Opinião: A teoria da mão invisível
Óscar Sardinha | Mestre em etiqueta e protocolo
Os economistas são pessoas curiosas! Passam metade do tempo a fazer previsões e depois passam o resto do seu tempo a justificar porque é que erraram! Pelo caminho, os mais criativos, ainda têm tempo para formular algumas teorias interessantes que acabam por moldar o mundo. E quando acumulam a economia com a filosofia a coisa torna-se ainda mais estimulante.
Também existem aqueles que acumulam a formação académica em economia com a ganância e com estupidez natural. Como bem se compreende esta é uma espécie mais perigosa porque pode causar mais estragos.
Na categoria de economistas-filósofos ou filósofos-economistas gostaria de destacar Adam Smith, conhecido como o Cristiano Ronaldo do Iluminismo escocês, sendo também considerado por muitos como o Messi da moderna ciência económica, título que alcançou pela sua obra mais conhecida, ‘A Riqueza das nações’, datada de 1776.
Mas os títulos de Adam Smith não se ficam por aqui. A ‘Teoria da mão invisível’ granjeou-lhe também o título de Eusébio do liberalismo económico.
De acordo com esta teoria, o mercado funciona melhor em qualquer economia baseada na iniciativa privada porque, quando assim é, parece que é guiado por uma mão invisível que promove o aumento da produção, permite uma melhor circulação dos bens, melhora o comércio externo e assegura uma correta formação dos preços.
Confesso que normalmente tenho uma visão muito pragmática do mundo que me rodeia e não vou muito em cantigas relativamente a doutrinas esotéricas alicerçadas nos saberes sobrenaturais. No entanto, esta ideia de haver uma mão invisível que, como que por magia, leva a nau a bom porto é tentadora, mais que não seja pela desresponsabilização de quem se esconde atrás da dita mão invisível. Ainda assim, sou mais partidário da existência de mãozinhas marotas na economia do que mãos invisíveis!
Quem acredita piamente naquela tese, encontra aqui uma explicação credível para o facto de em alturas de expansão económica as imobiliárias pulularem em cada esquina e, em tempo de crise, serem naturalmente substituídas por lojas de compra e venda de ouro. É um caso típico de vão-se os anéis e ficam os dedos.
O problema é que estas tiradas filosóficas acabam por ser (mal) aproveitadas pelos insaciáveis que dominam essa figura mítica denominada de ‘mercados’, transformando-as em algo destinado a favorecer os mais ricos e em deixar os mais pobres na sujeição da roleta da sorte e do azar ou à discricionariedade da caridade privada como orgulhosamente defendia Edmund Burke.
Na categoria de pessoas que acumulam a formação académica em economia com a ganância e com a estupidez natural, assim de repente, vem-me à memória, nem mais nem menos que o autoproclamado líder da maior potência do mundo livre, famoso pregador e praticante desta filosofia de vida, o qual, felizmente, salvo uma mãozinha marota invisível de última hora, em janeiro vai com os porcos!
A propósito de Donald Trump, a imprensa trata-o como ‘o fenómeno Trump’. Quanto a mim a pergunta que se impõe é: quem é o fenómeno, o Trump ou os americanos? É que uma coisa é um cromo querer ser presidente (cá em Portugal dava para encher uma caderneta); outra coisa é o cromo ser eleito; outra coisa ainda é o cromo apresentar uma recandidatura; e, finalmente, coisa diferente é o cromo ser reeleito!
A realidade é que houve mais de 70 milhões disponíveis para reeleger o cromo, tornando-o no segundo presidente dos Estados Unidos mais votado de sempre! Felizmente o presidente mais votado de sempre concorreu nas mesmas eleições.
Seria fastidioso enumerar as aberrações geradas por este senhor, mas a última imagem que fica é de alguém que se julga acima de tudo e de todos, a jogar golfe de forma tranquila enquanto põe em causa o sistema democrático dos EUA! E, como se isso não bastasse, com o maior desplante do mundo, pede apoio financeiro aos seus apoiantes para pagar as ações judiciais que, supostamente, lhe irão devolver a presidência do país!
Sinceramente, o que me choca não é ele pedir. Já demonstrou no passado que a desfaçatez e a falta de vergonha não têm limites. O problema é que há quem continue a ir na conversa, e esses sim, é que são um fenómeno difícil de explicar!
É caso para dizer que um pontapé no fundo das costas em todos eles, de preferência bem visível, ainda era pouco!