Opinião Agir| Tolerância ou Intolerância

Nelson Santos


Quando acontecem situações a que não estamos habituados, como a que estamos a viver de pandemia, isso permite-nos melhor perceber o estado em que nos encontramos em diversas vertentes da nossa vida em sociedade.

Segundo a minha forma de analisar a intolerância, esta pode ser “boa ou má”, ou seja: Pode ser boa e contribuir para avanços positivos ou má e ser ela própria um fator de atrasos e retrocessos. Dando alguns exemplos, a intolerância é boa quando as pessoas não permitem que se cometam injustiças contra outras pessoas, venham elas de instituições, de empresas ou de pessoas mal-intencionadas; Ela é boa também quando as pessoas optam por não tolerar que alguns se apoderem do que lhes não pertence e que é de toda a comunidade, utilizando estratagemas indignos e intoleráveis portanto; Ela é ainda boa quando as pessoas ganham coragem de se associar, de se unir, de se juntar, percebendo finalmente que não mais devem tolerar que a sua desunião permita o cometimento de atos lesivos ou atentados sobre o que é de todos, por parte daqueles que sempre procuram aproveitar-se da tolerância dos demais.

É certo que poderia continuar dando exemplos, seja ao nível político, económico ou comportamental sobre a “intolerância boa e construtiva”, mas para além do espaço não o permitir, também entendo que o tema não se esgotará e que mais oportunidades virão para se falar e escrever sobre ele.

Falemos então um pouco sobre a “intolerância má ou negativa”, ou seja: Partindo do princípio que a tolerância ou intolerância têm sempre como origem e veículo as pessoas e os seus comportamentos, também é claro que são os nossos atos e atitudes, as nossas ações e reações, a forma como nos exprimimos ou reagimos que vão revelando o nosso estado sociocultural, assim como o estado geral da nossa sociedade, se não a cada momento, pelo menos a cada geração.

Esta pandemia revelou-nos também um nível de impreparação muito preocupante no que toca à tolerância entre pessoas. Disparar uns contra os outros sem perceber nem conhecer as razões de cada um, revela-nos alguma intolerância onde ela precisamente não deveria existir. A facilidade com que se aponta o dedo à mais pequena falha de outros, deveria merecer-nos algum sentido autocrítico já que, ninguém sendo perfeito, por vezes cometemos os mesmos erros que a outros criticamos.

Bem sei que quando não entendemos ou não temos respostas para as situações ou fenómenos que vivemos, é difícil definir o alvo exato da indignação ou intolerância. Mas uns contra os outros é que não pois todos somos vítimas do que está a acontecer. Temos por isso de ser capazes de nos entreajudarmos e tolerarmos, percebendo quem é o inimigo e contra ele demonstrarmos toda a nossa intolerância.

Durante este tempo de pandemia, e já lá vai mais de um ano, todos nos vimos privados das nossas organizações associativas, através das quais normalmente recebemos e damos contributos importantes para a melhoria dos nossos relacionamentos sociais e coletivos, sofrendo nós também aqui uma perda significativa.

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