas novas e boas experiências.

Na piscina só vejo azulejos”, graceja. Sempre habituada a estar na água, Mariana não se vê a trocar a natação por outra modalidade, e, sendo das mais antigas, destaca a mudança dos últimos tempos, elogiando o trabalho de Guilherme Sá. “Tem sido bastante gratificante. Levou-me a acreditar em coisas que não tinha descoberto, que são boas para mim e para a equipa”. Melhorar em águas abertas e na piscina, disputar os Nacionais e ir a meetings lá fora são alguns dos seus desejos a curto prazo, pelo que está disposta a sacrifícios, incluindo treinar às seis da manhã. “Custa muito levantar, mas consigo!”. 

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