O jiu-jitsu veio para ficar e já encanta os portimonenses
Texto: Hélio Nascimento | Fotos: D.R.
O jiu-jitsu é uma ‘arte suave’ de origem supostamente japonesa, que consiste em princípios de autodefesa, baseada em alavancas, chaves e imobilizações, com o principal objetivo de vencer o adversário através da técnica. A luta é efetuada sobretudo no chão, não existindo pontapés, socos ou joelhadas.
Depois desta breve apresentação, convém dizer desde já que a modalidade está em franca expansão no concelho – e um pouco por todo o país, Algarve incluído – e o melhor exemplo é dado pelo clube ‘Five Elements’, sediado no Centro de Treinos de Portimão, na zona industrial da Coca Maravilhas, onde, sob a direção de José Pedro Braz, evoluem cem praticantes, entre miúdos e adultos. O crescimento do jiu-jitsu conheceu maior expressão após a pandemia e depressa conquistou e encantou os portimonenses.
“O convite surgiu por parte do André Reis, quando fez o primeiro centro de treinos, que funcionava nos Três Bicos. Eu dava aulas e tinha uma escola em Lagoa, ao mesmo tempo que procurava expandir a modalidade em Portimão”, explica José Pedro Braz. “Através de amigos em comum, que fizeram a recomendação, uma vez que o meu trabalho era de longa data, o André resolveu apostar e reconheceu que eu era pessoa certa para começar”, prossegue o treinador.
Esta ‘associação’ de boas vontades arrancou em 2014 e adquiriu ampla notoriedade em 2017, com a criação do Centro de Treinos. “A evolução tem sido bastante positiva, fruto de um franco crescimento, à exceção do período da pandemia, em que, como sabemos, até houve proibição da prática de várias modalidades”.
A maior taxa de crescimento mundial dos últimos anos
A emigração brasileira contribuiu para esta expansão, vinca o professor, aludindo ao facto de o jiu-jitsu ser uma modalidade enraizada e familiarizada do lado de lá do Atlântico, onde diversos atletas possuíam já uma larga experiência. “Agora, na nossa escola, temos portugueses, brasileiros, russos, ucranianos, moldavos, enfim, uma mistura de diferentes nacionalidades e mentalidades, mas em que todos procuram o mesmo, querendo aprofundar o seu conhecimento pela modalidade, que, a nível de combate, tem a maior taxa de crescimento mundial dos últimos anos. E é acessível a todos”.
José Pedro Braz enfatiza a questão, afirmando que os atletas do leste estão habituados desde tenra idade a desportos de combate, ao passo que os brasileiros “são vistos como heróis nacionais quando ganham uma prova de MMA (artes marciais mistas)”. Daí que a prática por cá se designe por jiu-jitsu brasileiro, a vertente que Jigoro Kano, o ‘pai do judo’, desenvolveu com toda a propriedade, enviando emissários pelo mundo fora, para espalharem a arte.
Quando os emissários japoneses chegaram ao Brasil o sucesso não demorou. A cultura e a vontade dos brasileiros levaram a que o jiu-jitsu não conhecesse tantas barreiras como o judo, que, então, queria ser modalidade integrante nos Jogos Olímpicos. “O desenvolvimento foi imediato e espetacular e este desporto passou a ser dos mais praticados, apesar da existência de muitos estilos de artes marciais, como capoeira, judo, karaté e outros”.
José Pedro Braz, na circunstância, sempre se dedicou ao denominado jiu-jitsu brasileiro. “Comecei em Lisboa, com Royce Gracie, embaixador da famosa dinastia dos Gracie, que tornaram o jiu-jitsu conhecido e o transportaram para o mundo ocidental, com um ponto alto em 1993, quando se realizou o primeiro evento de artes marciais mistas. O mundo ficou espantado quando ele, um indivíduo absolutamente normal, venceu adversários bem maiores e mais corpulentos com a técnica do jiu-jitsu”.
A forma inteligente de imobilizar o adversário
O nosso anfitrião nasceu em Portimão e vive agora em Silves, na sequência de um trajeto de vida que o levou a Lisboa, onde cursou arquitetura e trabalhou no ramo, até à prática e depois ensino da modalidade. Tem 46 anos e, além de arquiteto, já foi personal trainer, mas agora é professor de jiu-jitsu a tempo inteiro.
O seu clube, o ‘Five Elements’ de Portimão, agrega cerca de 60 adultos e 40 crianças, estas com idades compreendidas entre os 4 e os 7 e os 8 e 12 anos. “Só dou aulas aqui. O número é considerável e tem vindo sempre a aumentar, apesar da escolha ser múltipla”. O Portimão Jornal, de resto, já efetuou outras reportagens no Centro de Treinos e confirma a ideia, pois existem várias modalidades ao dispor dos interessados.
Porque é que o jiu-jitsu, então, atrai tanta gente? “Tem filosofia própria, em especial pela natureza da arte, quase praticada só no chão, não havendo batimentos na cabeça ou pontapés no corpo. O que sobressai é a forma inteligente de imobilizar o adversário, finalizando com uma chave de braço ou um estrangulamento”, explica José Pedro Braz.
O código de honra entre os praticantes, saliente-se, impede que haja lesões graves. “Quando está em submissão, basta o atleta bater com a mão no tapete para anunciar a sua desistência”, adianta o professor, destacando “a forma viva e real dos combates, em que ninguém se aleija nem precisa de fingir”. Para o nosso anfitrião, todas estas caraterísticas tornam a prática do jiu-jitsu “muito divertida e inteligente”, em que, usando as alavancas naturais do nosso corpo, por mais fraco e mais pequeno que seja o atleta, consegue dominar alguém mais forte e mais poderoso. É o ponto alto da ‘arte suave’, a melhor tradução de jiu-jitsu, em que, mesmo usando menos força, podes ter eficácia total.
Clubes espalhados pela região
Os treinos são diários, algumas vezes “a dobrar para os adultos”, enquanto as crianças evoluem uma vez por dia. O jiu-jitsu é aberto a todos, dos 3 aos 62 anos, e, não obstante esta idade mais avançada, “o uso eficiente das alavancas do corpo permite que mesmo em diferentes contextos a prática seja natural e a arte desenvolvida de forma efetiva e com segurança”.
Em termos de competição, o emblema portimonense pertence à Federação Portuguesa de Jiu-Jitsu brasileiro e participa em competições, sejam torneios ou Campeonatos Nacionais. Há alguns eventos em sistema ‘open’, abertos a estrangeiros, e outros só para portugueses. As provas são regionais e nacionais, estas muito ligadas a Lisboa e ao Porto, onde existem mais praticantes e maior prestígio. “Ultimamente tenho levado atletas aos Nacionais e os resultados são excelentes”, com a ressalva de que nas crianças o propósito seja fazer uma “introdução à competição de forma mais pedagógica”.
“No Algarve já há muitos clubes”, congratula-se José Pedro Braz. “Quando comecei havia o meu e pouco mais, agora somos três escolas em Portimão, mais outras em Lagos, Albufeira, Lagoa, Vilamoura, Faro, Quarteira, Tavira, Vila Real de Santo António, enfim, espalhadas por toda a região”. Entre estes muitos clubes surge o ‘Five Elements’, em que José Pedro Braz é um dos três fundadores, com Hélio Perdigão e Miguel Rodrigues, dispondo de locais de treino em Portimão, Faro, Alentejo, Caldas da Rainha, Cascais, Alcochete e Lisboa.
No Centro de Treinos, os alunos são maioritariamente de Portimão, mas também dos concelhos limítrofes de Silves, Lagos e Lagoa, incluindo algumas senhoras. “Gostamos de prestar este serviço às mulheres, para responderem a uma eventual agressão, mas a assimetria ainda é grande”. Sobre a denominação dos ‘cinco elementos’, vinca o professor, trata-se de “uma forma integral de ver o jiu-jitsu”, com natural destaque para a defesa pessoal, projeções, defesa contra batimentos, luta no chão e filosofia.
Aulas experimentais sem compromisso
A modalidade registou um crescimento tão grande em Portugal que é obrigatório ter curso de treinador para ensinar. “É um exemplo que poucos países têm”, refere José Pedro Braz, que, além do curso de arquitetura, é licenciado em Educação Física e Desporto, tem o curso de treinador de jiu-jitsu e de formador em pedagogia e didática. Faixa preta há dez anos, somou vários títulos de campeão nacional e alcançou um terceiro lugar no Europeu.
“O espaço começa a ficar curtinho”, aponta José Pedro Braz, aludindo ao aumento do número de praticantes. “Vamos distribuindo as aulas por vários horários, manhã, hora do almoço e final do dia, e estou a formar monitores, porque, em comum com o boxe, o jiu-jitsu é das modalidades a crescer mais”. Os alunos pagam uma mensalidade e existe uma associação oficial no Algarve, que presta apoios para deslocações, mas, no caso de Portimão, “beneficiamos do associativismo do Centro de Treinos e do trabalho do André Reis”.
“Estou otimista em termos de futuro a curto prazo, com muitas novidades a caminho. Trabalhamos para o crescimento da escola, a adesão de alunos agrada e os objetivos passam pela melhoria dos serviços para as pessoas que cá vêm, num investimento múltiplo, com realce para a pedagogia e para a formação de classes de competição. Venham experimentar, temos aulas experimentais sem compromisso, só para tomarem conhecimento. E somos muito acolhedores”, conclui o professor.